No ano passado, São Paulo registrou mais de 2 milhões de casos prováveis de dengue, maior número de sua história. Em 2025, já são 29.604 casos e seis óbitos confirmados, e 31 municípios decretaram estado de emergência.
A preocupação do secretário é compartilhada por outras autoridades presentes no evento, como Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, e está relacionada à existência de diferentes sorotipos (DENV-1, 2, 3 e 4) e à forma como reagimos diante da infecção.
Ao contrair dengue, a pessoa fica imunizada permanentemente para o sorotipo que causou a infecção, mas não para os outros - por isso é possível contrair a doença até quatro vezes.
Além disso, em uma reinfecção com sorotipo diferente, nosso sistema imunológico fica confuso. Ele interpreta erroneamente o novo sorotipo como sendo o mesmo da infecção anterior, desencadeando uma resposta imune exacerbada.
Nessa circunstância, o organismo produz anticorpos "desatualizados" - eficazes apenas contra o primeiro sorotipo - que não conseguem neutralizar o novo vírus e, paradoxalmente, facilitam a replicação e a entrada do invasor nas células. Como resultado, há um maior risco de formas graves da doença.
Retorno do sorotipo 3
No ano passado, quando o Estado atingiu o recorde de infecções, os sorotipos de maior circulação foram o 1 e o 2. O sorotipo 3 retorna ao País após décadas, o que significa que há uma grande parcela da população sem defesas e, assim, suscetível à infecção. Ou seja, há uma grande preocupação com o possível aumento de casos de reinfecção.
"É isso que nos angustia. Portanto, talvez neste ano nós tenhamos mais casos de dengue grave. Por isso o manejo clínico é extremamente importante", disse Paiva no evento, que reuniu os secretários municipais de Saúde.
De fato, embora não haja um remédio ou terapia específico para a dengue, as mortes são consideradas evitáveis. A boa evolução do paciente depende da identificação precoce de sinais de alarme, que indicam um agravamento do caso, e também da celeridade no início do tratamento, focado principalmente na hidratação do paciente.
De acordo com Regiane de Paula, diretora da Coordenadoria de Controle de Doenças de São Paulo, o sorotipo 3 ressurgiu no Estado no ano passado "de uma forma bastante rápida".
Questionada sobre a porcentagem de infecções causadas pelo DENV-3, ela afirmou não ter a proporção. "Não é nem epidemiologicamente correto a gente quantificar neste momento. Mas sei por onde ele está entrando", afirmou.
"É pela região do noroeste paulista, São José do Rio Preto, e ele vai começar a descer, porque é natural", disse Regiane. "Tem um pouco já do município de São Paulo, região metropolitana também."
Ação estadual
A reunião foi marcada pela empolgação diante do anúncio de início de fabricação da vacina contra dengue do Butantan. A expectativa do instituto é fabricar 1 milhão de doses em 2025 e mais 100 milhões nos próximos três anos.
O imunizante, porém, ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O pedido está em análise no órgão e a expectativa é de que o parecer seja divulgado até meados de março.
Além disso, a vacina disponível no País, a Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, tem produção limitada e distribuição restrita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dessa forma, as autoridades deixaram claro que não há expectativa de vacinação em massa para 2025, em linha com o posicionamento do Ministério da Saúde.
Significa que o combate à dengue em São Paulo deve focar nas medidas tradicionais, como conscientização sobre a eliminação dos criadouros dos mosquitos - a maioria deles está em áreas domiciliares - e uso de inseticidas.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) prometeu encaminhar R$ 228 milhões aos municípios até sexta, 24, para que eles possam investir nessas medidas. Parte do montante é referente ao adiantamento da quota fixa do Incentivo à Gestão Municipal do SUS São Paulo (IGM SUS Paulista).
(Com Agência Estado)
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