A falta de comunicação entre a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a secretaria estadual de Saúde de Mato Grosso (SES-MT) tem levado diversos pesquisadores da Covid-19, o coronavírus, à prisão em Mato Grosso e em várias cidades do Brasil. Isso aconteceu porque a unidade de ensino vem realizando pesquisa da doença sem a autorização da pasta. Diante disso, os profissionais têm sido levados às delegacias para prestarem depoimentos.
Em um comunicado oficial na sua página na internet, a UFPel informou que a pesquisa está sendo realizada desde de 14 de maio em 133 cidades brasileiras. Na nota, a unidade de ensino explicou que essa atividade tem o objetivo de fazer testes em pessoas para mapear incidência da doença no país.
Intitulada “EPICOVID19-RS”, a pesquisa foi submetida à apreciação ética da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tendo sido aprovado no dia 28 de abril. Além disso, os trabalhos são financiados pelo Ministério de Saúde.
A universidade explicou que para a realização da pesquisa foi contratado, após processo seletivo, o Ibope. A unidade de ensino explicou que todos os requisitos éticos e de segurança estão sendo seguidos, incluindo o uso de equipamentos de proteção individual.
A UFPel ainda informou que o Ministério da Saúde responsabilizou-se por contatar os 133 municípios participantes da pesquisa, o que ocorreu por meio de ofício na semana passada. Dentre os municípios mato-grossense, que se tem conhecimento, está Cuiabá, Rondonópolis e Barra do Garças.
No entanto, o secretário de Saúde de Mato Grosso, Gilberto Figueiredo, informou que a pasta não foi informada sobre a pesquisa e diante disso, os trabalhos não são autorizados no estado. Por não terem a anuência do Executivo, os pesquisadores estão sendo encaminhados às delegacias para prestarem esclarecimentos.
Na tarde de quinta-feira (21), policiais do 3º Batalhão detiveram dois pesquisadores no bairro CPA I, em Capital. Eles estavam sem uniformes que o identificassem e sem os equipamentos de proteção individual. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) disse não ter quantos profissionais já foram detidos nesta ocasião.
De acordo com Figueiredo, essas prisões acontecem devido a falta de comunicação da universidade.
“Falta de comunicação. Esse problema aconteceu em inúmeras localidades no país, onde os operadores, que estão coletando a amostra fazendo teste na sua grande maioria, não são profissionais qualificados para isso. Não houve uma comunicação prévia. Uma falha muito grande no encaminhamento desse trabalho e que gerou esses desconfortos inclusive com profissionais sendo presos", disse o secretário na manhã desta sexta-feira (22), durante entrevista virtual.
"Eles estavam atuando sem a devida proteção individual. Hoje, essa pesquisa já é conhecida em todo o país, mas o grande problema foi a falta de comunicação prévia e que gerou esses distúrbios divulgados Brasil a fora”, completou.
Por outro lado, a universidade classificou as detenções como graves e que o Executivo está prendendo pessoas que estão trabalhando. A unidade de ensino ainda afirmou que os policiais agiram de forma truculenta.
“Nas situações mais graves, os entrevistadores do IBOPE foram detidos, com uso de força policial, tendo sido tratados como criminosos. Trata-se de cerca de 2.000 brasileiros e brasileiras, que estão trabalhando para sustentar suas famílias, numa pesquisa que pode salvar milhares de vidas, e que mereciam proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos por parte de toda a população. Ao contrário, as forças de segurança, que deveriam proteger os entrevistadores, foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas, algumas delas felizmente registradas.
Por fim, a UFPel disse que alguns gestores de Saúde tem se comportado como “xerifes” e impedindo o trabalho, que segundo a universidade, pode salvar milhares de vidas.
“Por mais que a comunicação formal do Ministério da Saúde aos municípios possa ter chegado muito perto do início da coleta de dados, nada justifica o comportamento de “xerifes” assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização de uma pesquisa que, com o perdão da repetição, pode ajudar a salvar a vida de milhares de brasileiros”, explicou.
O que diz a Sesp
Por meio de nota, a Polícia Militar informa que não foi comunicada da presença de pesquisadores em bairros de Cuiabá ou de cidades do interior do Estado autorizados a coletar sangue e fazer testes para Covid-19.
Esclarece que as conduções para delegacias foram feitas a partir de acionamentos dos próprios moradores e tiveram como objetivo pôr fim ao temor manifestado, além de esclarecer e solucionar conflitos gerados pela presença de desconhecidos nos ambientes residenciais.
"Informamos ainda que a Sesp também não recebeu qualquer comunicada da pesquisa. E que a única pesquisa informada é a que está sendo feita pelo IBGE via telefone", diz trecho da nota.
O que diz a secretaria municipal de Saúde
Procurada, a secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que não é a responsável por autorizar os trabalhos dos pesquisadores. Além disso, a assessoria de imprensa da pasta explicou que autorizou apenas o descarte de material infecto contagioso nas unidades do município, caso necessário.
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