Arcebispo emérito de Olinda e Recife, Dom Helder Pessoa Camara foi um dos mais influentes e carismáticos líderes religiosos e sociais do Brasil no século XX. Ele se destacou por sua luta incansável contra a pobreza, a desigualdade e a violência, sendo um dos principais expoentes da Teologia da Libertação e um defensor fervoroso dos direitos humanos. Sua trajetória de vida foi marcada por um profundo compromisso com os mais necessitados e por uma atuação política corajosa em um dos momentos mais difíceis da história brasileira.
Nascido em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, no Ceará, Dom Helder cresceu em uma família católica e desde cedo demonstrou vocação para a vida religiosa. Com apenas 14 anos, ingressou no seminário e, em 1931, foi ordenado sacerdote. Desde o início, seu ministério foi caracterizado por um forte engajamento social, algo que o acompanharia por toda a vida.
Durante sua juventude, teve uma breve passagem pelo integralismo, um movimento político de inspiração fascista, mas rapidamente se afastou dessas ideias ao perceber a incompatibilidade entre essa ideologia e os ensinamentos cristãos. Com o tempo, desenvolveu uma visão progressista, comprometida com a justiça social e os direitos dos mais pobres.
Nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro em 1952, fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e teve papel fundamental na criação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Nessas instituições, articulou a presença ativa da Igreja na defesa dos pobres e marginalizados.
No contexto da década de 1960, Dom Helder foi transferido para Olinda e Recife. Ali, assumiu o arcebispado, intensificando a atuação em defesa dos direitos humanos. Em pleno regime militar, denunciou as implacáveis perseguições políticas. Com uma postura firme, foi duramente reprimido, censurado, havendo tentativa de desacreditar seu trabalho, rotulando-o como "bispo vermelho".
Apesar das ameaças e perseguições, Dom Helder seguiu inabalável em sua missão. De uma Igreja voltada para os pobres, se opunha às injustiças sociais de forma pacífica, mas contundente. Sua frase "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista" se tornou um dos mais poderosos símbolos da luta por justiça social.
“O apóstolo da paz e da justiça social” foi um dos grandes inspiradores da Teologia da Libertação, uma corrente teológica que propunha a leitura do Evangelho à luz das realidades sociais, econômicas e políticas dos mais pobres. Convicto de que a Igreja deveria ser um instrumento ativo na transformação da sociedade, lutou contra a opressão, promovendo a dignidade humana.
Sua luta teve reconhecimento internacional, sendo indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Recebeu prêmios e homenagens de diversas organizações ao redor do mundo e foi convidado para palestras em vários países, onde anunciava sua visão de um mundo mais justo e solidário. A paz, para esse apóstolo de Cristo, não era ausência de conflito, mas presença de justiça.
Dom Helder Camara faleceu em 27 de agosto de 1999. Seu exemplo de coragem, compromisso com os pobres e sua luta incansável por direitos humanos continuam a inspirar ativistas, religiosos e líderes sociais ao redor do mundo.
A Igreja católica reconheceu sua importância e, em 2015, a Arquidiocese de Olinda e Recife iniciou o processo de sua beatificação. Na lição de Cora Coralina: “Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos.”
É por aí...
(*) GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT.
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