"A inflação de 2024 ficou acima do intervalo de tolerância em decorrência do ritmo forte de crescimento da atividade econômica, da depreciação cambial e de fatores climáticos, em contexto de expectativas de inflação desancoradas e inércia da inflação do ano passado", diz o texto, publicado pelo BC na noite desta sexta-feira.
Pela manhã, o IBGE divulgou que o IPCA, índice oficial de preços, ficou em 4,83% no ano passado - acima do teto da meta, de 4,50%, e acelerando frente a 2023 (4,62%). O centro do alvo era de 3%.
Alta do dólar e piora da percepção fiscal
A alta de 24,5% do dólar frente ao real em 2024 foi o fator que mais contribuiu para que a inflação superasse o teto da meta no ano passado, segundo o presidente do BC.
Comparando-se as médias da taxa de câmbio no último trimestre de 2023 e 2024, de R$ 4,95 e R$ 5,84, o dólar subiu 18% frente ao real. Isso responde por 1,21 ponto porcentual do desvio da inflação frente à meta, segundo o BC.
Na carta, Galípolo afirma que a depreciação cambial ocorreu principalmente de fatores domésticos, complementada pela apreciação global do dólar norte-americano. Galípolo cita que esse processo de deterioração começou em abril de 2024 e se intensificou ao longo do ano, citando a piora da percepção sobre o cenário fiscal do País.
"O fato de o real ter sido a moeda de maior depreciação em 2024, considerando seus pares ao nível internacional e os países avançados, sugere que fatores domésticos e específicos do Brasil tiveram papel expressivo nesse movimento cambial", escreveu. "No âmbito doméstico, a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio."
O dólar escalou no final do ano passado após o anúncio do pacote de contenção de gastos do governo Lula, considerado pelos analistas como insuficiente para o reequilíbrio das contas públicas.
A parcela dos efeitos diretos e indiretos do repasse cambial, segundo Galípolo ainda deve se efetivar em 2025.
Na carta, Galípolo pondera, por outro lado, que a queda no preço internacional do petróleo amorteceu o impacto da depreciação cambial. O preço do petróleo, depois de crescer até abril, entrou em trajetória de queda. "Essa redução refletiu evolução menor que a esperada da demanda global e crescimento maior que o esperado da oferta", disse.
Crescimento mais forte
Já o crescimento da atividade econômica, que surpreendeu para cima ao longo do ano, foi forte e também contribuiu para a inflação acima do intervalo de tolerância, na avaliação de Galípolo. Esse desempenho, disse, foi bem acima das expectativas do BC e dos analistas.
Na carta, ele destaca o significativo crescimento da demanda doméstica, em especial do consumo das famílias e da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), os investimentos, que atingiram crescimento de 5,1% e 6,6%, respectivamente, no acumulado até o terceiro trimestre do ano.
Compromisso de convergência à meta
Galípolo afirmou que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação aos limites estabelecidos e dependerá da evolução da dinâmica da inflação.
"Vários riscos se materializaram, tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões", escreve na carta. "A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", emenda.
Hoje, a taxa Selic está em 12,25% ao ano e o Comitê de Política Monetária do Banco Central já sinalizou mais duas altas de um ponto porcentual nas próximas reuniões. Na carta, Galípolo também ressaltou que a autoridade monetária tem definido a taxa Selic para assegurar a convergência da inflação aos limites estabelecidos e garantiu que o BC tem tomado providências para que o IPCA atinja a meta contínua.
No documento, Galípolo cita ainda que, de acordo com as projeções do cenário de referência do Relatório de Inflação de dezembro, a inflação ficará acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta.
O presidente do BC citou ainda que, de acordo com a pesquisa Focus do dia 3 de janeiro de 2025, a taxa de juros real ex-ante alcança pico de 9,8% no segundo trimestre de 2025, e depois entra em trajetória de queda, alcançando 6,4% no final do horizonte considerado, referente ao segundo trimestre de 2027.
(Com Agência Estado)
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