O Estadão entrou em contato com a defesa de Donda, que informou que irá se posicionar "após tomar ciência da questão" e os motivos que fundamentaram o mandado de prisão contra o cliente. O advogado de Joelson Aguilar dos Santos não respondeu, assim como o Bradesco, onde trabalhava Joelson, até a publicação desta reportagem.
A assessoria de imprensa de Dudu informou que o caso está sendo conduzido por sua equipe jurídica, liderada pelos advogados Adriana Cury e Cid Vieira. "Os advogados acreditam que as ordens de prisão de Thiago Donda, ex-assessor pessoal do jogador, e Joelson Aguilar dos Santos, ex-gerente do Banco Bradesco e responsável pelas contas bancárias do atleta, na época dos acontecimentos, são reflexo direto do que o inquérito policial apurou até o momento", diz a nota enviada à reportagem.
Os mandados de prisão preventiva de cinco dias foram emitidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) no dia 21 de agosto e cumpridos nesta segunda-feira. O mandado de prisão, ao qual a reportagem teve acesso, lista sete possíveis endereços em que o padrinho de Dudu poderia ser encontrado - seis destes na cidade de São Paulo e um em Campinas.
O caso veio à tona em fevereiro. No ano passado, a defesa de Dudu solicitou a instauração de inquérito no 15º Distrito Policial de São Paulo, que começou, então, a investigar as partes denunciadas. No centro da denúncia está Thiago Donda, amigo por anos de Dudu e uma das pessoas em quem o jogador mais confiava. Após a ação, o atleta cortou relação com o seu ex-assessor e desfez a amizade de mais de uma década.
A denúncia aponta que Thiago usou fichas bancárias com assinatura falsas de Dudu para desviar mensalmente dinheiro de uma conta no banco Bradesco em que o atacante recebia do Palmeiras os direitos de imagem, que, por lei, podem corresponder a até 40% do salário total de um jogador de futebol.
Além disso, Thiago atuou com a ajuda do gerente de uma agência do Bradesco em que Dudu mantinha conta e de um funcionário do 19º Cartório de Registro Civil de São Paulo, no bairro de Perdizes.
O gerente do banco, preso preventivamente nesta segunda-feira, foi demitido em dezembro de 2022. Já o funcionário do cartório não foi atuado neste primeiro momento. Como o inquérito não foi fechado, ele ainda poder ser incluído, caso a Justiça entenda dessa forma.
Dudu suspeita que Thiago desviava dinheiro de uma de suas contas desde 2015, ano em que o atleta se transferiu do Grêmio ao Palmeiras e contratou os serviços do assessor para lhe ajudar nas tarefas do dia a dia. Segundo a acusação, Thiago foi ganhando a lealdade e confiança do jogador e passou a ter acesso às finanças do atacante e a movimentar as contas bancárias do atleta sem ele saber.
Os advogados de Dudu avaliam que as fraudes cometidas foram: transferências e pagamentos de valores para conta de terceiros utilizando fichas internas com assinatura falsas; compensações de cheques com assinaturas falsas; débitos nas contas bancárias de produtos ofertados pela entidade bancária sem contratação e conhecimento das vítimas; operações de empréstimos mediante oferta de produtos; venda de títulos de capitalização sem autorização das vítimas; transferências de valores para conta de terceiros com autorizações preenchidas pelo gerente sem anuência do correntista;
Falsificações de assinatura; baixas de aplicações financeiras e resgates de ativos financeiros sem conhecimento das vítimas; utilização de PIX e TED não autorizadas.
Inicialmente, acreditava-se que o prejuízo era próximo à casa de R$ 18 milhões. Após nova análise, averiguou-se que o valor é de cerca de R$ 22 milhões. A defesa de Dudu pediu, no inquérito, que a polícia apurasse possíveis casos de estelionato, falsidade ideológica, associação criminosa, abuso de confiança, entre outros.
ASSESSOR, PADRINHO DE CASAMENTO E HOMEM DE CONFIANÇA
Os dois se tornaram próximos em 2010, quando Dudu jogava no Cruzeiro. Thiago frequentava a casa do atacante e convivia com os seus amigos e familiares. Inclusive, ia com frequência acompanhar o jogador nos treinos. Os advogados de Dudu consideram que o homem de confiança do atleta, uma espécie de seu braço direito, percebeu que ganhou a lealdade do jogador e viu nisso uma chance de aumentar seu patrimônio.
Em 2017, Dudu solicitou ao seu empresário, André Cury, que destinasse a Thiago parte do porcentual de sua remuneração ajustada no seu contrato. Em 2018, Thiago passou chamar atenção de outros atletas e abriu outra empresa de assessoria esportiva. Ele já era dono da BWF assessoria e agenciamento.
Em 2021, inaugurou a Nido Clínica de Estética Avançada e Medicina Esportiva, no bairro de Perdizes, em São Paulo. A defesa do jogador acredita que ele abriu esse empreendimento com os valores desviados das contas do atacante sem a sua anuência. Os dois eram tão próximos que Thiago foi padrinho de casamento do camisa 7 e estava presente na assinatura do último contrato de renovação de Dudu com o Palmeiras, no fim de 2022.
No pedido de abertura de inquérito, a acusação afirma que Thiago "optou pelo pior caminho, o da traição; da desonestidade; da quebra de confiança". Em agosto de 2023, quando descobriu parte dos golpes de que estava sendo vítima, Dudu foi confrontar o seu assessor em troca de mensagens pelo WhatsApp. "Eu vou pagar. Segura isso, por favor. Estou te pedindo como irmão, de coração mesmo. Me desculpa. Se falar qualquer coisa com alguém aí acabou pra mim. Não consigo fazer mais nada e nem pagar", teria dito Thiago Donda, ex-assessor de Dudu.
Dias depois dessa conversa, Dudu recebeu os extratos bancários que comprovaram consecutivas transferências bancárias que favoreciam Thiago e sua empresa, a BWF, e passou a ter conhecimento da dimensão do desfalque milionário que havia sofrido. Depois disso, os dois romperam relações e a amizade terminou.
(Com Agência Estado)
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