Quarta-feira, 05 de Fevereiro de 2025
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png
dolar R$ 5,77
euro R$ 6,00
libra R$ 6,00

00:00:00

image
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png

00:00:00

image
dolar R$ 5,77
euro R$ 6,00
libra R$ 6,00

Artigos Domingo, 02 de Março de 2014, 08:13 - A | A

facebook instagram twitter youtube whatsapp

Domingo, 02 de Março de 2014, 08h:13 - A | A

Medo de Assombração I - O começo

Era o começo da noite de um domingo e fui com a minha família visitar uns amigos dos meus pais. Eles tinham uma filha mais velha do que nós – eu e minha irmã – e acho que já mocinha

TELMA CENIRA COUTO




Divulgação

Esta história começou em Corumbá, num Mato Grosso ainda indiviso. Eu tinha cerca de seis anos de idade e era aluna do antigo Jardim de Infância no Ginásio e Escola Normal Imaculada Conceição (GENIC), uma escola apenas para mulheres - como era o costume da época –, administrado por freiras salesianas.


Era o começo da noite de um domingo e fui com a minha família visitar uns amigos dos meus pais. Eles tinham uma filha mais velha do que nós – eu e minha irmã – e acho que já mocinha. Os adultos conversavam numa roda, e as crianças em outra, sentados em cadeiras em frente da casa. A moradia dessa família ficava em frente a uma praça em frente ao GENIC, que podíamos avistar muito bem.

Não sei se foi para se divertir, ou, por raiva - já que tinha que ficar na roda dos menores, como mandava a boa educação da época – o fato é que essa mocinha resolveu me amedrontar. Perguntou-me se eu sabia que quando as irmãs tiravam os seus “hábitos” (antigos uniformes que as freiras usavam) à noite, as suas roupas viravam fantasmas, que passeavam pelo colégio. Ao meu olhar arregalado de espanto, ela completou, “não se preocupe, isso só ocorre quando fica escuro; no claro, não há fantasmas”. Para completar a história ela disse-me para olhar para o colégio e perguntou-me se eu estava vendo algum fantasma. Olhei e respondi que não. Enquanto eu virei para falar com ela disse-me: “acabou de passar um”, e completou “como moro em frente ao colégio já vi muitos fantasmas lá”. Sempre que eu desviava os olhos do colégio ela “avistava” um fantasma! Perguntei-lhe se não ficava com medo e ela disse-me que não, já que eles não saíam do colégio. Dessa maneira eu tomei conhecimento que os fantasmas gostavam de escuro e habitavam o GENIC. Durante o dia não havia problema.

No outro dia fui para a escola. Fiquei com um pouco de medo mas lembrei–me que os fantasmas só apareciam no escuro. Durante alguns dias tudo correu bem. Até que uma tempestade de verão escureceu a escola. Fiquei apavorada. Pedi para ir embora. É claro que a professora não deixou. Pedi licença para ir ao banheiro e ela aquiesceu. Era uma época em que não havia muita preocupação com segurança nas escolas. Passei pela secretaria e saí. Na rua, imaginei que não deveria chegar cedo em casa. Iriam brigar comigo. Resolvi parar numa quitanda que ficava perto de casa. O dono perguntou-me por que eu estava ali naquele horário. Respondi que haviam me liberado para ir embora para casa. Ele não questionou. Deu-me um pirulito e eu fiquei fazendo hora por lá. Nessa época ainda não havia telefone em Corumbá, e ele não se deu o trabalho de verificar o fato.

Quando eu fui embora já era um pouco tarde. Cheguei em casa e encontrei a minha mãe aos prantos. Todo mundo estava me procurando, inclusive a polícia. Meu pai chegou em casa muito nervoso. Foi a primeira vez que eu me lembro de ter apanhado. Não demorou e apareceram duas irmãs salesianas em casa. Havia causado a maior confusão na escola. Tudo porque eu ouvira uma história sobre fantasmas, escuridão, e o ”hábito” das irmãs de caridade. Voltei à escola, mas fiquei “vigiada”. Era verão, e quando começou a preparar outra tempestade, desesperada eu comecei a pedir para ir embora. Dessa vez, levaram-me para casa e entregaram-me para a minha mãe. Sugeriram que eu deveria ficar em casa porque não havia me adaptado ao Jardim da Infância.

O problema era que eu era a mais nova na vizinhança. Todas as meninas do bairro já estudavam, inclusive a minha irmã. Acostumei-me a brincar sozinha. Para ocupar o tempo, a minha mãe começou a me alfabetizar. Sei que atrapalhei o desempenho da minha irmã na escola. Quando ela ia fazer a tarefa escolar eu queria brincar. E ficava ao lado o tempo todo em que ela tinha que estudar.

No ano seguinte, com sete anos voltei ao GENIC. Já conseguia ficar lá sem fugir quando escurecia, e, como eu já sabia o que era ensinado no primeiro ano, passei para o segundo ano direto Isso causou-me um problema quando já havíamos voltado para Cuiabá. Prestei o antigo “exame de admissão” para o ensino secundário com nove anos. As freiras do Ginásio Coração de Jesus não permitiram o meu acesso por falta de idade. Tive que ir para outra escola. Nesse aspecto, as freiras do GENIC de Corumbá foram muito mais modernas. Aos 16 anos terminei o científico, e aos 17 anos estava na faculdade, o que não era comum à época. E tudo isso aconteceu por causa de uma história de assombração!


*TELMA CENIRA COUTO DA SILVA é doutora em Astronomia

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.

Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.

Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM  e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.

Comente esta notícia

Algo errado nesta matéria ?

Use este espaço apenas para a comunicação de erros