"Nós não trabalhamos com uma perspectiva de redução (nos financiamentos), isso no crédito SBPE (com recursos da poupança). Na habitação social, depende do orçamento que for colocado pelo FGTS", disse o vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa, Marcos Brasiliano, em entrevista para comentar os resultados do banco no terceiro trimestre, esta semana.
De janeiro a outubro, a Caixa aplicou R$ 190 bilhões em crédito imobiliário, somadas as operações que utilizam os recursos da poupança e as feitas com dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Mesmo direcionando os clientes elegíveis para as linhas do FGTS, o orçamento disponível para os financiamentos do SBPE foi consumido mais rapidamente do que o esperado.
Segundo a vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês Magalhães, há ainda R$ 3 bilhões disponíveis para alocar nessas linhas até dezembro. A Caixa tem evitado subir os juros dos financiamentos diante da escassez de recursos, mas no começo do mês apertou as condições de concessão de crédito à compra de imóveis. A principal medida foi o aumento da entrada exigida dos clientes, de 20% para 30% do valor do imóvel a ser financiado.
Pé no freio
Como mostrou o Estadão/Broadcast, a Caixa também tem "voltado atrás" em pedidos de financiamento cujas negociações já estavam em estágio avançado. De acordo com Inês Magalhães, esses clientes não deixarão de ser atendidos, mas o banco tem postergado as contratações das linhas até o limite de validade das propostas. Ela também diz que nem toda a "fila", que totalizaria R$ 20 bilhões, refere-se a financiamentos já em fase de desembolso.
De acordo com o presidente da Caixa, Carlos Vieira, embora haja uma percepção pública de que o banco é responsável por manter o crédito imobiliário no País, essa é uma responsabilidade de todo o sistema financeiro. "A maior parte do crédito pré-aprovado é de clientes de outros bancos", ressalta Brasiliano, o vice-presidente de Finanças.
Nos últimos dois anos, a Caixa manteve o ritmo das concessões de crédito imobiliário enquanto os demais bancos, com a Selic em dois dígitos, colocaram o pé no freio. A liderança em depósitos de poupança permitiu à Caixa sustentar o ritmo dos desembolsos sem precisar elevar os juros aos clientes.
Descompasso
Esse diferencial competitivo, no entanto, corre o risco de se esgotar: mesmo voltando a crescer, o saldo da caderneta de poupança tem aumentado menos que a carteira de crédito imobiliário da Caixa. Em setembro, o saldo da caderneta era de R$ 381 bilhões, com alta de 8,1% em um ano, enquanto a carteira de financiamentos era de R$ 337,3 bilhões, com um avanço de 11,3% no mesmo período.
Para complementar os recursos do crédito à compra da casa própria, o banco público conta com as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Emiti-las, porém, ficou mais difícil desde o começo do ano, devido à mudança no prazo mínimo de carência determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que passou de três para 12 meses, e depois reduzido para nove. A alteração afugentou investidores de varejo e concentrou as emissões entre os grandes investidores, que cobram prêmios mais elevados para "carregar" os papéis.
Rentabilidade
O desafio de reequilibrar as condições do crédito imobiliário coincide com um momento em que a Caixa busca ampliar sua rentabilidade - o retorno sobre o patrimônio líquido, ROE na sigla em inglês. Com lucro de R$ 3,26 bilhões no terceiro trimestre, o banco viu no período o ROE subir a 9,3%, ante 7,9% de um ano antes.
Mas, diferentemente de outros bancos, inclusive do Banco do Brasil, a Caixa tem 67% de sua carteira de empréstimos em crédito imobiliário, que tem margens menores que outras linhas de crédito, o que reduz seus retornos. "Se a Caixa quisesse ter um retorno sobre o patrimônio líquido de 18%, ela saberia fazer, mas certamente não estaria cumprindo seu papel social", diz Vieira.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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