Durante as décadas de 1930, 40,50, 60, 70 e parte da de 80, um homem de olhar atento e câmera em punho se tornou presença indispensável em todos os acontecimentos importantes de Cuiabá. Seu nome era Lázaro Papazian, mas para os cuiabanos ele sempre foi o Cháu — apelido nascido da dificuldade de pronunciar seu sobrenome e da forma carinhosa como se despedia: “Ciau”.
Nascido em 15 de agosto de 1906, em Erevan, capital da Armênia, Cháu fugiu ainda jovem dos horrores da Primeira Guerra Mundial. Depois de muitas andanças, chegou ao Rio de Janeiro, onde conheceu o médico e então governador eleito de Mato Grosso, Mário Corrêa da Costa, e foi convidado por ele para registrar sua posse em 22 de janeiro de 1926.
Esse momento marcaria o início de uma trajetória brilhante como testemunha ocular dos grandes marcos da história cuiabana. Lázaro Papazian chegava a Mato Grosso e dava início à sua trajetória como primeiro repórter fotográfico e cinematográfico do Estado.
Fundador do lendário Studio-Cine Foto Cháu, inicialmente na Rua do Meio (hoje calçadão da Ricardo Franco) e mais tarde no cruzamento da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Barão de Melgaço, Cháu registrou com sua câmera — uma robusta Speed Graphic americana com “film pack” de alta nitidez — os principais marcos da história cuiabana. Sua lente captou desde a transformação urbana da cidade até a vida cotidiana de seus habitantes.
Entre os inúmeros trabalhos, dois tinham lugar especial em seu coração: as imagens da demolição da antiga Igreja do Bom Jesus de Cuiabá, substituída pela atual Catedral Metropolitana, e a partida dos pracinhas mato-grossenses para a Segunda Guerra Mundial. Essas fotos, carregadas de simbolismo e emoção, hoje são parte fundamental da memória visual do nosso povo.
Mas Cháu foi além da fotografia. Foi boxeador e árbitro, dirigiu time de futebol, abriu cinema e hotel, teve representação comercial, editou jornais e foi correspondente de revistas e periódicos do Sudeste e arrendatário das termas águas quentes. Um homem de múltiplas habilidades, mas com uma única paixão dominante: fotografar.
Pelo seu trabalho e dedicação, foi agraciado, no início da década de 1960, com o título de Cidadão Cuiabano — a maior honra que recebeu em vida, reconhecimento merecido por tudo que fez por esta terra que escolheu como sua.
Em 17 de abril de 1991, aos 84 anos, Lázaro Papazian – o eterno Cháu – nos deixou. Em mais de 60 anos de carreira, registrou com sensibilidade os momentos que moldaram nossa identidade. A imprensa da época sintetizou bem sua partida: “Cuiabá perdeu um pedaço de sua imagem” (A Gazeta, 18/04/1991).
Hoje, seu nome é parte do acervo do Museu de Imagem e Som de Cuiabá, onde permanece como guardião silencioso da história que ele ajudou a construir, quadro a quadro.
A trajetória de Cháu é a prova viva de que Cuiabá tem história, e ela foi contada por olhos atentos e mãos firmes atrás de uma lente.
Viva Cuiabá! Viva sua memória! Viva Cháu!
(*) FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA é Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.