Operadores ressaltam que a taxa de câmbio reflete em parte hoje a onda de valorização do dólar ontem no exterior, quando não houve negócios no mercado local, fechado em razão do feriado do Dia da Consciência Negra. Esse efeito defasado ajuda a explicar o fato de o real apresentar nesta quinta-feira um dos piores desempenhos entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities.
O head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa, afirma que as tensões geopolíticas levam a uma busca global pelo dólar. Ele destaca a informação de que a Rússia atacou a Ucrânia com um míssil balístico intercontinental, segundo as forças de defesa ucranianas. Isso após Kiev disparar mísseis de longo alcance contra o território russo.
"Isso elevou os riscos de escalada no conflito e a incerteza nos mercados globais. Ontem, com o mercado local fechado, houve fortalecimento do dólar no exterior", afirma Costa, ressaltando que há também mudanças de expectativas sobre o tamanho do corte de juros nos EUA daqui para frente.
Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY superou hoje pontualmente a linha dos 107,000 pontos, com máxima aos 107,156 pontos. O dólar atingiu o maior nível em relação ao euro desde outubro de 2023.
Por aqui, em alta desde o início do pregão, o dólar superou a linha de R$ 5,83 à tarde, quanto atingiu o pico do dia a R$ 5,8340, em sintonia com o exterior. No fim da sessão, a moeda subia 0,77%, cotada a R$ 5,8115 - maior valor de fechamento desde 1º de novembro (R$ 5,8694), quando alcançou o segundo nível nominal mais elevado da história do real. A divisa acumula valorização de 0,40% na semana e de 0,53% no mês.
O gerente de câmbio da Nippur Finance, Rodrigo Miotto, observa que, apesar do efeito da questão geopolítica, a valorização do dólar em relação ao real está muito ligada à frustração com os adiamentos seguidos do anúncio do plano fiscal.
"O mercado está esperando há muito tempo pelo pacote para conter a deterioração das contas públicas. Se agradar, podemos ver o dólar voltando para R$ 5,40", afirma Miotto, para quem a atratividade do carry trade é elevada e pode favorecer o real se houver uma diminuição da percepção de risco fiscal. "Mas se o plano decepcionar, podemos ver o dólar buscar os R$ 6,00."
Ontem, no início da noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que se reuniria hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar do pacote de gastos. À tarde, foi informado que Haddad estava no Planalto em reunião com o presidente, ministros e representantes dos setores de atacado e varejo.
Além da possibilidade de um corte de R$ 70 bilhões em dois anos, espera-se que o plano traga dispositivos que harmonizem o crescimento de rubricas como o salário mínimo às regras do arcabouço fiscal.
Amanhã, sai o relatório bimestral de receitas e despesas. As expectativas giram em torno de um congelamento adicional de cerca de R$ 5 bilhões. Mais do que o cumprimento da meta fiscal neste ano, espera-se que o governo adote medidas que deem sustentabilidade ao arcabouço ao longo do tempo, como acenado por Haddad.
(Com Agência Estado)
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