O Bradesco teve lucro líquido recorrente de R$ 5,225 bilhões, alta de 13,1% em um ano e de 10,8% ante o segundo trimestre. O resultado veio em linha com as expectativas do mercado, mas com uma composição diferente, em especial na combinação entre receitas com crédito e despesas com inadimplência.
A carteira de crédito do banco alcançou R$ 943,8 bilhões no fim de setembro, alta de 7,6% em um ano e de 3,5% ante o trimestre anterior. As operações para empresas foram o motor, com crescimento de 11,2% em um ano, puxadas pelas pequenas e médias (16,9%). A carteira de pessoas físicas avançou 8,9% no período.
As margens do banco com clientes somaram R$ 15,6 bilhões, queda de 1,3% em um ano, fruto da postura mais conservadora na concessão de crédito, que tem priorizado linhas de menor risco ou clientes com maior renda. O spread (diferença entre custo de captação e juros cobrados dos clientes) caiu de 9,1% para 8,4%.
Essa cautela, contudo, permitiu que as despesas com provisões contra a inadimplência recuassem 22,4% em um ano, para R$ 7,1 bilhões. A inadimplência (atrasos acima de 90 dias) ficou em 4,2%, 1,4 ponto porcentual abaixo do patamar de setembro de 2023. Houve melhora em todos os segmentos, em especial no de varejo, o que engloba pessoas físicas e empresas de menor porte.
"Eu quero entregar margens perenes, e não um voo de galinha, em que cresce em um trimestre, devolve no outro", disse o presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, sobre o resultado trimestral. Segundo ele, mais importante que o spread é a margem líquida - quanto "sobra" depois que, dos juros dos empréstimos, é descontado o custo das provisões.
Mudança de cenário
Em teleconferência com analistas de mercado, Noronha repetiu algumas vezes que o Bradesco retomará os antigos patamares de rentabilidade "passo a passo". No trimestre passado, o banco teve retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 12,4%, 1,1 ponto porcentual acima da rentabilidade do mesmo período de 2023, mas ainda abaixo da sua média histórica, em torno de 20%.
"Sim, as margens após as provisões vieram melhores que o esperado, mas o cenário mais desafiador para o crescimento da margem, dada a Selic mais alta e spreads menores, pode desapontar quem esperava por uma recuperação mais rápida do ROE", observou a equipe do BTG Pactual, liderada por Eduardo Rosman, em relatório a clientes.
A despeito de o balanço ter mostrado avanços em vários indicadores, o contexto econômico mais difícil gerou temores no mercado, que vê o Bradesco mais suscetível aos ciclos da economia doméstica, uma vez que a baixa renda tem importante contribuição para os resultados - o que poderia gerar dores de cabeça quando os juros sobem. "Embora o balanço confirme a tendência de recuperação, a curva de crescimento esperado parece estar mais lenta, e o cenário macro pode atrasar a recuperação do crescimento do crédito", disseram Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, analistas da XP Investimentos.
Noronha afirmou, porém, que o banco está seguro de que sua carteira de crédito mostrará resiliência mesmo se o pior cenário para a economia se concretizar. Ele vê como mais provável uma alta do desemprego em 2025, mas a patamares não preocupantes, o que deve garantir que a inadimplência continue caindo.
A aceleração do ritmo de crescimento da carteira de crédito, que passou de 5% para 7,6% entre o segundo e o terceiro trimestres, contrastou com a do rival Santander Brasil, que colocou o pé no freio em suas concessões. Segundo Noronha, o Bradesco está operando com responsabilidade e buscando maior rentabilidade nas operações. "O consignado do INSS perdeu margem, mas é bom, traz retorno ajustado ao risco", disse. Com os cortes no teto de juros da modalidade no ano passado, a margem dessa linha caiu 30%, e o banco reduziu as concessões via correspondentes bancários.
Alta renda
Um dos pilares para aumentar o retorno é assegurar a fidelidade dos clientes. Com esse objetivo, ontem, junto com o balanço, o Bradesco anunciou o lançamento de um novo segmento de serviços para a alta renda: o Bradesco Principal, que será complementar ao Prime, com foco em clientes com renda a partir de R$ 25 mil mensais, ou com investimentos entre R$ 300 mil e R$ 10 milhões.
A nova marca terá cartão de crédito com pontos que não expiram, escritórios de atendimento exclusivos e conexão direta com o Bradesco Bank, braço do conglomerado nos Estados Unidos. Clientes que hoje estão no Prime e que se enquadram no Principal serão migrados já nos próximos meses. "Nós chegaremos a janeiro com algo entre 45 mil e 50 mil clientes", disse Noronha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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