O receio do advogado Roberto Zampieri pela própria segurança não era algo novo. É o que demonstra as mensagens do “celular bomba” expostas na decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que deflagrou a Operação Sisamens, nesta terça-feira (26).
Morto a tiros em dezembro do ano passado, Zampieri usou o celular para enviar pelo WhatsApp as mensagens “PELO AMOR DE DEUS!”, “tô agoniado” e “tô morto”.
As mensagens foram encontradas numa conversa do advogado com um amigo. Eles falavam sobre uma disputa de terras localizadas no município de Santa Terezinha. O amigo em questão é Andreson de Oliveira Gonçalves, lobista preso esta semana na Operação Sisamens, e as mensagens datam de abril de 2021.
Conforme a investigação, Andreson teria acesso privilegiado a decisões antecipadas de ministros do STJ e dessa forma, vendia sua influência para garantir decisões favoráveis. No caso das mensagens transcritas do WhatsApp do advogado pela Polícia Federal (PF) e apresentadas nos autos do STF, Zampieri apelava à Andreson para que decisão sobre as terras fosse ajustada aos seus interesses.
A petição de Zampieri sobre a disputa de terras estaria sob a relatoria da Ministra Nancy Andrighi, e solicitou a Andreson que conversasse “com sua amiga” para influenciar na decisão. Amiga essa que por sua vez, seria a servidora do STJ Waleska Bertolini Vieira Mussalem. O desespero de Zampieri pode ser conferido na transcrição das mensagens:
Zampieri: “Pode falar? Anderson, veja com sua amiga. Pelo AMOR DE DEUS!!!!!!”.
Andreson: “Já falei Zamp. Já falei hoje.”
Zampieri: “Isso é bom. Alguma novidade?”.
Andreson: “Com a Valesca”.
Zampieri: “No sistema aparece que não foi juntado ainda no processo”.
Andreson: ”Hoje falei ao damalir. Tô agoniado”.
Dois meses depois, em 24 de junho, Roberto Zampieri encaminhou um arquivo a Andreson com a decisão proferida no CC n. 178.847/MT seguido das mensagens:
Zampieri: “Opa. Agora eu To morto meu amigo”.
Zampieri: “Por favor veja com sua amiga o que tem que ser feito p ELA CORRIGIR ESSA DECISÃO, se não eu to morto meu amigo”.
Alguns dias depois, Zampieri falou a Andreson que o processo é um daqueles casos em que a questão não é financeira, “mas sim a bandidagem e o crime contra uma família”. E reforçou que não poderia perder. O lobista respondeu que organizaria com Waleska, e num áudio, disse que a assessora o informou se tratar de um “negócio grande, uma fazenda grande em Tangará”, e que “ela vai falar alguma coisa sobre valor, mas pode deixar que eu te falo”.
Depois dessa conversa, em 15 de outubro, o advogado perguntou ao lobista sobre Waleska, ao que Andreson respondeu: “Bom dia, deixa pronto os 200 ela já organizou”. Segundo informações do Conselho Nacional de Justiça, o AResp. n.1.896.587/MT foi julgado e improvido, tal como desejava o advogado Roberto Zampieri.
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