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Polícia Segunda-feira, 30 de Setembro de 2024, 13:36 - A | A

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Segunda-feira, 30 de Setembro de 2024, 13h:36 - A | A

COLOCOU TORNOZELEIRA

Candidato a vereador se apresenta em delegacia com comitiva e cinco são presos

Ary Campos estava acompanhado de uma comitiva de aproximadamente 50 pessoas. Dessas, cinco pessoas foram presas e uma adolescente apreendida por envolvimento em crimes. Uma moto produto de furto foi recuperada

DA REDAÇÃO

O candidato a vereador por Rondonópolis, Ary Campos (PT), conhecido como 'Capitão', se apresentou na Delegacia do município para colocar tornozeleira eletrônica, nesta segunda-feira (30). Ele foi alvo de medida cautelar no âmbito da Operação Infiltrados, deflagrada pela Polícia Civil na última sexta-feira, 27 de setembro, para cumprimento de 73 ordens judiciais contra uma organização criminosa envolvida com tráfico de drogas na cidade. 

"Ele compareceu na delegacia para assinar o termo de colocação de tornozeleira eletrônica e tomar ciência dos autos. Ele estava acompanhado de uma comitiva de aproximadamente 50 a 60 pessoas”, informou o Delegado Santiago Sanches ao site 'AgoraMT'. 

Dentre as pessoas que estavam com o parlamentar, cinco pessoas foram presas e uma adolescente apreendida por envolvimento em crimes. Uma moto produto de furto foi recuperada.

As investigações conduzidas pela Polícia Civil apuraram que Associação dos Familiares e Amigos de Recuperandos de Rondonópolis (AFAR) foi utilizada para lavar dinheiro e realizar eventos e assistencialismo em benefício do Comando Vermelho e de Ary Campos.

A associação foi alvo de mandado de busca e apreensão, sequestro de bens e bloqueio de valores e sua presidente, L.V.D.C, de 29 anos, presa. 

LEIA MAIS: Polícia cumpre 73 mandados contra grupo responsável pelo tráfico em Rondonópolis

ASSISTENCIALISMO

Informações levantadas ao longo das investigações apontaram que o domínio do tráfico de entorpecentes se estendia a outras atividades como a realização de bingos, rifas e torneios de futebol para angariar dinheiro que seria, em tese, revertido nas ações assistencialistas, como a distribuição de cestas básicas, recurso adotado pela organização criminosa para se aproximar das comunidades,  especialmente de jovens e crianças, visando difundir a ideologia do crime e da violência sob auxílio social aparentemente inofensivos. 

A associação promovia a entrega de cestas básicas, brinquedos e doces em datas comemorativas, como também patrocinava torneios de futebol, com o objetivo de desenvolver empatia junto à comunidade local, buscando dessa forma mais adeptos à facção, trazendo maior efetividade em suas ações criminosas.

A Afar era presidida por L.V.D.C., cujos irmãos foram identificados como líderes do tráfico de entorpecentes na região da Vila Operária, que abrange 21 bairros de Rondonópolis. Os dois irmãos e uma irmã dela, todos alvos da Operação Infiltrados e foragidos até o momento, foram também investigados e alvos de outra operação, a Reditus, de 2018.

LEIA MAIS: Polícia apreende R$ 181 mil em dinheiro e carros de luxo em operação contra tráfico

USO POLÍTICO

Durante a investigação que embasou a Operação Infiltrados, a equipe da Derf reuniu informações que apontaram o uso da associação para angariar apoio popular para elegerem candidatos a cargos políticos. Um grupo em aplicativo de mensagens foi criado com esse intuito, com a obrigatoriedade dos integrantes em permanecer, sendo vedada a saída e com determinações das atividades que deveriam ser realizadas, além do compartilhamento de frases e símbolos em alusão à organização criminosa.

A associação acordou entre seus membros o total apoio à candidatura de Ary Campos ao pleito eleitoral de 2024. A partir de então, o candidato passou a liderar as atividades da Afar com a organização de eventos que supostamente auxiliariam na reabilitação de egressos do Sistema Penitenciário. As atividades incluíam trabalhos voluntários para arrecadação e distribuição de alimentos a pessoas de baixa renda e assim obter credibilidade, além de eventos esportivos, realização de bingos, entre outras atividades, preferencialmente nas regiões periféricas de Rondonópolis.

Entre 2021 e 2024, em prisões realizadas de suspeitos ligados à facção criminosa e em investigações feitas pela Derf, foram apreendidos diversos materiais, como cartelas de jogos e bingos, anúncios de eventos esportivos e cestas básicas que apontaram a Afar como um "braço" da organização criminosa.

Em junho de 2022, foram apreendidas no bairro Cidade Natal, diversas cartelas de bingo da Afar e cestas básicas. Em agosto do mesmo ano, a Polícia Civil apreendeu cartelas de bingo do 6º Torneio e Show de Prêmios Beneficente da Afar.

No ano de 2023, durante a Operação Fumacê, da Delegacia de Alto Araguaia, contra integrantes de organização criminosa envolvida com tráfico de drogas, tortura, homicídio foi apreendido material da campanha do advogado, que naquele ano disputou o cargo eletivo de deputado federal.

No ano passado, a mesma associação foi alvo de uma investigação da Gerência de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil, com o cumprimento de mandado de busca e apreensão durante a Operação Armadillo, que apurou o envolvimento de diversas pessoas na escavação de um túnel para a fuga de líderes criminosos da Penitenciária Central do Estado.

Durante as buscas na associação, a presidente LV.D.C., no momento da abordagem, tentou quebrar seu celular, que estava apreendido, tomando o aparelho das mãos de uma investigadora, que conseguiu retomar o celular e imobilizar a investigada. A prática de quebrar o celular é uma determinação da organização criminosa a membros que possuem funções de chefia ou, a fim de proteger os dados de outros membros.

Em maio deste ano, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em uma residência no Jardim Brasília, usada para armazenar entorpecentes que abasteciam o bairro e arredores, policiais da Derf apreenderam cartelas de bingo da Afar, camiseta do time Futebol Clube Unidos da Região Sul e cestas básicas, que são distribuídas através da associação. Investigações anteriores já apontavam o time de futebol como sendo da organização criminosa.

O dinheiro dos bingos é proveniente da venda de drogas em toda a região sul de Mato Grosso, sendo recorrente a apreensão de cartelas em pontos de tráfico. Os valores decorrentes da venda de drogas ingressam com aparência lícita no caixa da Afar, que faz a compra das cestas básicas.

Um dos investigados foi identificado como o responsável em recolher valores da “camisa” dos integrantes da organização criminosa e também sobre o resultado das venda de cartelas de bingo da Afar. A aquisição das cartelas é obrigatória aos integrantes da organização criminosa e os inadimplentes são punidos com a realização de trabalhos sociais.

Além da compra dos bingos, a investigação constatou que os integrantes do grupo criminoso são obrigados ainda a impor a familiares e simpatizantes a adesivagem de veículos com slogans do número do advogado candidato e a participarem de reuniões de campanha e de grupos no aplicativo WhatsApp, criados para angariar votos para o candidato a vereador.

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