Menina, mas me contaram que você é muito ingênua.
Que enxerga a vida com olhos de criança,
que a maldade dos outros não aflige seu coração.
Como pode ser possível?
Mas, afinal, o que é ingenuidade?
É a qualidade de quem é inocente, de quem confia facilmente.
É aquele que não vê malícia ou pecado nos outros,
que acha que a vida é um conto de fadas.
Você é ingênua, menina? E o tanto de coisa que já viveu?
Uma coisa é ingenuidade: achar que não há tristeza e revés no mundo.
Outra é manter os olhos de criança, não deixando que isso abale o coração.
Tem diferença, sim, e é na segunda opção que eu escolhi viver.
Tem gente (muita gente) que não se importa com o que sentimos.
Tem gente (muita gente) que vai tentar puxar nosso tapete.
Tem gente (muita gente) que não quer nos ver sorrindo.
Tem gente (muita gente) que vai falar mal da gente pelas costas e sorrir na nossa frente.
Mas eu aprendi, a duras penas, que o sentimento ruim dos outros
pertence somente a eles.
E que cabe somente a mim aceitar – ou não – o que os outros têm a me oferecer.
Você aceita tudo o que a vida tem te oferecido?
Justamente por isso prefiro muito mais aceitar um dia de sol.
Aceito um abraço apertado de um amigo há tempo distante.
Aceito a brisa que beija meu rosto e me lembra o quão abençoada sou.
Aceito a noite que vem para que eu possa descansar.
E aceito, também, as lágrimas, vez ou outra, em forma de aprendizado.
Afinal, estamos aqui como aprendizes.
E crescer dói.
Chorar faz parte de qualquer processo evolutivo.
Portanto, não me vejo como uma pessoa ingênua.
Apenas aceito as oportunidades que a vida me dá diariamente
e tento não reclamar, fazendo, dos limões, uma limonada.
Assim eu vou, enxergando tudo com olhos de criança
e sentindo tudo com o coração puro.