Há anos o ambiente digital tornou-se um espaço de proliferação crescente de discursos discriminatórios, de ódio e intolerância. Diante da decisão da empresa Meta de alterar o modelo de checagem de informações, o futuro que se desenha não é nada animador. A falta de regulamentação rigorosa e de monitoramento eficaz dos conteúdos publicados poderá contribuir para agravar um cenário já caótico e extremamente preocupante.
Segundo Mark Zuckerberg, CEO da Meta, as verificações serão substituídas por "notas da comunidade". Com isso, Facebook, Instagram e Threads, redes sociais pertencentes à empresa, passarão a controlar e monitorar menos os conteúdos que circulam nas plataformas. Supõe-se que essa mudança tenha como objetivo a manutenção dos lucros bilionários, o alinhamento ideológico e político com o novo mandatário americano, Donald Trump, e, principalmente, a resistência à onda europeia de regulamentação das redes sociais.
Associada, ao que tudo indica, ao bilionário Elon Musk, proprietário da plataforma X, a Meta pretende reduzir o controle sobre o conteúdo, alinhando-se ao discurso da liberdade de expressão adotado pela direita conservadora. Esse movimento é justificado, num discurso bastante alinhado entre os três atores, como uma luta por mais liberdade para os usuários das plataformas digitais.
Liberdade de expressão é um direito constitucional que deve ser protegido por todos, mas esse direito não autoriza a prática de crimes. Em nome dessa “liberdade”, as redes sociais podem se tornar espaços ainda mais propensos à disseminação de fake news, desinformação e discurso de ódio.
O cenário que se desenha afetará, de forma significativa, nós, mulheres, sob diversas perspectivas. Os conteúdos polêmicos já tendem a se espalhar com maior rapidez devido ao modo como os algoritmos estão sendo utilizados; imagine isso sem uma moderação eficiente. A tendência é o aumento da misoginia, do machismo, do preconceito de gênero e da violência de todo tipo, disso não há dúvida.
Em um país onde os casos de feminicídio crescem assustadoramente, a violência política se agrava e os movimentos digitais misóginos se multiplicam, a falta de regulação das redes e de um processo sério e eficaz de checagem de publicações indica que a violência e a discriminação contra as mulheres irão se intensificar. Nossas meninas, vítimas constantes de pornografia e pedofilia, se tornarão ainda mais vulneráveis na internet.
De acordo com a SaferNet, entre 2020 e 2021, o número de denúncias de violência contra as mulheres na internet cresceu 1.600%. E quantos outros casos não foram denunciados? Em 2023, o governo federal informou que foram identificadas 100 contas com conteúdos misóginos e machistas, que somam mais de oito milhões de seguidores. Além disso, as redes sociais são hoje responsáveis por agravar o discurso discriminatório contra mulheres negras e aumentar a ansiedade, especialmente na geração Z.
Para combater os inúmeros crimes que se multiplicam nas redes, é fundamental que exista um sistema eficaz de detecção e monitoramento das postagens. O Brasil precisará decidir se adota uma legislação rigorosa para combater esses crimes ou se permitirá que as grandes empresas de tecnologia sigam seu caminho sem restrições, observando de longe o crescimento da violência de gênero.
(*) VANESSA MARQUES é Jornalista com mais de 20 anos de atuação em comunicação. É mestre em Indústrias Culturais e Comunicação pela Universidade Politécnica de Valência, cursa o seu segundo mestrado no IDP em comunicação digital e integra o Grupo de Pesquisa na UNB.
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