Adotamos o hábito de julgar. Julgamos o vizinho, o político, o técnico do time de futebol do coração, o companheiro, os pais e assim por diante. Sempre conseguimos enxergar os defeitos do outro e apontar sem dó nem piedade aquilo que condenamos, que não consideramos ser o certo. São milhares de julgadores espalhados pelos quatro cantos do mundo. Mas pouquíssimos de nós parou para olhar para si. Isso porque esse exercício é doloroso.
Para não olhar para dentro, para não nos conhecermos verdadeiramente, criamos um ritmo de vida que não nos permite parar. Se não paramos, consequentemente não pensamos e nem nos analisamos. Logo, somos uma multidão que não sabe sequer o que realmente sente, que defeitos e qualidades possui. A angústia que nos pega de assalto, por vezes, é um sentimento se manifestando que não sabemos identificá-lo.
Posso dizer com propriedade que olhar para dentro dói, mas é recompensador. Foi nesse processo de voltar os olhos para mim que pude entender muito de atitudes que tomava e me incomodavam profundamente, contudo, mesmo assim, não conseguia agir diferente. Só consegui mudar o padrão quando aceitei a existência daquela inferioridade.
O grande problema é que a gente não quer ter defeito. Queremos olhar apenas para aquilo que é bom, quando na verdade somos duais. Temos tanto a qualidade como a inferioridade. E para não sermos dominados pelas nossas "sombras" é que precisamos conhecê-las como a palma da nossa mão. E sabe de uma coisa? Olhar, reconhecer que aquilo existe e aceitar a sua presença, já reduz a força daquele sentimento em pelo menos 50%.
A nossa grande tarefa nessa passagem provisória por aqui é, além do autoconhecimento, aprender a amar. Amar a nós mesmos, com todas as nossas inferioridades. Olhar-se no espelho diariamente e dizer em alto e bom som o quanto você se ama, mesmo sentindo inveja, medo, tristeza, orgulho, vaidade. Só seremos capazes de amar ao próximo quando conseguirmos realmente nos amar, nos aceitar.
E para que esse amor próprio seja real, é preciso saber quem verdadeiramente somos, sem máscaras, descascados de todos os personagens que inventamos para sermos aceitos, valorizados, acolhidos. E o único caminho para isso é o autoconhecimento. Nunca é tarde para olhar para si. Dói, mas vale muito a pena. Vamos tentar?
*Michely Figueiredo é jornalista, psicoterapeuta reecarnacionista, mãe do Inã, estudante de acupuntura, caçadora de amizades sinceras, apaixonada pelas oportunidades de transmutação