Jair Ventura concedeu entrevista ao Estado por telefone para contar sobre os cuidados com o pai e os planos para a carreira numa temporada interrompida pela doença. O técnico está sem clube desde que deixou o Corinthians em dezembro de 2018 e utilizou o período para desfrutar da paternidade, descansar, estudar e traçar planos para voltar ao futebol ainda em 2020. "Voltarei mais forte e preparado", diz. Veja sua entrevista.
Como está a rotina do seu pai, o Jairzinho, durante essa pandemia?
Eu tenho falado com ele sempre, todos os dias praticamente. Meu pai sente saudade da netinha, a minha filha Maria Teresa. Então a gente faz videoconferência com ele sempre. Ele está em um sítio em Miguel Pereira, no interior do Estado do Rio. O sítio é do marido da minha irmã. Estão lá a minha mãe e o meu sobrinho também. Foi melhor que ele ficasse isolado. Temos nos falado desde então. É melhor para eles, que ficam mais isolados no campo. Minha irmã sai para comprar os alimentos necessários. Eles não saem para rua de jeito nenhum. Na idade dele é muito perigoso. Para mim foi ótimo essa situação. Eles estão tranquilos e têm a minha irmã para dar apoio. Todos nós temos de nos cuidar contra o coronavírus.
O que você fez desde a saída do Corinthians, no fim de 2018?
A grande situação da minha "quarentena" em 2019 foi minha filha. Tirei o ano para ficar mais perto dela. Tive algumas propostas também, até porque quando você sai de um clube como o Corinthians você recebe contatos. Mas nem cheguei a conversar. Queria descansar um pouco e curtir a minha família e, principalmente, estudar. Muitos me perguntavam em 2016, quando assumi o Botafogo, se estava pronto para ser treinador. E eu sempre digo que sou um eterno aprendiz. Tirei esse tempo para praticar meu inglês e meu francês. Me formei na licença mais alta da CBF, li demais para trazer para os meus jogadores treinos dentro do meu estilo de jogo e que possam ser cativantes. Estudei periodização tática, as tendências do mundo. Foi um ano de muito aprendizado.
Voltará ao trabalho neste ano?
Até tive algumas conversas com clubes e não acertei por conta de detalhes. Mas neste ano, se tudo der certo, voltarei muito mais preparado do que em 2016, quando foi efetivado. Tenho a experiência de Santos e Corinthians, com a disputa de duas Libertadores e uma final de Copa do Brasil. Passei muita coisa boa nesse período. Com certeza eu volto muito mais forte e preparado.
Você demonstra tranquilidade ao dizer que voltará. Recebeu propostas?
Eu fico tranquilo porque o meu telefone tocou. Não vou falar os clubes porque não sou de fazer isso. Fico feliz por ter sido lembrado. Algumas oportunidades bateram na trave, principalmente para o exterior. Agora é esperar. Não tenho vaidade e trabalharia na Série B sem problemas. Para mim não seria um passo atrás. A gente tem de analisar as circunstâncias, o momento do time. Você pode pegar um time na Série A que está lutando para não cair e assumir um time na Série B com a chance de fazer um grande trabalho. Tudo depende da proposta.
Ficou frustrado com a saída do Corinthians?
Não. Queria dar continuidade ao trabalho, mas entendi a volta do Carille. Ele era um grande ídolo, vencedor nos últimos tempos no clube. Era difícil a competição. De repente com o título (da Copa do Brasil), poderia acontecer a permanência. Mas não posso reclamar. Tenho de agradecer a oportunidade dada pelo Andrés Sanchez (presidente do Corinthians), que sempre jogou limpo. Não tenho remorso. Fui o treinador mais jovem deste século a trabalhar no clube.
Como analisa o sucesso dos estrangeiros no Brasil?
Jorge Jesus e Jorge Sampaoli fizeram trabalhos excelentes no ano passado. Eu, como jovem, aprendi demais com o trabalho deles. É bom ter outras escolas no Brasil, isso enriquece. Não importa a nacionalidade. Tem de vir os bons profissionais. Quando houve minha efetivação, duvidavam da minha capacidade e dos treinadores jovens. Para exaltar os jovens, não precisa falar mal dos experientes e dizer que estão ultrapassados assim como nem todos os jovens estão prontos. E é a mesma coisa para os treinadores estrangeiros na relação com os brasileiros.
O futebol brasileiro vive de ciclos na sua opinião? Em alguns momentos se pedem os jovens, depois procuram os mais experientes e querem os estrangeiros...
O mercado tem de trazer os melhores, seja de onde for e de qualquer idade. No ano passado a Copa do Brasil foi decidida entre dois treinadores jovens, o Odair Hellmann e o Tiago Nunes. Não é uma regra. Na minha final de Copa do Brasil fui eu, como jovem, e um experiente, o Mano Menezes, pelo Cruzeiro. Assim, não faz sentido ser por isso. O que vale é ser bom profissional, pode ser jovem, experiente, estrangeiro ou ter outras características.
(Com Agência Estado)
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