Mato Grosso possui milhares de mulheres valorosas. Neste março, homenageando a todas, apresentamos Maria Benedita Martins de Oliveira, simplesmente, para o Brasil, “dona Maria”, a mãe de 7 filhos, nascida a 1º de maio de 1921, dentre eles, o ex governador de Mato Grosso, Dante Martins de Oliveira, filha de Luiz de Arruda Martins e Francisca Figueiredo Arruda Martins. Mato Grosso possui milhares de mulheres valorosas.
Bebendo das memórias da engª Inês Martins de Oliveira Alves, uma de suas filhas, por meio de depoimento oral, constatamos que dona Maria Benedita viveu a sua primeira infância em Poconé-MT, e aos 10 anos de idade veio para Cuiabá-MT para continuar os seus estudos. Foi matriculada e, em regime de internato, em um colégio salesiano, complementou os seus estudos em ensino médio. Vinda de uma família de professores, optou por fazer a Escola Normal Pedro Celestino, em Cuiabá e, em 4 anos, foi diplomada pela escola normal, saindo preparada para ensinar aos alunos.
Maria Benedita passou a amar Cuiabá e participar do seu cotidiano que, a partir da década de 1940, no governo do interventor Júlio Muller, passou por uma evolução urbana significante, que mudou o aspecto da cidade, inclusive, com as obras oficiais. Maria testemunhou essa evolução.
Foi nesse período que Maria conheceu seu futuro marido, o jovem advogado, recém-formado pela Faculdade de Direito, do Rio de Janeiro-RJ, Sebastião de Oliveira, o dr. Paraná, casando-se em 08 de maio de 1942, sete dias após completar 21 anos de idade, constituindo uma bela família cuiabana e mato-grossense.
Dr. Paraná era natural de Santo Antônio de Leverger-MT, do lugar denominado Itaicizinho, nascido aos 21 de março de 1915. Advogado. O primeiro Procurador-geral do Tribunal de Contas de Mato Grosso – TCE-MT, com ingresso em 1954, sendo um dos seus fundadores. Filho de Bernardo Antônio de Oliveira e Alceste Ferraz de Oliveira. Seus pais foram proprietários da Usina Maravilha, que ficava em frente a Santo Antônio de Leverger-MT.
Exerceu a função de advogado nas áreas do Direito Civil, Direito Penal, Administrativo e trabalhista. Desempenhou vários cargos na administração pública, tais como: Presidente da Junta da Conciliação e Julgamento de Cuiabá, no período inicial da Justiça do Trabalho. Foi nomeado Prefeito do Município de Santo Antônio de Leverger, exercendo o cargo de 1939 a 1940. Foi Membro do Conselho penitenciário do Estado de 1º de abril de 1940 a 27 de dezembro de 1943.Exerceu o magistério como professor de Direito Processual Civil, na Escola Técnica de Comércio de Cuiabá, de 1944 a 1945, sendo exonerado por haver participado da campanha política do brigadeiro Eduardo Gomes. Foi Deputado Estadual eleito à Assembleia Estadual Constituinte, pelo partido da UDN - União Democrática Nacional, exercendo essa função no período de 20 de abril de 1947 a 31 de janeiro de 1951, em cujo partido, sempre partilhou da presença e companhia de Dona Maria. Foi membro do Conselho Diretor da OAB-MT em vários períodos, ocupando a Presidência da Seccional de Mato Grosso de 1971 a 1973.
Maria Benedita sempre o acompanhando presenciou os novos costumes e hábitos que foram “importados”, como exemplo, uma nova bebida – a Coca – Cola trazida pela gigantesca operação econômica e cultural oriunda dos Estados Unidos. Outras foram as meias finas de nylon, aparelhos de depilar, perfumes. Essas novas tendências viriam sobremaneira afetar o modo e a vida de vestir, principalmente, das mulheres que deveriam seguir os padrões europeus. Soma-se a isso a criação da Revista Violeta. Eram as mulheres acompanhando a evolução da cidade e participando do seu cotidiano, além do familiar. Maria é assim.
Na década de 60, a cidade começa a crescer em direção sudeste, influenciada pelo asfaltamento da avenida Fernando Corrêa da Costa e pela implantação da Universidade Federal - UFMT e, na década de 70 o marco oficial foi a criação do Centro Político Administrativo – CPA -, no governo José Fragelli. Nesse período, Cuiabá recebe um grande número de migrantes vindos tanto da zona rural quanto de outras cidades. Um novo ritmo é imposto.
E dona Maria acompanhou e acompanha esse crescimento, no limiar do seu centenário.Dona Maria Benedita é admiradora dos grandes oradores como, Dom Francisco de Aquino Corrêa figura ilustre mato-grossense e, que ela conheceu desde menina. Sempre lhe sobrou um tempo para se dedicar a leitura, com predileção pelos títulos dos escritores Euclides da Cunha, Machado de Assis e de biografias como a do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, Dom Aquino e, outros mato-grossenses que fizeram parte da história do estado de Mato Grosso.
Maria, católica fervorosa, ao lado de Paraná enfrentaram momentos difíceis e momentos de superações, alcançados com muita perseverança e oração, pois a família era grande e, além disso, a casa estava sempre cheia de pessoas que precisavam estudar ou se tratar por uma temporada, em Cuiabá, vindas do interior. Todos eram acolhidos na necessidade do momento e, os custos de todas essas despesas vinham da atividade principal do Dr. Paraná, ou seja, o exercício da advocacia.
Maria e Paraná tiveram Bernardo Antônio de Oliveira Neto; Yolanda de Oliveira Ribeiro; Armando Martins de Oliveira; Lúcia de Oliveira Taveira; Dante Martins de Oliveira; Inês Martins de Oliveira Alves; Eneida de Oliveira Pires. Os filhos cresceram, todos se formaram em universidades, e casados mantêm estreito relacionamento da família, cuja casa dos pais, sempre foi o ponto seguro, o ponto de união e de re (união) para comemorar conquistas e, também, para partilhar tristezas e situações mais difíceis.
Ela sempre foi forte para enfrentar os momentos de sofrimento. Assim foi o dia em que perdeu o seu filho primogênito Bernardo Martins de Oliveira, em um acidente de barco, no rio Cuiabá, aos 29 anos de idade. Casado, pai de uma menina de menos de 2 anos, e com a segunda filha, ainda, por nascer, Maria viveu seu luto em silêncio, procurando aceitar o que descreve como, a vontade de Deus. Não esmoreceu, diante da dor e do momento inesperado. Perseverou. Foram anos de dor, mas sem deixar abater-se, pois sabia que os demais filhos precisavam da sua força, Maria foi forte com ajuda fé. Seu choro foi sempre em silêncio, distante dos filhos e seu coração aos poucos, foi se recuperando, agarrada na fé e na perseverança divina.
Sempre presente na vida de um por um dos filhos, Maria acompanhou e acompanha a carreira de todos, tanto nos momentos de grande emoção, assim como, em 1984, com a vitória do recém-eleito deputado federal Dante de Oliveira que, promoveu no Brasil, o maior movimento político da sua história, ao apresentar para votação a Emenda das “Diretas Já”, uma ansiedade de todos os brasileiros.
E Maria sabia e sabe da importância desse momento para o Brasil, Mato Grosso e Cuiabá pois, em cada página da história do atual estado de Mato Grosso terá sempre um traço que denotará a passagem do líder político, seu filho Dante. Há, aqui, um divisor de águas. Um antes de Dante de Oliveira e um depois de Dante de Oliveira. Dante comportou-se de maneira distinta .... Possuía centenas de primos e milhares de amigos e admiradores. Foi um líder popular da política de Mato Grosso. Teve importância na redemocratização brasileira e o seu maior legado é a sua história.
Em 2004, Maria sofreu a separação do seu amado, dr. Paraná. Perdeu o seu companheiro de 62 anos de caminhada e parceria e, novamente, foi junto com a família, que mais uma vez se consolou. Dois anos depois, de maneira inesperada, perde o filho Dante, falecido em 06 de julho de 2006, em Cuiabá, às 20 horas e 45 minutos. Mato Grosso perdia o seu mais importante “caixeiro viajante”, não no sentido criado por Henry Miller em 1949, quando escreveu um dos maiores sucessos do teatro mundial, mas no sentido que o senso comum deu ao termo. Afinal, ninguém vendeu Mato Grosso tão bem quanto o ex-governador, Dante de Oliveira, aos 54 anos apenas, ainda, com todo vigor, partindo sem deixar herdeiro do seu legado político pois não teve filhos.
A têmpera dessa mulher aguerrida e lutadora foi posta à prova outra vez, porém, a sua firmeza na fé e a confiança sem limites em Deus, determinação, não a deixaram se entregar a tristeza que lhe corroía a alma. A família nesse momento, mais numerosa, com seus dezessete netos, que sempre a estiveram como a avó carinhosa, presente na vida de todos, deram o estimulo que Maria precisava para superar, mais uma dor, aos 85 anos de idade.
Anos depois, em 2014, aos 93 anos, dona Maria perdia uma filha, desta vez, a Lúcia de Oliveira Taveira, aos 64 anos, depois de enfrentar uma doença degenerativa que a castigou muito, deixando 4 filhos, 3 netos e muita saudade no coração novamente enlutado e dilacerado pela dor. Maria seguiu em frente.
Maria Benedita não esmoreceu, continuou e continua a sua caminhada, amparada pela fé, como a vida religiosa permanente, nas orações pelos filhos, netos, bisnetos, tetranetos, genros, noras, sobrinhos e, também, pelos amigos e amigas. É uma intercessora natural.
Recebe em sua casa a todos, também, os amigos dos filhos e netos que movimentam desde o café da manhã conhecido como o “bom dia Maria”. Em seguida, e no almoço está sempre a responder às suas ajudantes, “Quantos virão”? Maria, como sempre, responde: “Não sei, mas deixa os pratos ajeitados para aqueles que chegarem”, e os netos, sobrinhos, bisnetos sabem que são bem acolhidos, e para lá se dirigem pois gostam de conviver com a avó que os recebem com o sorriso aberto e com todo o tempo para uma boa prosa.
Ao longo dos tempos a cidade de Cuiabá, os espaços percorridos por D. Maria foram reutilizados para outras funções. A sua Rua do Coxim virou Avenida Isác Póvoas. A feira pública em frente à sua residência acabou faz tempo. Os armazéns e o mercado público próximo à sua morada transformaram em mercados e hipermercados. As pequenas lojas da Avenida Ponce, muitas foram para os Shoppings Centers. As festas foram recolhidas para os interiores dos clubes e buffets. E da Cuiabá que tanto D. Maria tem saudades resta apenas uma “amostra” entre as ruas estreitas e fachadas coloniais no centro histórico da capital e, a sua amada Catedral.
No próximo 1º de Maio, Maria Benedita Martins de Oliveira completa 100 anos. Quanto privilégio! Dona Maria saboreia da sua plenitude, sabedoria, lucidez, reinando na família, hoje ampliada com mais de 34 bisnetos, tetraneto, sem perder a sua postura do matriarcado, trilhando o seu caminho das novenas, missas e, sempre preocupada com a sua aparência e saúde que a idade requer.
Mulher, mulheres. A capacidade de transformar e amoldar o espaço onde vivem têm sido um de seus traços ou, uma de suas marcas ao longo da história. E Dona Maria, já sabia (e como sabe), que uma das características do gênero feminino seria essa, a de silenciosamente transformar o que lhe chega... inclusive, a vida humana em todas as suas dimensões e formas, em um caminho melhor. Assim ela fez! Assim ela faz! Assim continuará fazendo!
Parabéns dona Maria! Viva o seu Centenário” Cuiabá e Mato Grosso lhe agradecem! Parabéns!
(*) NEILA BARRETO é jornalista pós-graduada em História.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
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Reinaldo Gonçalves de Queiroz 05/03/2021
Conheci o saudoso Dante quando foi candidato a vereador, o seu genro Luis Carlos Alves casado com Inês, trabalhamos juntos no DETRAN, em 1975.
Ines M.Oliveira 05/03/2021
Para a família esta valorosa guerreira foi capaz lá longo dos anos de transmitir um exemplo de mãe, esposa e cidadã, com sabedoria, perseverança , fé e solidariedade, pois até hoje se desdobra para estender a mão e compreender a dor do outro. Obrigada Neila pelo resgate histórico tão bonito apresentado nessas linhas de maneira tão brilhante, nesta data tão próxima já do Dia da Mulher.
2 comentários