O ex-secretário de Política Agrícola do governo federal, Neri Geller (PP), chamou de 'acéfalo' o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) sob o comando do ministro Carlos Fávaro (PSD). O ex-deputado criticou a falta de posicionamentos técnicos na Pasta, a exemplo do que, segudo ele, levou à 'crise do arroz'. Geller afirmou que as decisões à época não passavam de uma “lambança”, de Fávaro na ânsia de agradar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que a falta de orientações técnicas tornou a gestão atual do MAPA, ignorante e desorientada.
O ex-secretário revelou que já existia a discussão sobre a importação antes das enchentes do Rio Grande do Sul, em 2024, mas o assunto tomou corpo, após a catástrofe climática. E desde o início, ele afirma que deixou bem clara a posição contrária à medida de compra de 263 toneladas de arroz do mercado externo.
“Quem carregou toda essa pauta foi o ministro Fávaro e fez toda essa lambança que ele fez. O problema de não se aprofundar na discussão e eu não quero exagerar na crítica. Mas na ânsia de querer fazer política do ponto de vista, de ser responsável por derrubar a inflação, de fazer cesta básica, fazer assistencialismo, foi isso que aconteceu”, afirmou Geller.
Mesmo declarando que é adequada a preocupação do governo com o fornecimento do arroz, que faz parte do cotidiano do brasileiro, Geller reforçou que, para ele, a ação de Fávaro foi motivada mais por uma tentativa de fazer política populista do que por uma análise técnica consistente.
"A preocupação do governo com relação ao fornecimento é válida sim, mas a política implementada era um equívoco. Cabia aos técnicos, aqueles que conhecem o setor, pautar o presidente. O presidente deveria ser pautado por nós, os técnicos", explicou Geller. E fez questão de frisar que, apesar de discordar, respeitava a hierarquia do governo e acompanharia a decisão, mesmo sendo voto vencido.
Para o ex-secretário, desde a sua saída e de outros profissionais, a falta de técnicos na gestão do MAPA tem gerado mais decisões equivocadas. “O Ministério está acéfalo, não participa de política de crédito. Não participa de política do setor agrícola. Não exerce a política de garantia do preço mínimo. É uma vergonha, um absurdo”, comentou.
Sobre o seu ex-assessor, apontado como o pivô da sua saída do ministério, por um suposto beneficiamento no leilão. Geller contou que o advogado do setor agropecuário, além de ter atuado como seu assessor até 2020, também foi apoiador de campanha de Fávaro, na última eleição.
E ainda comentou o episódio: “Ele se credenciou na Conab, e estava atuando como corretor, e na bolsa de valores, durante um ano antes de eu assumir (no MAPA). E eu não sabia que ele tinha participado. Eu na hora pulei na frente. Eu não tenho uma vírgula para esconder. Eu me posiciono e isso gera muita ciumeira. Depois que eu saí do ministério, viram o que tinham feito, mas não me senti à vontade para voltar para o ministério”, finalizou.
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