Há dez anos eu tenho uma dor que não melhora.
Ela vem e volta quando quer.
Começou sabe-se lá de onde.
E até hoje não consegui vencê-la.
Todo esse tempo, tentei lutar contra ela.
Não há remédio que a faça sumir.
E tantas vezes preciso recorrer ao hospital,
aguentar agulhadas que, para quem tem medo de agulha, doem mais do que a própria dor.
Ela me tirou algumas festas.
Alguns amigos também não entenderam sua frequência.
Já fiquei finais de semana inteiros num quarto escuro,
fugindo da luz, dos barulhos, de qualquer cheiro e até mesmo de mim.
Mas um dia, eu resolvi que seria diferente.
Já que “lição que não é aprendida se repete”,
decidi que não bateria mais de frente.
E já que ela faz parte da minha vida, adequei-me a ela.
Para quem vê de fora, pode parecer que me entreguei.
Mas é bem diferente:
eu só preferi parar de dar murro em ponta de faca.
Sabe aquela máxima “quando não se pode vencer o inimigo, junta-se a ele”?
Eu não deixei que ela tirasse o melhor de mim.
Também não cansei de tentar algo que melhore, que cure.
Não tirei nem tiro o sorriso do rosto.
Muito menos a esperança de que ela, um dia, sumirá.
Não se canse de ser quem você é.
Independente se tem alguém olhando
ou se tudo o que você faça é anônimo.
Continue remando. Tentando. Fazendo a sua parte.
Eu continuo rezando a oração de São Francisco,
pedindo força para mudar o que pode ser mudado,
resignação para aceitar o que não pode
e sabedoria para distinguir uma coisa da outra.
*Mirella Carvalho é inclinada à dualidade: metade paulista, metade cuiabana; metade publicitária, metade administradora. É também sorridente por natureza, virginiana e colecionadora de todo quanto é tipo de coruja (exceto as de verdade).
Marta 09/04/2018
Suportar a dor e viver. Independente do tipo da dor, física ou sentimental, a vitória está em superá-la e seguir em frente. Adorei seu texto.
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