Nos dias atuais, a mensagem que ecoa nas famílias, nas escolas e nas redes sociais é clara: "Siga seu coração", "Trabalhe com o que ama", "A felicidade vem em primeiro lugar".
Um discurso bonito, sem dúvida. Mas seria ele prático? Suficiente para garantir o sustento e a construção de uma vida sólida?
Essa encruzilhada entre a busca pela paixão e a necessidade de subsistência ecoa profundamente na nossa sociedade atual. No labirinto da vida moderna, uma parcela significativa da juventude brasileira se encontra em um limbo existencial.
Grande parte dos jovens de hoje parece não saber o que quer, do que realmente gosta, nem para onde deseja ir. Vive à sombra dos pais, amparado financeiramente e emocionalmente, numa espécie de adolescência estendida, onde decisões difíceis são constantemente adiadas.
Mas a questão se torna ainda mais delicada quando observamos o impacto dessa indefinição na saúde mental desses jovens. A pressão para "encontrar o seu propósito", para "fazer o que ama", muitas vezes internalizada desde cedo, pode se transformar em uma fonte de
angústia paralisante, porque fazer o gosta, pode não ser suficiênte para a própria subsitência.
Os impactos psicológicos da dependência financeira e a ausência de um objetivo, geram estresse crônico, baixa autoestima, sentimentos de inadequação, isolamento social, conflitos interpessoais, mecanismos de defesa, perpetua o ciclo de ansiedade e insegurança.
Paralelamente, quando olhamos para gerações anteriores — aqueles que hoje são avós — a realidade era outra. Na maioria dos casos, não havia escolha: era preciso trabalhar cedo, fosse no que fosse. "Fazer o que gosta" era um luxo raro. A vida exigia pragmatismo. E,
curiosamente, foi essa geração, criada na dureza do “faça o que for preciso”, que construiu famílias, patrimônio, estabilidade e até encontrou felicidade, mesmo sem seguir o "sonho perfeito".
Claro, não se trata de romantizar as dificuldades do passado nem de ignorar os benefícios de trabalhar com o que se gosta, com paixão.
Mas o cenário atual revela uma contradição importante: será que priorizar unicamente o que se gosta, sem aceitar sacrifícios e obrigações,
não está, de alguma forma, condenando parte dos jovens à estagnação?
A dependência financeira de filhos adultos já provoca impacto nas famílias. Em 2023, um levantamento do SPC Brasil mostrou que 42% dos pais brasileiros ajudam financeiramente seus filhos adultos — e, em muitos casos, também os netos. E essa roda de sustentação,
longe de ser um ato de amor incondicional, pode, paradoxalmente, estar prejudicando o crescimento pessoal desses jovens. Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 55% dos jovens entre 25 e 34 anos ainda vivem com
os pais.
Estudos da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apontam que o número de jovens entre 18 e 35 anos em tratamento psicológico e psiquiátrico cresceu 35% na última década.
Buscar a felicidade e a realização profissional que almejamos nem sempre é uma trajetória reta; é preciso coragem para enfrentar obstáculos, aprender com os erros e recomeçar sempre que necessário.
Talvez o maior problema desses jovens seja a sensação de que não precisam fazer nada, porque sempre há alguém que faz tudo por eles e lhes dá tudo o que acham que precisam.
Será que os pais, os avós, estariam bloqueando o crescimento pessoal desses jovens pelo favorecimento de facilidade extrema?
Essa atitude pode gerar uma falta de iniciativa, de responsabilidade e até de senso de propósito, porque o esforço próprio deixa de ser
necessário para alcançar as coisas.
Afinal, a vida real exige mais do que idealismos, não acha? Exige coragem para agir, ainda que no começo não seja no cenário ideal. Porque crescer é, antes de tudo, aceitar fazer o que é preciso, aprender a “engolir sapos”, lidar com frustrações, com o ser explorado, sobretudo aprender viver a vida como ela é, sem romantismo e só depois, com trabalho e experiência, ter o privilégio de escolher.
(*) NAIME MARCIO MARTINS MORAES é advogado e professor universitário em Cuiabá.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
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Jader 28/04/2025
Parabéns Excelente matéria
1 comentários