Henri Bergson (1859-1941), filósofo francês e prêmio Nobel de Literatura em 1927, é um dos pensadores mais influentes do século XX. Sua filosofia destacou-se pela abordagem inovadora da realidade, do tempo e da vida, em oposição ao mecanicismo e ao positivismo que dominaram boa parte do pensamento moderno. Bergson propôs uma visão que enfatiza a importância da intuição como método de conhecimento e uma compreensão dinâmica da existência, sintetizada em conceitos como o elã vital e a duração.
Escreveu em um período de grandes transformações científicas e filosóficas. A Revolução Industrial e o progresso científico haviam consolidado uma visão de mundo mecanicista, baseada na causalidade linear e na quantificação do real. O positivismo, liderado por Auguste Comte, reduzia o conhecimento às ciências exatas e experimentais, ignorando dimensões subjetivas e qualitativas da existência.
Contra esse pano de fundo, Bergson se opôs à ideia de que a razão analítica e a ciência eram as únicas formas legítimas de conhecimento. Ele reconhecia a importância da ciência, mas sustentava que ela era insuficiente para capturar a totalidade da experiência humana, especialmente os aspectos dinâmicos, subjetivos e criativos da vida.
Uma das contribuições centrais de Bergson é sua distinção entre o tempo como é vivido (duração) e o tempo como é medido (tempo cronológico). Para ele, o tempo cronológico é uma abstração: uma sequência homogênea de momentos que podem ser contados e medidos. Em contraste, a duração (durée) é o tempo real, vivido subjetivamente, caracterizado pela continuidade e pela fluidez.
Em sua obra "Ensaio sobre os Dados Imediatos da Consciência" (1889), escrita como tese de doutoramento, Bergson argumenta que a duração é qualitativa, não quantitativa. Quando vivemos o tempo, ele não se apresenta como uma sucessão de instantes isolados, mas como um fluxo contínuo em que o passado se funde com o presente, formando uma unidade indivisível. Esse conceito desafia a visão cartesiana e mecanicista de um universo composto por partes discretas e mensuráveis.
Outro conceito central da filosofia bergsoniana é o elã vital, introduzido em sua obra "A Evolução Criadora" (1907). O elã vital seria como uma força primordial, um impulso criativo que atravessa a vida, produzindo novas formas e superando os limites impostos pela matéria. Com esse conceito, Bergson recusa o mecanicismo e o finalismo.
Central em suas reflexões, rejeitava tanto o determinismo quanto o acaso como explicações adequadas para a evolução da vida. Em vez disso, via a evolução como um processo criativo, impulsionado pelo elã vital, inovador e imprevisível. Para esse pensador, a vida não pode ser reduzida a mecanismos físico-químicos; ela é uma força dinâmica, que cria, que transcende as categorias rígidas da ciência tradicional.
Bergson também é conhecido por sua defesa da intuição como método filosófico. Argumentava que o intelecto, embora poderoso para lidar com o mundo material, é incapaz de apreender a realidade dinâmica da vida. O intelecto fragmenta o real em categorias fixas, enquanto a intuição nos permite acessar a experiência direta e imediata da duração e do movimento. Em "A Evolução Criadora", descreve a intuição como uma "simpatia" pela realidade em movimento, uma forma de conhecimento que ultrapassa os limites da análise conceitual.
Nietzsche, por exemplo, compartilha com Bergson a valorização do dinamismo e da criação, embora seus projetos filosóficos sejam distintos. Enquanto Nietzsche enfatiza a vontade de poder como força criativa e trágica, Bergson vê o elã vital como um impulso mais universal e menos individualista.
É por aí...
(*) GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.
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