A pedagoga cuiabana Waleska Spinelli Pimenta, 52, resolveu quebrar o silêncio após 23 anos de angústia. Ontem ela expôs ao Diário o drama de ter sido uma das vítimas do médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de cadeia por abusar sexualmente de suas pacientes. Foragido do país há três anos, ele foi preso no último dia 18 de agosto no Paraguai. Waleska foi a primeira mato-grossense a revelar publicamente ter sido vítima do médico.
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A segunda, que vinha a ser a última, consulta com Roger aconteceu de forma individual na clínica na capital paulista. “Meu ex-marido foi encaminhado para uma sala, onde ele iria colher o material e eu fiquei no consultório do Roger aguardando. De repente, ele começou a denegrir a imagem do meu ex-marido, dizendo que ele só queria o filho e estaria me usando para isso”, contou a pedagoga.
“Em seguida ele ressaltou que estava ali disposto para ajudar no que pudesse, afirmando que era estéril e que, para não expor a esposa a tratamento, se casou com uma mulher que já tinha três filhos”, contou. Abdelmassih se levantou, foi em sua direção e perguntou se ela preferia um encontro em São Paulo ou Campinas.
“Eu questionei se a clínica de São Paulo não era mais preparada para o trabalho. Aí ele disse que não era para o tratamento, e sim, para um encontro íntimo”. Em seguida, conta, ele disparou dizendo que a paciente estava muito carente. Ela, então, se levantou para sair da sala e Abdelmassih a jogou contra a parede, tentando consumar o abuso, segundo o relato feito ao Diário.
Waleska conseguiu empurrá-lo e, com um chute na virilha, escapou até a porta. “Foi aí que gritei, disse que ia contar tudo para o meu ex-marido. Cheio de si, disse que ele não iria acreditar. Ele ainda me ameaçou, dizendo que se eu contasse, ia dizer que eu estava carente e me declarei para ele”, relatou.
Naquele dia, Waleska diz ter “perdido o chão”. Ela havia engordado mais de 50 quilos devido aos problemas emocionais, que se agravaram depois do episódio. Roger ainda declarou que não temia as denúncias, pois no céu era Deus e ele na Terra. “Ele dizia que era o papa da fertilização e que estávamos na mão dele”, acrescentou.
Após esse episódio ela só pensava em sumir, mas continuou o tratamento na clínica, sendo atendida pelo assistente de Abdelmassih. O médico teria continuado o assédio por meio de bilhetes. Na época ela pensou em denunciar, mas ficou assustada com as ameaças. O tratamento não deu certo.
Em 1993, o ex-marido voltou a pedir a retomada do tratamento, mas ela não aceitou. Foi então que Waleska falou sobre o assedio. Waleska contou ao ex-marido, que não acreditou. O relacionamento, que estava em crise, chegou ao fim.
Waleska nunca escondeu a história das pessoas mais próximas, embora ninguém tenha acreditado. Em 2008, quando o médico foi denunciado e outras vítimas começaram a aparecer, ela ficou de cama. “Foi um choque. O que ele fez com todas nós, a humilhação sofrida, a gente não supera”.
Ela buscou o Ministério Público, e se identificou como vítima. A partir daí, prestou depoimento e começou a participar do grupo de vítimas. “Participei de todo o processo. Para mim, foi como tentar limpar a dor sofrida nos últimos anos, mas ela está no lugar mais íntimo da gente”.
Hoje, de alma lavada, Waleska vai levando a vida ao lado de seu filho, de quatro anos. A adoção aconteceu em 2010, e segundo ela, é o maior presente que poderia ter recebido. “Deus me refez, depois de 9 anos em depressão, voltei a sorrir novamente”.
Roger Abdelmassih é acusado de ter cometido abuso sexual contra 37 mulheres.
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