Certa vez, ainda muito jovem, estava em um bar com amigos quando percebi que, na mesa ao lado, um rapaz não parava de me olhar. Olhei de volta, na esperança de que ele se manifestasse, me cumprimentasse ou algo do tipo. Ele desviou o olhar. Pensei: “Deve me reconhecer de algum trabalho, do palco ou da televisão”. Afinal, isso não era incomum.
Levantei-me e fui ao banheiro. Na volta, percebi que o mesmo rapaz continuava me olhando. Então, decidi encará-lo diretamente. Foi quando ele gritou em voz alta: “Tá olhando o quê, veado?”. Eu quis desaparecer. A vergonha foi tão grande que só torci para que ninguém mais tivesse ouvido.
Outra vez, eu estava em uma festa e fui ao banheiro. Um cara, visivelmente bêbado, passou na minha frente na fila, escancarou a porta e começou a usar o sanitário. Fiquei ali, esperando minha vez. Até que outro homem, mais velho, me disse em tom professoral: “Não fica aí perto. Esse cara sempre faz isso, deixa a porta aberta de propósito, só para depois arrumar confusão. Agora há pouco, ele perguntou a um rapaz que estava aí: ‘Tá olhando o quê?’”. Minha cabeça bugou. Eles? Eles quem?
Hoje, a resposta para mim é cristalina: eles, os homofóbicos. Estão por aí, infiltrados no meio de nós, procurando qualquer desculpa para despejar o ódio. E se você não der o motivo que eles procuram, eles criam situações ou até inventam mentiras. Assim, encontram em seus iguais o conforto dos covardes: a hipocrisia.
Nesta semana, o psicólogo Douglas Amorim foi agredido por um "deles". O agressor confesso é Yuri Matheus de Siqueira Matos. Yuri, o covarde, atacou Douglas pelas costas, sem chance de defesa. E qual foi a justificativa? A já conhecida frase: “Tá olhando o quê?”.
A boate Nuun Garden, local da agressão, não prestou nenhuma assistência à vítima e ainda dificultou o acesso às provas do crime. Com isso, a Nuun Garden deixa de ser apenas o cenário da violência para se tornar cúmplice dela.
Este texto é um apelo a você, meu igual: olhe, sim! Sobretudo, olhe em volta. Esteja alerta. Ao primeiro sinal de homofobia, coloque-se em segurança e denuncie! E, se o lugar onde você estiver não te ajudar, nunca mais volte e conte ao mundo. Olhai e denunciai!
(*) EDUARDO BUTAKKA é teatrólogo e comunicólogo. É também defensor da causa LGBTQIAPN+.
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