A diplomata Aracy de Carvalho Guimarães Rosa nasceu no município de Rio Negro/PR em 20 de abril de 1908, e faleceu em São Paulo, no dia 28 de fevereiro de 2011. Prestou serviços no Ministério das Relações Exteriores, chefiando a Seção de Passaportes do Consulado do Brasil na Alemanha.
Aracy era poliglota (português, inglês, francês e alemão). No ano de 1938, entrou em vigor no país a circular secreta nº 1.127 restringindo a entrada dos judeus. A fim de livrar pessoas do Holocausto, ela ignorava mencionada norma, fazendo com que vistos fossem concedidos. Aracy despachava diretamente com o cônsul-geral, e, assim, colocava os documentos juntos a muitos papeis que deveriam ser assinados pelo seu superior, oportunizando que os judeus entrassem no Brasil.
Viveu o seu segundo casamento, na década de 40, com o escritor Guimarães Rosa, tendo o conhecido na Alemanha, pois ele atuava como cônsul-adjunto. À época, o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com citado país, já que passou a apoiar os Aliados da Segunda Guerra Mundial. A volta do casal para o Brasil não foi agradável, pois ficaram presos por quatro meses pelo governo alemão, até serem trocados por diplomatas daquele país.
Aracy e Guimarães Rosa se casaram no México, porquanto no Brasil não era possível o divórcio. O marido dedicou a ela a sua obra mais famosa, intitulada “Grandes Sertão: Veredas”, que trata justamente de um romance que desafia o bem e o mal. Destaco trecho conhecido do citado livro: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
A homenageada, durante o regime militar brasileiro, implantado em 1964, contribuiu para que compositores e intelectuais brasileiros fossem poupados das terríveis perseguições e torturas.
Aracy teve um pouco da sua história contada na minissérie da Rede Globo “Passaporte para a Liberdade”, onde foi mostrado o quanto ela se arriscou para ajudar pessoas a fugirem do nazismo. Pela coragem e amor à humanidade, foi agraciada com o título “Justos entre as Nações”, instituído pelo Memorial do Holocausto, como reconhecimento por tantas vidas salvas por ela. Também foi homenageada pelo Museu do Holocausto de Washington (Estados Unidos), tendo recebido o apelido de “Anjo de Hamburgo”.
Como tantas mulheres que não tiveram o nome escrito nas páginas da história, Aracy teve os seus feitos questionados. Mas, ela é uma heroína! O filho dela, Eduardo Carvalho Teff contou sobre a mãe: “Minha mãe era totalmente contrária ao nazismo e, vendo a situação dos judeus, começou a ajudá-los. Tentou salvar todos os que lhe procuravam, além de vizinhos e amigos. Não sabemos exatamente quantos foram, mas passam de cem”.
O historiador Anthony Leahy, do Instituto Memória, também discorreu sobre Aracy: “Ela acolhia alguns deles na própria residência até a hora do embarque. Subia no navio e só saia quando os visitantes eram solicitados a se retirar porque o navio iria partir. Como no Brasil não havia um filtro de quem chegava, todos conseguiram passar.”
Aracy desafiou o nazismo e a ditadura militar, colocando em risco a sua própria segurança. O seu corpo se encontra enterrado na Academia Brasileira de Letras. Audre Lorde a sintetiza: “Quando me atrevo a ser poderosa, a usar minha força ao serviço da minha visão, o medo que sinto se torna cada vez menos importante.”
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, eleita para a Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - para ocupar a Cadeira nº 29.
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