O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o partido decidiu, em reunião realizada nesta terça-feira (19), não reconhecer um eventual governo de Michel Temer. O partido pretende ainda intensificar as manifestações nas ruas para pressionar o Senado a não aprovar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, aprovado no domingo pela Câmara dos Deputados.
"O PT não vai permitir que ele ponha em prática seu programa. Não podemos permitir que depois de anos de avanço venha um cara sem voto, traidor, retirar direitos conquistados com muita luta. Não vamos permitir", afirmou Falcão.
"É muito mais do que oposição parlamentar só. É dizer para a população, para a sociedade, que com governo ilegítimo não tem paz, não tem estabilidade, tem luta", completou o presidente do PT após o encontro, na executiva nacional do partido em São Paulo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da reunião, mas saiu sem falar com a imprensa. A reunião produziu um documento de quatro páginas sobre as deliberações do partido.
O documento diz no final que "se a oposição de direita insistir na rota golpista, não haverá trégua nem respeito frente a um governo ilegítimo e ilegal".
Lula
Segundo Rui Falcão, a fala de Lula na reunião foi "emocionante". "Muitos companheiros chegaram a chorar", comentou. "Lula acha que foi importante a retomada das ruas e disse que vamos ter que continuar."
"Lula disse que, se por acaso o golpe se consumar, nós vamos ter um período de transição pela frente para nos preparar. Mas ele manifestou convicção muito grande de que esse movimento [de manifestações contra o impeachment] pode ser vitorioso no Senado", afirmou Rui Falcão.
O presidente da sigla disse ainda que o PT segue "a defender a reforma política" e que as manifestações "podem crescer em intensidade e convencer senadores a não terem mesmo comportamento [da Câmara]".
"Esse governo antidemocrático não será reconhecido por nós. Não terá o nosso apoio. Não haverá trégua e nem estabilidade para um governo não reconhecido por nós", disse Falcão sobre a possível chegada do vice Michel Temer à Presidência do país.
Solidariedade a Dilma e críticas a Cunha
No documento redigido na reunião no PT, o partido reitera "irrestrita solidariedade" à presidente Dilma Rousseff. Também faz duras críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Presidida por Eduardo Cunha - réu em graves crimes de suborno, lavagem de dinheiro e recebimento de propina - a Câmara dos Deputados foi palco de um espetáculo vexaminoso, ridicularizado inclusive pela imprensa internacional. O Diretório Nacional reitera a orientação da nossa bancada para prosseguir na luta pelo afastamento do presidente da Câmara dos Deputados", diz o documento.
Segundo o deputado federal Arlindo Chinaglia, que também participou da reunião, Lula disse que não imaginava que viveria esta situação, mas fez uma análise sólida das questões, como a possibilidade de realizar, ou não, novas eleições.
"Não dá para avaliar, até porque existiria uma contradição, como é que você propõe novas eleições tendo mandatos em curso. Não é um tema fácil do ponto de vista institucional. Do ponto de vista jurídico dependeria da presidente e do vice estarem de acordo. Ou poderia haver uma iniciativa do Congresso Nacional", afirmou.
"Agora, na Câmara, como ficou provado, a partir da oposição com seus vínculos financeiros, econômicos, optaram desde o primeiro ano de mandato de fazer um enfrentamento. Na prática, agravou a crise econômica real", afirmou Chinaglia. "Eu não sei exatamente quem teria condições de propor [novas eleições] e, repito, depende basicamente de quem está na presidência".
Chinaglia afirma que uma alternativa seria propor um plebiscito para a população decidir se quer voltar às urnas. “O Congresso não necessariamente representa a vontade popular. Agora, se você faz um plebiscito, aí sim você não tem nenhuma dúvida de que se a população decidir por novas eleições, isso pode e deve acontecer".
O deputado petista disse ainda que houve “um crescente aumento e fôlego do movimento de rua contra o impeachment" e pela "consciência democrática" e afirmou que não acredita que o governo Temer teria legitimidade para governar.