As corridas e caminhadas mensais são organizadas de forma independente, com apoio de algumas marcas, desde 2023, em percursos de 3 km e 5 km. A última reuniu 450 pessoas negras, entre crianças, adolescentes e idosos, na orla do rio Guaíba, um dos principais pontos turísticos de Porto Alegre (RS). Foi quase o dobro do último evento, realizado em agosto. A próxima edição está marcada para o dia 26 de outubro no mesmo local.
"Vários fatores explicam esse crescimento, como a popularidade crescente da corrida, a simplicidade da prática desse esporte e, principalmente, o desejo de pertencer, de se identificar e de se sentir acolhido", diz a administradora Nicole Mengue, 27 anos, coordenadora do grupo ao lado de outros quatro profissionais: o bombeiro militar Vitor Hugo Oliveira, 30 anos; o educador físico Rodrigo Peres, 31; a psicóloga Monique Machado, 30, e o diretor de criação Denison Fagundes, 40.
"O 'Corre Preto' é um espaço potente de transformação, troca e de fazer amizades. Estamos aquilombando!", completa Nicole.
O termo "aquilombar", bastante comum entre pessoas pretas, traz novos significados aos locais de refúgio de africanos escravizados e afrodescendentes durante a escravidão no País. Hoje, ele simboliza a criação de espaços de pertencimento, afetividade, acolhimento, sociabilidade e de fortalecimento da identidade cultural para a população negra.
Um dos objetivos principais do coletivo é combater o sedentarismo e reafirmar a importância da atividade física para prevenir doenças, diminuindo os índices de sedentarismo. A preocupação é mais do que necessária.
De acordo com dados do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) há uma grande discrepância entre negros e brancos na utilização dos serviços de saúde. Em praticamente todos os indicadores, a população negra tem desvantagem. Diabete, hipertensão, doença renal crônica e obesidade são alguns dos problemas de saúde mais frequentes.
A partir desse movimento, o coletivo 'Corre Preto' contribui com a representatividade e identificação da negritude, combatendo o racismo estrutural pela atividade física. "Pessoas pretas existindo e resistindo é uma forma de reparação histórica. É preciso estar vivo para dar continuidade à nossa ancestralidade e negritude", diz Monique.
(Com Agência Estado)
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