Neste enxame produzido pela quantidade e capacidade de se juntar virtualmente, estamos cada vez mais atravessados com o que vemos e ouvimos através do nosso computador de mão.
O que percebemos é que a tecnologia é condição sine-qua-non para que possamos nos relacionar, viver, existir no ambiente do século 21.Contudo, passou a ser utilizada no sentido de que o homem se lança à ilusão do domínio da natureza. Ou seja, passamos do limite em certas situações.
Byung-Chuk Han indica duas questões que nos chamam a atenção para o excesso de tecnologia no qual vivemos: a falta de respeito e a desmediatização.
Na primeira questão, relata o sul coreano radicado na Alemanha, a mídia digital desconstrói o respeito. Isso porque a onda do que ele chama de “tempestade de indignação” ou Shitstorm é anônima. Para chegar a isso conclui que o respeito está ligado aos nomes, se você conversa com Ana ou Paula lhe confere certa responsabilidade do que você está dizendo, do que está emitindo. A mídia digital possibilita que a mensagem seja separada do mensageiro, isso faz com que o nome caia, não tenha importância. E quando isso está junto com a horizontalidade da internet, quando o destinatário também é remetente, que também produz e consome, questões hierárquicas de poder são suspensas.
O Shitstorm é o contrafluxo do respeito nas redes, é ferramenta de campanhas difamatórias contra pessoas e empresas. O respeito exige distância. O Shitstorm está em expansão para todos os lugares, dirá Byung-Chuk Han, fruto de uma sociedade que não semeia o respeito recíproco. Em outra face, a comunicação digital proporcionou a espontaneidade dos afetos instantâneos, muito mais do que a comunicação analógica. Vale ressaltar: atualmente é Soberano quem dispõe do Shitstorm da rede.
A mediação e representação na mídia digital são interpretadas como ineficientes e não transparentes, como algo que pode congestionar o tempo e as informações.
Desmediatizar generalizadamente é encerrar a representação.
Por exigir fortemente a presença, a mídia digital ameaça a questão da representação. Para o filósofo, a representação funciona como um filtro positivo, atua na seleção e torna o exclusivo possível. Para exemplificar ele utiliza a literatura como cenário. Ao cultivar a linguagem as editoras promovem formação cultural e espiritual, insere filtro para que narrativas sejam qualificadas. Agora é possível escrever um livro sem precisar agradar as editoras porque o autor é leitor e vice-versa. Desmediatizar favorece a massificação, em contrapartida a linguagem e a cultura se achatam, embora estejam em expansão.
A crescente desmediatização se entende e interfere nas relações entre pais e filhos, entres alunos e professores, na política, na economia. Afinal, estamos saboreando uma nova estética da realidade, um espaço-entre, o aqui e lá ao mesmo tempo, o virtual e real. Esta estética é reconhecida como vibração, oscilação e simultaneidade. Diferente do pensamento da física clássica, quando Isaac Newton postulou que a organização do mundo em termos geográfico e cronológico se dava pelo movimento, trajetória e duração.
Podemos perceber que desmediatizar é causar um ruído, nos retirando de uma centralidade do ser - ao que aconselha Byung-Chuk Han: “O medium do espírito é o silêncio. Claramente a comunicação digital destrói o silêncio. O aditivo, que produz o barulho comunicativo, não é o modo de proceder do espírito”.
(*) ALIANA CAMARGO COSTA é jornalista, Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT e Doutoranda em Educação pelo Programa de pós-graduação em Educação da UFMT.
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