O movimento é reflexo de décadas de intensificação do comércio e das relações diplomáticas do Brasil com a região. As exportações do País ao bloco somaram US$ 10,7 bilhões em 2024, um aumento de 14,7% sobre 2023, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), e hoje diversas empresas brasileiras mantém presença física por lá, com instalações que vão de escritórios a fábricas, passando por lojas, franquias e centros de distribuição. São marcas como Vale, BRF, Embraer, Weg, Tramontina, Ornare, Breton, Farm, Havaianas e outras. Só em Dubai, a há pelo menos 30 empresas brasileiras ativas.
A tendência decorre também de fatores como mercado consumidor abastado, acesso a outros mercados da região e de fora dela, facilidade para fazer negócios, baixa tributação e ampla disponibilidade de recursos financeiros.
"Este é o momento de estar aqui e expandir os serviços na região do Golfo", disse o vice-presidente de Sustentabilidade da Ambipar, Rafael Tello. Depois de Dubai e Abu Dhabi, a companhia planeja entrar no emirado de Sharjah. "Eles têm um histórico forte de preocupações ambientais. Estamos conversando", declarou Tello.
Já a JBS inaugurou no final do ano passado uma nova fábrica em Jeddah, na Arábia Saudita. "Esta instalação representa um investimento de US$ 50 milhões e tem como objetivo quadruplicar nossa capacidade de produção de produtos de frango de valor agregado no país", disse a empresa em nota. A JBS tem também uma unidade industrial na cidade saudita de Dammam.
A companhia segue os passos da concorrente BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, que está presente na região desde a década de 1970 e há pelos menos 15 anos começou a adquirir empresas de distribuição e a estabelecer fábricas por lá.
Segurança alimentar e reciprocidade
"O Oriente Médio é uma região estratégica para a JBS, e estamos comprometidos em fortalecer nossa presença e contribuir para a segurança alimentar na região", diz a JBS. Segurança alimentar é uma preocupação constante nestes países, majoritariamente áridos. Tal preocupação induz à atração de empresas estrangeiras para lá e ao investimento em companhias do ramo no exterior.
As nações do Golfo têm também planos robustos de diversificação de suas economias para além do petróleo. Como consumidores e investidores, pedem reciprocidade das empresas estrangeiras. "Eles dizem mais ou menos isso: 'Olha, para eu fazer um investimento aí no Brasil você tem que fazer um investimento aqui na Arábia Saudita'. Eles precisam gerar desenvolvimento local", conta Thiago Sandim, sócio das áreas de Fusões e Aquisições e Private Equity do escritório de advocacia Demarest. "Foi algo que aconteceu há uns 15 anos também em Abu Dhabi e Dubai", observa.
Várias empresas brasileiras assinaram memorandos de entendimentos e acordos de cooperação com instituições e companhias sauditas nos últimos anos, como a Embraer. "A Embraer e a Arábia Saudita têm estudado profundamente o potencial para uma parceria abrangente e de longo prazo", afirma a empresa em nota.
"A região sempre teve importância para o Brasil, mas a importância relativa, em termos de comércio e investimentos, aumentou nos últimos anos", comenta a diretora de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Ana Paula Repezza. A agência, que tem um escritório em Dubai, assinou em janeiro um acordo com a Zona Franca de Jebel Ali (Jafza, na sigla em inglês), no emirado, para criar uma incubadora com capacidade para 100 empresas brasileiras. "Gostaríamos de levar empresas de pequeno e médio portes. É um mercado que permite a alavancagem de empresas".
Plataforma
Além de atender os países endinheirados do Golfo, empresas brasileiras se estabelecem por lá para acessar outros mercados do Oriente Médio, Norte da África e Ásia. "Se você não estiver aqui, não está no mundo", afirma o CEO da Ambipar e do grupo Lide em Dubai, Rodrigo Paiva, referindo se aos Emirados. O Lide, criado pelo ex-governador de São Paulo João Doria, tem promovido eventos com empresários na região. O próximo está previsto para este mês.
"Algumas empresas percebem que é mais fácil produzir e vender a partir daqui e assumem um compromisso efetivo com a produção, não só com importação e revenda", afirma o embaixador do Brasil em Abu Dhabi, Sidney Romeiro. Ele ressalta que o Brasil e os Emirados têm uma "parceria estratégica" que inclui acordos para evitar bitributação e de facilitação de investimentos, e está em negociação um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a nação árabe. "As relações com o Brasil passam por uma transformação, estão sendo redimensionadas", acrescenta.
(Com Agência Estado)
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