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Faltava menos de um mês para chegada dos participantes da competição que reuniria as melhores qualidades dos animais: destreza, força, habilidade! E paixão.
Estranho sentir no pelo que o que havia no ar não era aquele frenesi costumeiro. E, lá na selva, com tantos olfatos apurados, já era piação corrente que aquela onda não era boa...
A macacada pulando de galho em galho não falava dos competidores, da esperança de vitória. Faltavam os palpites da papagaiada.
Bem que a enta anta poderosa, toda a entourage, o staff, a comunicação oficial e os patrocinadores insistiram e rebateram o assunto quase obrigando a bicharada a entrar no coro. Só que a coisa não pegava. Era como se tudo aquilo estivesse descolado da realidade.
A vida não andava nada fácil na floresta, onde cada vez se pagava mais por menos, não havia como se locomover, os serviços estavam péssimos, a violência explodia... horror dos horrores, podia faltar água! Como o mundo animal poderia aplaudir ou torcer em meio a tanta confusão?
Nem os próprios conselheiros se entendiam mais (melhor não dar nome aos bichos, cada um escolha a seu bel prazer). Um dizia que o gabinete florestal estava segurando os preços. O outro vinha e afirmava, quase mordendo, que o tagarela estava enganado.
Enquanto isso, os súditos sabiam por experiência própria que os tais preços já haviam disparado e iriam às alturas de novo na data em que a liberação fosse oficial. Mas isso, só depois do espetáculo vendido de porteira fechada para a fauna exótica invasora. Claro que a fauna sacou a manobra. Uma beleza.
Quer dizer, mais ou menos, para menos. Aconteceu que as benfeitorias exigidas por contrato e outros serviços essenciais como transporte, hospedagem, saúde e segurança, (contratadas por um vantajoso sistema que acessou o pote de ouro dos duendes da jungle sem maiores exigências, burocracias e controle), não ficaram prontas. Simples assim.
Enquanto as hienas morriam de rir e surrupiavam umas muitas moedas por baixo do pano, grande parte da bicharada assistia impotente aos fatos que se desenrolavam, afetavam diretamente suas vidas e estavam virando rotina.
Isso alterou o estado de ânimo geral. As mensagens que foram sendo espalhadas pelas trilhas que levavam às beiras dos rios, onde a onça sempre bebeu água, assim como a maioria dos animais, era a mesma: De novo não!
Não foram sentimentos de euforia ou de medo como pregaram os abutres, arautos da desgraça e ávidos por mais e mais carcaças, que impediram os animais de torcerem (afinal, jogo é jogo e campeonato é campeonato) apaixonadamente. Contra ou a favor.
E foi com essa mesma paixão despertada e um entusiasmo ainda maior que mostraram para o mundo, incluindo a enta anta, ados, ores, íticos em geral e patrocinadores que no fundo da selva, assim como existiam duendes, havia também um gigante.
Camuflado na floresta ele podia acordar a qualquer momento, afinal como filho de Deus também era fã de uma partida esportiva. O ar diferente era de sua respiração ao começar a acordar. E a floresta aguardou os acontecimentos...
*VALÉRIA DEL CUETO é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Parador Cuyabano”, do SEM SIM... delcueto.wordpress.com
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Gilmar Maldonado Roman 19/05/2014
Excelente artigo/crônica da Valéria Del Cueto. Parabéns e sucesso!
DOMINGOS SÁVIO 18/05/2014
Espetacular o texto na sua íntegra!!! Prende o leitor no início ao fim, com o mesmo entusiasmo. ..."Enquanto as hienas morriam de rir e surrupiavam umas muitas moedas por baixo do pano, grande parte da bicharada assistia impotente aos fatos que se desenrolavam, afetavam diretamente suas vidas e estavam virando rotina."
2 comentários