A última sexta-feira havia combinado decepção com os estímulos chineses a preocupações domésticas derivadas de inflação em 12 meses acima do teto da meta, na leitura do IPCA de outubro, e demora na entrega do pacote de cortes do governo, que ingressa hoje na terceira semana de espera pelo mercado - e sem data definida para o anúncio. O resultado, embora mais discreto, foi semelhante ao das sessões anteriores: Ibovespa contido, tendendo ao negativo ante o avanço do dólar - em alta de 0,59%, a R$ 5,7695 no encerramento - e da curva do DI.
Assim, no fechamento, o índice mostrava virtual estabilidade (+0,03%), aos 127.873,70 pontos, um pouco mais perto da máxima (128.095,17) do que da mínima (127.306,45) da sessão, em variação de menos de 800 pontos entre os extremos do dia. O giro ficou em R$ 20,4 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa acumula perda de 1,42% e, no ano, recua 4,70%. A estabilidade do Ibovespa na sessão foi favorecida por Petrobras (ON +0,15%, PN +0,19%), na contramão de perdas em torno de 3% para o Brent e WTI, no fechamento.
Na ponta ganhadora da sessão, Cogna (+8,82%), Yduqs (+5,87%) e PetroReconcavo (+4,71%), após anúncio da aquisição de unidade de processamento de gás na Bahia. No lado oposto, três representantes do setor metálico: além de Vale, destaque para Usiminas (-2,56%) e CSN (-3,91%). Totvs também figurou entre as maiores perdedoras da sessão, em baixa de 2,79%.
Após uma semana "conturbada" e de muita volatilidade - com os investidores domésticos tendo ponderado também o resultado da eleição americana -, prevaleceu nesta segunda-feira uma "correção de movimento", com o mercado ainda mostrando "cautela" até que o governo mostre "alinhamento quanto à responsabilidade fiscal", observa Brayan Campos, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
De fato, até o fim de semana, a percepção era de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apesar de ter insistido na necessidade de equilíbrio também para ministérios que, aparentemente, resistem a cortes - como os do Trabalho e da Previdência - estaria encontrando forte resistência a seus argumentos e tentativas de convencimento - e sob os olhos do presidente Lula, o árbitro final da disputa. Uma série de reuniões tomou a semana passada, até aqui inconclusivas.
Diversos analistas econômicos têm enfatizado a importância de se chegar logo a entendimento sobre os cortes de gastos, que melhore a percepção sobre a trajetória do endividamento público e mantenha o arcabouço fiscal de pé. O cenário se tornou mais desafiador com a esmagadora vitória de Donald Trump, também para o Congresso, o que tende a reforçar a implementação de sua linha de governo, vista como deficitária, inflacionária e protecionista - com efeitos negativos para a China, importante mercado para commodities aqui produzidas, e para o próprio Brasil.
"O IPCA da última sexta-feira, ao sinalizar uma inflação persistente e acima do teto da meta, exige uma resposta firme do Banco Central. Porém, o risco é de que um aumento adicional da Selic desacelere a economia sem resolver o problema fiscal de longo prazo, que exige uma resposta governamental mais urgente e concreta", resume Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital.
(Com Agência Estado)
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