Como já disse por aqui, meu pai foi militar das antigas, então fui criada com regras claras, palavras duras e verdades ditas frente a frente. Não foi sempre fácil, fui uma menina frágil, asmática e cheia de medos que aos poucos foi enfrentando cada um deles para conseguir me tornar quem sou. Tive de, desde cedo, tentar expor minhas opiniões com determinação e às vezes isso saía entre choros e uma voz esganiçada de nervoso.
Hoje, aos 54 anos e ainda em construção, me vejo muitas vezes como aquela menina olhando um mundo enorme e opressor para mulheres. Nesses momentos, me sinto pequena, mas cheia de coragem para me colocar da forma que seja e muitas vezes não tão bem como Kamala. Esta semana foi assim e me distanciei da força determinada e estável que admiro para chorar e perder a fala em meio a uma reunião de trabalho. Peguei todos e a mim mesma de surpresa, não se espera choro ou agressividade na fala de uma mulher madura e bem resolvida. Depois do ocorrido, me julguei de forma impiedosa, como eu, que me considero tão segura, me expus dessa forma? Me escondi de mim mesma justificando a conduta pelo estresse de final de ano. Alguns dias digerindo acabei por me sentir mal por me sentir mal e vamos lá. Não foi o estresse de final de ano.
Podemos sim, como mulheres, discutir de igual para igual, chorar e alterar o tom de voz sem sermos consideradas histéricas. Certas situações nos levam ao limite por serem de uma violência velada, uma brutalidade que nos faz perder a capacidade de raciocínio e a resposta vem de uma forma não convencional. Conseguir reagir de alguma forma nos faz mais fortes, mais vivas e mais donas de nós. Sigo admirando Kamala, sigo agora tendo consciência que muito provavelmente nunca serei como ela.
(Com Agência Estado)
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