Perto de completar 30 anos de fundação, o Shopping Popular de Cuiabá enfrentou uma tragédia. Na segunda-feira (15), um incêndio devastador destruiu completamente as instalações de 600 lojas, frustrando as expectativas dos comerciantes que sonhavam com um novo espaço, um prédio de oito andares com elevadores, muito diferente do cenário atual.
Antes conhecido como "camelódromo", o local surgiu como uma solução para os vendedores ambulantes da capital mato-grossense. No final dos anos 1990, a cidade enfrentava um aumento no número de comerciantes informais, que ocupavam as ruas do centro, causando desordem.
Misael Galvão, presidente da Associação dos Camelôs do Shopping Popular de Cuiabá, iniciou sua jornada como ambulante em 1992 no centro de Cuiabá. Ele relembra as várias mudanças de locais até a definição de um espaço permanente.
Os camelôs inicialmente se concentraram na Praça Caetano Albuquerque, depois na Praça Bispo Dom José e, por fim, na Praça da Matriz. Em 1995, a Prefeitura ordenou a retirada das barracas do centro, com apoio do Ministério Público. Em acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), foi montada a primeira estrutura do futuro Shopping Popular.
“Naquele momento, sofremos muito com o sol e a chuva, que inundava a região e fazia com que perdêssemos muitas mercadorias”, relembra Galvão. Aos poucos, melhorias foram implementadas até que o local se tornasse uma referência não só para Cuiabá, mas para o país. “Sempre dissemos que esse era o único lugar que sobrou para nós em Cuiabá e que íamos fazer dele o melhor lugar para se trabalhar e gerar emprego”, comenta.
HISTÓRIA EM LIVRO
A jornalista Sandra Carvalho, que lançou um livro sobre o Shopping Popular este ano, acompanhou de perto a luta dos comerciantes desde a transferência dos camelôs do centro da capital.
“A trajetória dos camelôs representa uma grande inspiração para mim. Ter acompanhado essa caminhada me ensinou a enfrentar a discriminação e o preconceito, renascer a cada batalha perdida em busca dos objetivos”, explica.
“Uma das histórias que mais me marcou foi a de um fiscal da Prefeitura de Cuiabá que, cumprindo suas funções, tinha que recolher mercadorias e retirar ambulantes do centro. Ele chorou bastante relembrando aquela época e hoje é um grande amigo do Shopping Popular”, complementa.
Com centenas de boxes, o Shopping Popular oferecia uma vasta gama de produtos, desde roupas e calçados até eletrônicos e utensílios domésticos. Além de proporcionar um espaço digno para os vendedores, o Camelódromo também atraía consumidores de todas as classes sociais, interessados em encontrar produtos a preços acessíveis.
Ao longo dos anos, o Shopping Popular consolidou-se como um importante centro comercial. Para muitos comerciantes, o camelódromo representava uma oportunidade de negócio e sustento de suas famílias. A diversidade de produtos e a proximidade com o centro da cidade tornaram o local um ponto estratégico para o comércio.
Eventos culturais e ações promocionais eram frequentes, criando um ambiente vibrante e movimentado. O shopping não era apenas um local de compras, mas também um espaço de convivência e integração social, onde histórias e culturas se cruzavam diariamente.
O INCÊNDIO E O FUTURO
No dia 15 de julho de 2024, um incêndio de grandes proporções abalou a cidade de Cuiabá, destruindo o Shopping Popular e causando perdas irreparáveis para os comerciantes e a comunidade. O fogo, que começou nas primeiras horas da manhã, rapidamente se alastrou, consumindo tudo pelo caminho. Além das perdas materiais, a tragédia afetou emocionalmente os trabalhadores e frequentadores do local.
Diversas iniciativas de solidariedade surgiram imediatamente após o incêndio para apoiar os comerciantes afetados. Políticos e empresários estão se mobilizando para permitir que os comerciantes possam voltar a trabalhar, com a promessa de que um novo shopping será erguido no mesmo local.
“Eu acredito que em 2025, quando completarmos 30 anos, teremos a inauguração do novo Shopping Popular, totalmente revitalizado e no mesmo lugar. Melhor, mais forte e com certeza, muito mais bem organizado”, finaliza Galvão.
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