Sábado passado estava tomando café da manhã com a minha família quando o meu filho mais novo, de nove anos, pergunta-me:
– Por que a gente não se muda para Sorocaba?
Achei aquilo inusitado e indaguei a razão dele achar que deveríamos nos mudar para Sorocaba. Ele me disse que o prefeito de lá, o Manga, era muito bom e fazia muitas coisas, que lá têm Big Mac, parque aquático, ônibus de graça, tem “creche para idosos, que pega em casa e leva de volta” e “um monte de coisas legais”. Continuei nosso debate:
– Mas onde você viu isso tudo? Onde conheceu esse tal prefeito Manga? Ficou sabendo disso tudo e quer até mudar para Sorocaba? Ele responde:
– No Youtube, uai!
Na semana anterior a esta conversa, estava fazendo uma palestra em Vitória, no Espírito Santo, em evento promovido pela Associação dos Municípios do Estado para assessores de comunicação de prefeituras e perguntaram-me o que eu achava da comunicação do prefeito Rodrigo Manga?
Esses episódios fizeram-me lembrar um debate que rolou no grupo de WhatsApp da ABCPública (Associação Brasileira de Comunicação Pública). Alguns gestores de comunicação de órgãos públicos espalhados pelo Brasil estavam questionando, como um prefeito podia fazer aquele tipo de vídeo, que era uma vergonha, um desrespeito com a comunicação pública, etc. Lembro que fiz um comentário simples à época: “pois é, mas pelo menos ele é pauta deste grupo, está causando polêmica e sendo debatido por vocês.” Acho que não gostaram do comentário, mas enfim! No CAMP (Clube Associativo do Profissionais do Marketing Político), do qual também faço parte, sempre tem alguém comentando sobre algum vídeo do Manga. Lembro ainda que tive uma conversa com um amigo dono de uma produtora e que atendeu a Prefeitura de Sorocaba por um tempo. Disse –me que uma vez o Manga mostrou para ele a performance de alguns de seus vídeos. Os mais sérios tinham alcançado um engajamento pequeno e outros vídeos, com um começo inusitado e chamativo, tinham alcançado milhões de pessoas. A diferença era absurda. E, por conta disso, o prefeito Manga deu uma guinada e passou a produzir vídeos diferentes, inusitados, com altíssimo poder viral e engajamento espetacular.
Foi por conta destes vídeos que o meu filho de nove anos foi atingido pela comunicação do prefeito Manga. Os conteúdos chamaram a atenção dele, despertaram seu interesse, tanto que ele foi buscar, por conta própria, mais conteúdos. Ele reteve aqueles conteúdos e virou defensor da gestão (“- lá tem muita coisa de grátis”, “quem quer vender alguma coisa não tem que pagar”, “quando você chega em Sorocaba tem uns prédios futuristas, igual aos desenhos dos Jetsons”) e formou uma imagem positiva do governo do prefeito Manga, a tal ponto que ficou com vontade de se mudar para a cidade.
A que conclusão podemos chegar sobre a comunicação do Rodrigo Manga? Para falar a verdade, a ideia desse artigo nem é fazer uma análise técnica dos vídeos do prefeito de Sorocaba, a internet está abarrotada destas análises, vários colegas já se deram a este trabalho. O que quero concluir é muito mais despretensioso: Rodrigo Manga, com seus vídeos com inícios escrachados, usando de humor, de tiradas surpreendentes, consegue produzir alguns efeitos – 1. Chamar a atenção dos internautas nos primeiros segundos do vídeo, ou seja, fisga a audiência; 2. Consegue usar o entretenimento para atrair e, flanqueando o público em geral desinteressado em política, mostrar o que a sua gestão está fazendo na cidade; 3. Chamar atenção para Sorocaba e, provavelmente, atrair mais investimentos.
A vida inteira defendi que comunicação boa é aquela que funciona, que gera resultados. Propaganda criativa e linda que não vende, que não converte votos etc. não serve para nada! Portanto, se o Manga consegue virar referência nacional (e é alvo de debates entre os experts em comunicação), consegue atingir plenamente seus objetivos (não é à toa que ele se reelegeu com mais de 70% dos votos), e é capaz de chamar atenção de vários tipos de público, até mesmo de uma criança de nove anos que fica zapeando no Youtube e consome todo tipo de conteúdo que lhe atraia, eu pergunto: é ele que está errado? Claro que não, né?
(*) RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.
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