Cultivar uma persona faz parte do jogo para as maiores estrelas pop do mundo. É essa figura que os fãs idolatram, que os extasia e os mantém absortos. A pessoa por trás do ícone raramente é uma réplica de sua imagem pública. Dentro de casa, longe de qualquer holofote, Anitta, a diva brasileira mais influente fora do país desde que Astrud Gilberto entoou sua famosa versão de Garota de Ipanema há 60 anos, se permite experimentar seu verdadeiro eu.
Cercada pela mata da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, Larissa de Macedo Machado – mulher por trás do fenômeno que levou o funk carioca dos bailes de favela aos clubes mais exclusivos do planeta – encontra abrigo. Após conquistar e testemunhar de tudo (só em 2024, estreou sua primeira turnê mundial, passando por 13 países, dividiu palco com Madonna, fez The Weeknd render-se ao som brazuca e foi indicada ao Grammy, num breve resumo), ela busca desacelerar e desfrutar os próprios triunfos.
Decretou, portanto, ser inegociável morar rodeada de verde, na companhia de saguis e outros animais que a visitam junto de sua matilha, liderada pelos cães-celebridades Plínio e Charlie. “Senti que precisava estar em um lugar onde pudesse me conectar com a natureza e, principalmente, comigo mesma”, reflete. “Sou uma pessoa totalmente diferente agora. Mais madura, sei exatamente o que quero – e quero bem menos. Hoje, sou mais caseira, tenho mais tempo para aproveitar minha casa e minha família.”
Símbolo de uma nova geração de pop stars globais, cuja origem geográfica é um trunfo, não um obstáculo, Anitta pode ser considerada atualmente a maior expressão cultural brasileira além-fronteiras. Não por acaso, sua morada enaltece arte contemporânea e popular sem distingui-las, desvelando uma decoração que abraça diferentes Brasis. “Nossa cultura é uma mistura do que há de melhor no mundo. Essa receita formou o Brasil. Um misto de ancestralidade e descobertas próprias. Abrasileiramos e criamos nossa própria cultura, que é rica em todos os sentidos”, observa a cantora.
"Nossa cultura é uma mistura do que há de melhor no mundo. Um misto de ancestralidade e descobertas próprias" — Anitta
Exemplos práticos: de Planaltina, DF, vieram as peças de barro da coleção Tijolinho, criadas por artesãs do Instituto Maria do Barro e inspiradas nos casebres das comunidades locais; de seu ateliê em Ramos, no subúrbio carioca, o artista plástico Bruno Lyfe pintou especialmente para o hall de entrada Look Mom I Can Fly, tela que retrata crianças periféricas em busca de seus sonhos. “Temos itens maravilhosos que fiz questão de mostrar, pela luta e história de cada um. Alguns ainda anônimos, mas poderosos no que fazem.”
"Mais madura, sei exatamente o que quero — e quero bem menos. Tenho mais tempo para aproveitar minha casa e minha família" — Anitta
Adquirida em meados do ano passado, a residência de 1,5 mil m² no Itanhangá, zona oeste da cidade, foi redesenhada em tempo recorde. Como nada é irrealizável quando se trata da artista, seis meses bastaram para concluir a obra prevista para durar um ano e meio. Para isso, a equipe liderada pelos irmãos Carlos e Caio Carvalho, sócios do Studio Roca, listado no Casa Vogue 50, triplicou, e cerca de 80 profissionais trabalharam simultaneamente na reforma. A maior mudança deu-se no living, onde um pilar estrutural que sustentava o telhado veio abaixo a fim de ampliar o espaço para as famosas festas e confraternizações em família.
"Há referências não só à minha religião, o candomblé, mas também ao budismo e ao hinduísmo" — Anitta
Assim como guiou cada passo de sua carreira, Anitta esteve atenta a todos os detalhes do trabalho, ainda que uma das agendas mais atribuladas do showbiz impedisse a sua presença física. Infindáveis trocas de mensagens e áudios pelo celular, muitos deles viralizados nas redes sociais, marcaram a jornada que rendeu uma cena improvável: empenhada em idealizar a morada dos sonhos, ela baixou um aplicativo de modelagem, aprendeu a usá-lo e “arquitetou” o projeto exatamente como gostaria. “Fiz apenas três visitas em todo o processo”, relembra. “Eu sou assim. Tenho pressa de tudo e sou muito controladora. Só o fato de os arquitetos terem paciência para lidar comigo e com minha falta de tempo foi excepcional. E o mais importante: a casa ficou incrível e fora do óbvio”, diz, com a certeza imperturbável de quem pode alcançar qualquer local no mundo, mas sabe a que lugar realmente pertence.
Vídeo: Raphael Borges. Direção de vídeo: Skylar Economy. Som direto: PC Azevedo/Be Sound. Edição de vídeo: Gabriel Morais. Assistente de produção: Paola Gusman. Assistente de fotografia: Victor Frezza. Styling de moda: André Philipe/One Stop MGT. Produção de moda: Vic Moulin. Beleza: Henrique Martins. Assistente de beleza: Julio Cardim
*Matéria originalmente publicada na edição de março/2025 da Casa Vogue (CV 470), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.
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