O Brasil está há porta de mais um processo eleitoral. No entanto, um grande número de eleitores pensa que as eleições municipais são menos importantes que as eleições gerais. Considera que um prefeito ou um vereador tem menos responsabilidade que um governador, um deputado, senador ou presidente. É um erro. Os eleitos municipais não estão obrigados a menos que os demais.
É importante não perder de vista que, em democracia, o município é base de toda a organização política, e é o local onde melhor se pode refundar um projeto nacional. É também senso comum que cabe aos municípios avaliar e aplicar políticas públicas de investimento para responder às necessidades da educação, saúde, saneamento básico, assistência social, transporte coletivo, entre outras. E sabe-se também, por experiência própria, que é nos municípios que o cidadão melhor faz ouvir as suas dificuldade e indignações. Ou seja, é nos municípios onde a política mais se humaniza.
Fortalecer a política municipal é de extrema importância para a melhoria de vida das populações, pelo que os eleitores não podem se isentar das questões municipais e ficar somente focados numa agenda nacional, obviamente importante, mas nem sempre inofensiva. As operações da lava-jato, o processo de impeachment ou a cassação de mandatos no congresso, por si só não garantem as transformações necessárias. É com efetiva participação na vida da comunidade que mais se concretiza a democracia participativa direta em alternativa à atual democracia representativa desacreditada e refém das corporações financeiras sempre disponíveis a inviabilizar reformas políticas, estruturais, tributárias e outras.
O sentimento crescente de que uma melhor distribuição da riqueza passa por uma maior repartição do poder, está a preocupar o modelo instituído sempre interessado que o cidadão se manifeste unicamente pelo voto e nesse sentido tem vindo a desenvolver ampla legislação que, ao restringir direitos fundamentais de manifestação e opinião, vai dando continuidade ao exercício de um poder recheado de abundantes privilégios e autoritarismos.
Neste contexto social, o aprofundamento do confronto de propostas políticas torna-se ainda mais necessário para a reposição dos devidos créditos da ação política, sem os quais o estado democrático de direito vai-se esvaziando numa exaltada judicialização da vida pública. Assim sendo, é indispensável que cada eleitor faça a sua parte e vá um pouco mais além da cômoda posição conservadora “eu apoio, mas não participo”.
Nas próximas eleições municipais mudar os eleitos é muito pouco para o muito que precisa ser feito. É preciso que o eleitor também mude que priorize conteúdos municipalistas e com eles mantenha a pressão nas urnas. São precisas pessoas novas no circuito, mulheres, jovens, projetos programáticos e progressistas e tudo isso nós temos nas cidades e nas nossas comunidades. Hoje o Brasil não está numa ponte para o futuro, mas sim completamente no meio de um rio balbuciando por ajuda, cansado de discursos monolíticos, repetitivos, inconseqüentes e fora da realidade do cidadão comum. Estas eleições municipais carregam também a responsabilidade da sinalizar vontades e todo o retrocesso que for aceite a nível municipal certamente refletirá nos próximos embates políticos que o Brasil inevitavelmente terá.
*RUI PERDIGÃO é administrador, consultor e presidente da Associação Cultural Portugueses de Mato Grosso
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