Como anunciado ontem à noite, o BC realizou logo após a abertura do mercado leilão de venda de US$ 3 bilhões de moeda à vista, totalmente absorvido. Foi pouco para o apetite dos investidores. Tanto que o dólar seguiu em alta e alcançou a marca de R$ 6,30 na máxima. Logo em seguida, o BC ofereceu US$ 5 bilhões em nova operação. Foi o maior valor para um único leilão da história do regime de câmbio flutuante, acima do registrado em 9 de março de 2020.
A atuação surtiu efeito e levou o dólar para o terreno negativo. O real, que nos últimos dias amargou o pior desempenho entre as principais moedas globais, apresentou hoje os maiores ganhos. Divisas pares como os pesos mexicano e chileno também se apreciaram, mas com valorização abaixo de 1%.
Já o índice DXY - que mede o comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes - apresentou alta moderada, em razão do tombo do iene. Investidores ainda digerem a sinalização de ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de menos espaço para corte de juros nos EUA em 2025.
Em entrevista para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a demanda no primeiro leilão do dia foi maior do que a estimada pelo BC e, que por isso, a instituição decidiu intervir novamente. Segundo Campos Neto, o fluxo financeiro está bastante negativo, com saídas maiores do que a média dos últimos anos, com pagamento de dividendos e remessas de pessoal físicas.
O diretor de política monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, refutou a ideia de ataque especulativo contra o real e alertou que não é correto tratar "o mercado como um bloco monolítico". Nos últimos dias, o BC vendeu US$ 13,7 bilhões em leilões de moda à vista, o que representa 3,5% das reservas cambiais.
O gestor de macro da AZ Quest, Gustavo Menezes, avalia que o BC, após um mapeamento da necessidades do mercado, cumpriu seu papel com intervenção pesada no câmbio em um momento do ano já marcado por saída mais forte de recurso do país.
"O mercado deve ter demandado hoje uma atuação mais firme. O BC consegue cumprir seu papel. Mas a solução do problema não passa por ele, mas por uma vontade política de reverter essa situação fiscal. Por enquanto, o governo não tem dado o peso e a importância necessária para isso", afirma Menezes.
No início da tarde, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que a Casa terminaria a votação das medidas de ajuste fiscal hoje. Ontem, ele havia adiado a apreciação do pacote pretextando que faltavam votos para aprovação.
A Câmara aprovou em dois turnos o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição do pacote fiscal, que traz alterações no abono salário e no Fundeb. A PEC também impõe limites aos supersalários e prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU), além de autorizar o ajuste orçamentário em subsídios e subvenções. Após o fechamento, houve a votação da PEC em segundo turno.
Como esperado, há pontos que levam a uma desidratação das medidas, já vistas como insuficientes. Economistas trabalham com uma economia entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, muito aquém dos R$ 71 bilhões estimados pelo Ministério da Fazenda. Há expectativa é que o governo traga novas ações no campo fiscal em 2025, como já sinalizado pelo ministro Fernando Haddad.
Para Menezes, da AZ Quest, além de o pacote fiscal frustrar as expectativas do mercado, houve uma quebra de confiança com a falta de um trabalho de coordenação de expectativas pelo governo em meio a uma realidade global "mais desafiadora".
"O mercado jogou a tolha com um esforço fiscal pequeno e ainda por cima desprezou todas as críticas que foram feitas. O problema fiscal não está sendo tratado com a devida seriedade", diz o gestor.
(Com Agência Estado)
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