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Artigos Sexta-feira, 15 de Abril de 2022, 08:04 - A | A

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Sexta-feira, 15 de Abril de 2022, 08h:04 - A | A

NEILA BARRETO

A Praça Santos Dumont era Lava-pés

NEILA BARRETO

ARQUIVO PESSOAL

NEILA BARRETO

 

Bicas, fontes, nascentes, córregos, chafarizes, chácaras urbanas e suas águas, lagoas, muitas foram soterradas a favor da urbanização das cidades, uma vez que essas cidades necessitavam de espaços para os seus moradores. Em época onde não havia planejamento urbanístico muitas cidades perderam parte do seu patrimônio molhado, úmido para moradias e outros empreendimentos. Isso é o que aconteceu com o que temos hoje como Praça Santos Dumont, localizada na Avenida Presidente Vargas, em Cuiabá-Mt. As relações citadinas com a água potável compõem um longo processo na cidade de Cuiabá.

Em verdade localizava-se aí, uma antiga Lagoa no meio de um bosque e que ficou conhecida como Lava-pés. Esse Bosque fazia parte de uma antiga chácara pertencente ao coronel Hermenegildo Galvão, cuja família ainda mora na rua Cândido Mariano, na capital. Essa chácara era fronteiriça a chácara da família Freire, atual Praça General Mallet, no centro da capital, em frente ao Liceu Cuiabano, localizado na mesma praça. A chácara da família Galvão se transformou e, parte de suas terras se transformou no Bosque Municipal, onde hoje está edificada a Praça Santos Dumont.

Nas memórias de Francisco Alexandre Ferreira Mendes, a chácara da família Galvão ocupava quase em um retângulo, a rua Cândido Mariano, face para o sul e a antiga rua dos Tocos, atual Marechal Floriano Peixoto, rematando ao poente num grande Bosque, cuja lembrança traz os tarumeiros e as cajazeiras que ali vicejavam. Ajardinado o Bosque hoje é a Praça Santos Dumont. Ainda conheci seus tarumeiros e cajazeiros, na infância e na juventude. Ali era lugar de muitas brincadeiras de crianças das redondezas. Por ali moravam as famílias de José Garcia Neto, Paulo Campos, Orivaldo de Campos Borges, Manoel Soares de Campos, a família Affi e muitas outras. Às vezes comparecia na Cuiabá de outrora o menino Eurico Gaspar Dutra, em companhia da turma dos garotos do bairro Campo d`Ourique, compartilhando dos folguedos das gurizadas.

Para Rubens de Mendonça, em Ruas de Cuiabá, nesse local, em meio a um denso matagal, foi erguido naturalmente o “Bosque Municipal”. Esse Bosque foi urbanizado na administração do Intendente Municipal, Coronel Manoel Escolástico de Almeida Virginio, que ocupou o cargo de 1893 a 1899 e de 10 de setembro de 1911 a 15 de janeiro de 1914.

Em 1914 esse bosque recebeu um campo para a prática do tênis, da sociedade “Lawn” – Tênis Clube, para a prática desse esporte advindo da colônia alemã, moradora da capital, tais como as famílias: Henrique Hesslein, vice-cônsul da Alemanha, sua esposa Gertrudes; Carlos Sergel e sua esposa Elza, além de Paulo Schimidt, Guilherme Schwenck, Jorge Andréas, Félix Landis, Adolfo e Carlos Brandes, Manoel Bodstein, Bartira Mendonça. No local havia partidas de tênis e disputas hípicas, também.

Nesse local residia em um palacete o Coronel Augusto Gurgel do Amaral Junior, na atual esquina da Rua Cândido Mariano com a avenida São Sebastião. Residiram nessa casa, também, os presidentes Mário Corrêa da Costa, Aníbal Benicio de Toledo. Outros como, o interventor Antonio Mena Gonçalves, Artur Antunes Maciel, Leônidas Antero de Matos e, serviu de sede provisória da Prefeitura Municipal de Cuiabá.

Em frente a esse palacete, no Bosque Municipal foi fundada em 1960, pelos frades franciscanos uma capelinha, quase um oratório de tão mínima, criada e mantida por pessoas caridosas. Mais tarde, foi construída em um local mais amplo e apropriado, a antiga capela do Lava-pés, hoje igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, com imagem doada pelas famílias de Manoel Justiniano e Josefa Leite Moreira à capelinha. Essa capela abraçava uma lagoa, um tanque maior, que ia até as bordas da Praça Clóvis Cardoso, onde os viajantes advindos das localidades de Brotas, Rosário Oeste, Sucuri, Nossa Senhora da Guia, Passagem da Conceição, Diamantino, entre outros, lavavam os pés. Daí a expressão “Lava pés”, bairro do Lava-pés”, rua Lava-pés, onde é o que conhecemos como da Rua 24 de Outubro. No entanto, nesse local a primeira missa campal foi realizada em 1955. Também nesse local construíram ainda o Educandário Santo Antônio, mantido pelas irmãs Franciscanas hoje desativado e o Salão Paroquial, e mais recentemente um anexo comercial com salão de festas, em espaço conhecido como Largo da Mãe dos Homens.

Em 1950 a prática do futebol era realizada no Estádio do Bosque Municipal, atual campo do Liceu Cuiabano “Maria de Arruda Muller”, cujo certame foi disputado pelo Mixto e Americano, antigos times de futebol de Mato Grosso. Esse terreno também pertencia ao bosque municipal

Em 1953, o governo municipal vetou a construção de um “play ground” no Bosque Municipal, projeto este, de autoria do deputado Manuel Miraglia. Interessante registrar que jornal da cidade de 1954 já alertava o município pelo adensamento do local e solicitava a elaboração de um plano urbanístico da cidade, utilizando a expressão “remodelação da cidade”, inclusive, incluindo o Bosque Municipal para evitar construções que pudessem destruir as reservas e as praças da cidade, conforme o acima citado. Hoje presenciamos que parte da área foi salva, outras a cidade engoliu.

O Jornal o Estado de Mato Grosso, do ano de 1968, em 18 de abril de 1968 informava que “está praticamente confirmada para o próximo dia das mães a inauguração da praça Santos Dumont, no antigo Bosque Municipal de Cuiabá”. Dessa forma, percebe-se que a Praça Santos Dumont foi inaugurada em maio de 1968, na administração do prefeito Frederico Carlos de Campos, que foi prefeito de Cuiabá de 1966-1969 e 1989-1992. Nesse período também, o prefeito remodelou a Praça da República para complementar a urbanização da Catedral Metropolitana de Cuiabá, concluída no decorrer de 1969, cuja pretensão era inaugurar nos 250º anos do aniversário de Cuiabá.

A Praça Santos Dumont sempre abrigou as comemorações cívicas populares, tais como, 7 de setembro, manhã de criatividade, pela casa da cultura, apresentação de bandas de músicas, exposição de painéis de poesias e trovas, festa de cururu e de siriri, desfiles de escolas municipais e carros alegóricos, festividades da semana da pátria, aniversário de Cuiabá, festividades cívicas, lançamento de livros, natal, etc.

Esse grande Largo da Mãe dos Homens fez brotar avenidas, praças, novas ruas e, hoje se encontra soterrado nas proximidades da rua 24 de Outubro com a avenida São Sebastião e Isac Póvoas, na praça Clovis Cardozo, no terreno da família do coronel Faustino Corrêa da Costa. Adeus Tanque do Curral Velho, um contribuinte do Córrego da Pólvora.

(*) NEILA BARRETO é Jornalista. Mestre em História. Membro da AML e atual presidente do IHGMT.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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