A pressão na inflação de serviços também será mais um alerta para a dinâmica dos juros. A autoridade monetária já encara um cenário de depreciação cambial, expectativas de inflação desancoradas e de preços de alimentos mais elevados. Por ora, o Banco Central já contratou mais duas elevações de 1 ponto porcentual na taxa Selic, para as reuniões de janeiro e março, conforme forward guidance apontado no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom). O juro básico deve atingir, no mínimo, o nível de 14,25% neste ano.
A economista para Brasil do BNP Paribas Laiz Carvalho avalia que o nível alto da inflação de serviços vai em linha com o guidance do Banco Central. "O cenário é parecido com o que a gente tinha. A inflação não vai dar, por ora, sinais de alívio", enfatiza. Na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada, métrica que ajuda a entender as tendências para a inflação no curto prazo, os serviços indicam uma alta de 6%, enquanto os serviços subjacentes, de 8,5%, muito acima da meta de inflação, de 4,5%, nos cálculos da economista.
"É uma preocupação nossa, do BC e do mercado como um todo. Isso é relacionado não só com o nível da atividade, mas com o nível de renda que permanece alto. Mostra que a economia ainda está muito aquecida, o que é ruim para a inflação, por preços mais pressionados, e para o BC, que deve manter os juros mais altos por mais tempo", detalha. "O que aconteceu com a inflação no fim de 2024 vai se repetir no primeiro semestre, com serviços e serviços subjacentes pressionados", alerta.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2024 com alta de 4,83%, estourando o teto da meta de 4,5%, como já era esperado por analistas. Agora, o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, deve escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para explicar o descumprimento do alvo de inflação do último ano. O resultado se deu durante a gestão de Roberto Campos Neto, mas foi divulgado nesta sexta-feira já sob o comando de Galípolo.
O Santander Brasil corrobora a visão de que o mercado de trabalho robusto e a atividade econômica ainda impõem pressão sobre a inflação de serviços. "Continua preocupante", frisa o banco, que chama atenção para a elevação das aberturas de serviços no encerramento de 2024. "Os serviços intensivos em mão de obra aumentaram de 5,5% para 6,5% na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada - o nível mais alto desde o final de 2022", salienta.
Já os serviços inerciais subiram de 7,2% para 9,5%, enquanto os serviços sensíveis à ociosidade saltaram de 6,8% para 8%, todos nessa mesma métrica, nos cálculos do banco.
Para a economista-chefe da Gap Asset, Anna Reis, ainda vai demorar para haver uma trégua na alta da inflação de serviços. "Apesar de esperarmos uma desaceleração no segundo semestre, com atividade mais fraca e efeitos do aperto monetário, não vemos uma melhora tão cedo em serviços", afirma. Ela chama atenção para a dinâmica de serviços bancários, serviços ligados à ociosidade e serviços digitais neste primeiro trimestre.
A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andrea Angelo, destaca que o IPCA de 2024 trouxe uma reaceleração já esperada para os núcleos de inflação, com destaque para os serviços. Ela avalia, por outro lado, que, embora permaneça em nível ainda elevado, a inflação de serviços não deve trazer uma piora expressiva para o primeiro trimestre.
"É esperada uma pressão no primeiro trimestre, sobretudo nos serviços subjacentes, por reajuste do salário mínimo, programas de transferência de renda, além do contexto de atividade e mercado de trabalho fortes", analisa. "Porém, para ter outra piora na percepção da inflação de serviços, precisamos de uma depreciação cambial mais intensa ou algum problema de oferta", detalha a economista, que tem alta em torno de 6,5% para serviços e de 7,7% para serviços subjacentes na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada.
(Com Agência Estado)
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