Lenine de Campos Póvoas nasceu em 04 de julho de 1921, em Cuiabá e faleceu em sua cidade natal em 29 de janeiro de 2003, aos 82 anos de idade, deixando um tributo inestimável e incomparável valor à política, à administração pública, à História e à cultura mato-grossense. Em trajetória sempre ascensional, conseguiu como poucos assegurar que a força de sua cultura e de ideias brilhassem contínua e intensamente. Escreveu Mato Grosso como ninguém jamais escreveu, por que seu estilo era incomparável.
Póvoas é cuiabano e o seu caráter foi moldado pela gente cuiabana, onde a hospitalidade natural sempre aflorou em seu sangue, no cotidiano da sua vida e, que nunca se deixou modificar até os últimos instantes da sua vida, deixando como herança aos seus filhos, filha, netos, netas e bisnetas.
Essa faceta, como ele sempre dizia, onde se formou, era característica da nossa sociedade que sempre foi enaltecida pelos que nos visitaram, em todas as épocas e, nos dias atuais. Não foi por outro motivo que o espírito-santense Almirante Antônio Cláudio Soído, que veio a Cuiabá, no século passado, em missão da Marinha de Guerra, chamou-a de “Cidade Agarrativa” e a elegeu para sua morada. Almirante, poeta e escritor (Espírito Santo, 26/04/1822 – Cuiabá, 12/05/1889). Chegou a Cuiabá em 1857 e desempenhou importante papel na defesa da província de Mato Grosso durante a Guerra do Paraguai. Procedeu a levantamentos e sondagens dos rios Paraguai, São Lourenço e Cuiabá, e, ainda, exerceu vários cargos de direção da Marinha Imperial em Mato Grosso, sendo, inclusive, diretor do Arsenal de Guerra e Comandante da Flotilha. Após servir em outras províncias e obter a reforma militar, optou por Cuiabá para viver e produzir suas poesias. É Patrono da Cadeira nº. 12 da AML.
Outro que se deixou encantar por Cuiabá, segundo Póvoas, foi o francês Almirante Augusto Leverger, mais tarde Barão de Melgaço, que por ela se enfeitiçou e a escolheu, depois de reformado, para aqui viver e passar a sua eternidade. Nascido em Saint-Malo, região da Bretanha (França), em 30 de janeiro de 1802. Marinheiro. Tenente da Marinha. Chegou a Cuiabá em 23 de novembro de 1830, filho de Mathurin Leverger e de Regina Combes, bretões. Falecido em Cuiabá em 14 de janeiro de 1880. Foi cinco vezes presidente da província de Mato Grosso, sendo três vezes como presidente efetivo e duas vezes substituto. Leverger possuía o espírito livre, aventureiro das gaivotas a que os rochedos natais não conseguem prender nem satisfazer a ânsia do voo para longes agras. Chegou ao Brasil em 1822. Naturalizou-se brasileiro em 1824. Recebeu o título, por honras, de barão, criado por Decreto de 10 de novembro de 1865. Casou em Cuiabá com Ignez de Almeida Leite, viúva de José da Costa Leite de Almeida, em 25 de outubro de 1842, filha do capitão Bento de Toledo Piza, da família Toledo Pizza e Dona Maria de Assumpção e irmã de Maria da Conceição Toledo, esposa de Antônio Corrêa da Costa.
Para o jornalista carioca Luís Amaral que, por aqui passou, deixou registrado em seu livro “A Mais Linda Viagem”, suas memórias sobre Cuiabá e a hospitalidade cuiabana, quando diz: “ sob os telheiros da Cuiabá longínqua dormem intactos os tempos de antanho, com todos os seus hábitos e usanças. ” A população cultiva com rigor a sua religiosidade e a sua fidalguia.
O dr. Silvio Guimarães, um alto funcionário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que passou por Cuiabá, na década de 40, a trabalho, testemunhou em jornal local que “ a hospitalidade do cuiabano é proverbial. (...) A própria Cuiabá é uma eterna casa de hospitalidade. (...) A capital é magnífica, conclui.
Lenine lembra, também, que os mestres paulistas Leowegildo de Melo, Gustavo Khulman e Briene de Camargo, que para cá vieram, no governo Pedro Celestino, para orientar a reforma do ensino em Mato Grosso, em continuidade ao trabalho do mestre baiano cuiabano, Padre Ernesto Camillo Barreto, afeiçoaram-se à terra e, terminada a sua missão, nenhum deles regressou às suas cidades de origem. Todos se casaram com cuiabanas, exceto o padre em função do seu juramento sacerdotal, tornaram-se cuiabanos por adoção e se integraram à terra que lhes retribuiu o afeto com inúmeras homenagens, inclusive, dando seus nomes ilustres às ruas, escolas.
Assim também era Lenine de Campos Póvoas, como toda a população cuiabana, cultivava o rigor religioso, a fidalguia, a cortesia e a hospitalidade dos velhos tempos. Sempre resguardou os traços heráldicos dos seus antepassados, timbrando em encantar o hospede que sempre merecia considerações e estimas e encantavam seus parceiros e sabia valorizá-los.
Foi profundamente influenciado pelo pai, cujas atitudes moldaram sua personalidade e caráter, influência possível de ser observada quando assim ele escreveu: Meu pai nunca foi elitista na escolha dos companheiros de infância para o filho. Sempre escolhi os amigos segundo minha própria preferência e, muitos, nascidos nas classes humildes do nosso bairro. Os garotos do Beco Sujo, situado nos fundos da nossa casa, sempre foram companheiros de peladas nas sombras dos velhos e lindos tarumeiros que pintavam de roso o caís do porto, em frente ao rio Cuiabá.
Sua vida pública é vastíssima e cheia de elogios. Não se ateve apenas ao universo do Direito. Atendeu aos anseios literários e de educador. Durante a sua vida sempre enveredou pelos caminhos das letras e da produção intelectual. Foi professor de Geografia Humana na Escola Técnica de Comércio e titular da Cadeira de Direito Penal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Desenvolveu a arte da pesquisa e da escrita, o que lhe possibilitou publicar inúmeras obras nas áreas da geografia, história, cultura e literatura.
Foi o primeiro Presidente da Fundação Cultural do Estado de Mato Grosso, no governo de José Garcia Neto, hoje Secretaria de estado de Cultura, Esporte e Lazer – SECEL, ocupada por Davi Moura, como secretário titular. É associado do IHGMT e membro da Academia Mato-grossense de Letras – AML, na Cadeira n° 33, cujo Patrono foi Mariano Ramos e os ocupantes Nicolau Fragelli, Lenine de Campos Póvoas e, atualmente, ocupada por Fernando Tadeu de Miranda Borges.
Orgulhoso, testemunha do alto a entrada de Lenine Neto no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
(*) NEILA BARRETO é jornalista, mestre em História e membro da AML e atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
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