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Artigos Terça-feira, 19 de Julho de 2016, 08:33 - A | A

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Terça-feira, 19 de Julho de 2016, 08h:33 - A | A

A travessia de dois bufões

Eram os idos de 80, quando a irreverência e o deboche tomaram conta de bares, ruas e avenidas da cidade

EMANUEL PINHEIRO

 

Assessoria

Emanuel Pinheiro

 

Atenção, Senhoras e Senhores! Que rufem os mochos e toquem as violas de cocho. Abram as cortinas. Vai começar a descortina da vida de Liu Arruda, em "A Travessia de Um Bufão". O maior de todos os espetáculos. Algo jamais visto e, claro, esquecido. Uma das melhores histórias da cultura cuiabana, contada por ninguém mais, ninguém menos, do que Ivan Belém - figura que dividiu os palcos da vida com nosso maior expoente da comédia local.

 

Assim, na última semana fui plateia. E em plena Assembleia, no teatro do Cerrado Zulmira Canavarros, vi o teatrólogo lançar uma verdadeira epopeia. Nas 184 páginas saborosas de uma pesquisa minuciosa, nosso talentoso Ivan – nascido, crescido e criado na Lixeira, um dos redutos da ‘cuiabania’ – prestou um grande serviço à cultura mato-grossense, ao revelar a saga do grupo Gambiarra e a trajetória do nosso inesquecível “Chico Anísio pantaneiro”. Eram os idos de 80, quando a irreverência e o deboche tomaram conta de bares, ruas e avenidas da cidade. Difícil era segurar o riso, que corria frouxo na face.

 

Tendo como base da expressão artística o teatro, Liu Arruda (1957-1999) transformou o seu tempo, com base na reflexão causada pelas diversas linguagens que abraçava, libertando-nos dos paradigmas sociais daquele tempo. Logo, como todo gênio, foi um ser iluminado. Passou rápido como um lampejo. Homem além do tempo. Transcendental. Especialmente regional. Um propagador do linguajar cuiabano. Ah, que saudades de vê-los livres ao ar.

 

E o bom do teatro é que ele é assim, sem limites. Ultrapassa os muros e derruba as barreiras sociais. Como um grande arquiteto que constrói a urbe, Liu edificou multidões com seu “djeito” engraçado e provocativo. Nas mil faces, um mesmo homem. Integro. E por momentos, mulher. Na vida real, o também multifacetado Elonil de Arruda que, além de comediante, foi jornalista, professor, ator, cantor e diretor.

 

De sua cartola surgiu personagens como Comadre Nhara, sua mais conhecida retratação de uma mulher cuiabana que vivia espiando as pessoas pela janela de casa e fazendo fofoca. Juca era um homem cuiabano inspirado no próprio pai. Sinhá Dedê era uma empregada doméstica. Com peruca loira, Liu se travestia de Ramona, uma garota cuiabana que queria fazer tudo para estar na moda. E Gladstone, um hippie hilário criado pelo artista. A cada um desses ‘Lius’, páginas de um novo capitulo de sua história escritas pelo amigo Ivan Belém, que mantém as cortinas sempre abertas. Aplausos!

 

*EMANUEL PINHEIRO é deputado estadual pelo PMDB em Mato Grosso

 

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