| Arquivo Pessoal |
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Eu e o homem que foi por mim amado com a maior ternura, (para não dizer, loucamente) constituímos uma família que hoje está na terceira geração. Aos nossos filhos passamos os valores morais e éticos. Meus filhos, que também, com suas companheiras, constituíram famílias cuiabanas, sei que repassaram nossa linha de conduta. Não somos todos santos, mas dentro da nossa formação existe o conceito do fraternal e respeitoso convívio.
Quando cheguei a Cuiabá, ao 16 anos, o que logo percebi e assimilei, e de forma duradoura, foi a solidariedade. Agora digo: Bendita CUIABÁ, quando longe, às vezes perto do mar bicolor, algumas vezes verde, outras azul, revolto, belo. Ao olhá-lo, fiz uma analogia - amor temperamental. Intempestivamente suas espumas brancas beijam Freneticamente as impassíveis e carnalmente mornas areias das brasileiras praias que vivem,inverno ou verão,ao sabor do ar e do mar sempre iguais a espera do beijo que não lhe falta nunca.
A beleza nos desperta um sentimento ímpar, mas mesmo assim, talvez pela vivência desde a juventude, sinto no meu peito, acredito, o "banzo" que fora sentido pela alma africana. A saudade da mansidão, da calma, do meu, do nosso rio Cuiabá. Ele vai deslizando sobre seu leito, (e lá venho eu com minhas comparações) como o enamorado quando é levado a se despedir, beija carinhosamente, furtivamente, as folhas dos sarãs. No toque morno de suas águas, vai deixando saudade do momento vivenciado nas verdes folhas, nas terras das barrancas, sempre úmidas do desejo que o rio satisfaz quando as tocam nas épocas em suas águas sobem aumentando-o de potência.
Sem revolta,o rio sabe que seu destino o levará para longe da fonte que o criou. Com outros ainda mais caudalosos, o rio Cuiabá deixará a doçura do viver ao se transformar nas salinas águas cromatizadas de azul e verde. E a fonte que gerou o rio cuiabano, fico pensando, continuará na sua missão e, com certeza, feliz por saber que suas águas não morrerão, mas sim, continuarão seguindo ao encontro do seu destino.
Novas terras, novos viventes cujos dermas de cores variadas serão igualmente banhados. O nosso rio que já não é o mesmo, encorpado a outra vivência, tem no entanto que o Céu, a lua, o sol foram criados não só para si, mas para todos. Esta é uma verdade irrefutável.
As estrelas brilharão sempre longe, mas continuam de uma beleza fulgurante. Os que não podem vê-las poderão sentir na pele de sua face, nas pálpebras, se a cerrarem, o frescor dos dos ventos alísios.Eles podem trazer segredos que ouvidos dos que trazem amor e ternura no coração entendem.
Os Alísios nem sempre são calmos, eles algumas vezes se enfurecem. Mas mesmo que tenhamos vontade, o que é normal em todo animal, graças a Deus, somos o bicho homem e como homem, podemos nos dominar.
Louvado seja DEUS!
* MARIA LYGIA DE BORGES GARCIA é poetisa, escritora, ex-primeira-dama de Cuiabá e de Mato Grosso e escreve para HiperNotícias.
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