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Artigos Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025, 10:21 - A | A

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Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025, 10h:21 - A | A

ROSANA DE BARROS

Samba, suor, e o trabalho de tia Ciata

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

Por nascimento batizada como Hilária Batista de Almeida, ou apenas Tia Ciata, nasceu em Santo Amaro da Purificação/BA, no dia 13 de janeiro do ano de 1854, e fez a passagem em 10 de abril de 1924, no Rio de Janeiro.

Sambista, curandeira, mãe de santo, quituteira, e portadora de outras façanhas importantes para a história e cultura brasileira, se perfaz em um daqueles seres humanos onde sobram adjetivações.
Se na atualidade a discriminação e a intolerância religiosa são temas latentes, na era em que viveu a nossa homenageada, para se ter ideia, reuniões para difusão do samba e do Candomblé necessitavam de autorização policial. É contado que apenas o “porte” de um pandeiro já se constituía em motivo suficiente para apreensão do objeto e prisão do possuidor.

Tia Ciata enfrentou com empatia, doçura e carisma os muitos desafios de sua época, se constituindo em sinônimo de resistência com toda a sua influência. Aos 16 anos já fazia parte da irmandade da Boa Morte. Com 22 anos se mudou para o Rio de Janeiro, durante a famosa “diáspora baiana”, tendo se casado e se tornado mãe de 14 filhos.

Na residência da Mãe Ciata, na Praça do Sol, muitos encontros com sambistas aconteciam, formando um cenário propício para a propagação da cultura, do samba e das conversas políticas. Ficou conhecida como a “Matriarca do Samba”. Também se tornou mãe de santo de grande respeito bastante jovem, na região do Rio conhecida como Pequena África, que é uma área de grande concentração de negras e negros.

Para o sustento familiar, se especializou como quituteira, passando a vender as suas iguarias com toda a indumentária afro-religiosa, contando com trajes brancos, turbantes e colares. Os seus tabuleiros a fizeram uma das “tias” baianas mais respeitadas, com bolos, manjares e cocadas a adoçarem paladares e vidas.

Tia Ciata fez uma poderosa junção brasileira praticamente infalível: comida e música de qualidade. O seu jeitinho peculiar de amor é rememorado historicamente, e que se completava com o sambar “miudinho”, se tornando figura amada e popular. Inclusive, sendo uma das principais figuras do samba, contribuiu sobremaneira na consolidação do respectivo gênero musical, fazendo florescer tão grandiosa cultura.

A admirável figura está relacionada à historicidade brasileira, porquanto a sua chegada ao Rio de Janeiro ocorreu alguns anos antes do processo de abolição da escravatura no país. Resistindo a tempos conservadores ao extremo, participou de pautas criminalizadas e proibidas, fazendo eclodir o grito de liberdade.

Jornalistas, músicos, políticos, artistas, escritores e outras pessoas influentes se rendiam aos encontros festivos na casa da Mãe Ciata. É narrado que o primeiro samba gravado no Brasil denominado “Pelo Telefone”, foi composto por Dongo e Mauro de Almeida na casa dela, no ano de 1917.

Mulher negra, com tamanha expressão, religiosidade, cultura e liderança também contribuiu para o fortalecimento das favelas cariocas, disseminando a promoção da autoestima a da identidade cultural das pessoas negras.

É contado que o presidente Wenceslau Brás a chamou para tratar de uma ferida aberta em sua perna, onde os profissionais da medicina não encontraram a cura. Após esse fato, outros políticos a procuravam para o restabelecimento das enfermidades.

Tia Ciata construiu e edificou o caminho para as futuras gerações. No ano de 1983, a escola de samba Império Serrano a fez tema de samba enredo com o nome “Mãe Baiana Mãe”. É de se destacar um trecho: “Mãe, baiana mãe / Empresta o teu calor / Eu quero amanhecer no teu colo / Onde deito, durmo e rolo / E isolo a minha dor / Eu quero, quero te saudar nesta avenida / Pra valorizar a vida / Que a vida valorizou / Mãe negra, sou a tua descendência / Sinto a tua influência / No meu sangue e na cor (...)”

(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, eleita para o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, eleita para a Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - para ocupar a Cadeira nº 29.

 

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