O uso de telas em excesso por crianças e adolescentes pode trazer problemas de memória, atenção na escola e até depressão. O HNT conversou com Dara Kelm, psicóloga infanto-juvenil e neuropsicóloga, que explicou quais problemas o uso excessivo das telas podem trazer a esse público. Como o cérebro das crianças ainda estão se formando, é importante prestar atenção no que é oferecido aos filhos ou crianças com quem adultos convivem. A profissional ainda deu algumas orientações para retirar as telas aos poucos dos filhos.
A profissonal pondera que o excesso pode afetar bastante o desenvolvimento do cérebro da criança e do adolescente. “Não só o psicológico, como o físico também. O excesso de telas - quando a gente fala é tablets, celular, computador, televisão, tudo - causa vários sintomas. A criança pode ficar muito mais irritada, muito mais ansiosa, pode ter maior pretensão a ter depressão. A capacidade mental dela fica muito mais abaixo do que deveria pra faixa etária. Porque, aí, já dificulta um pouquinho na atenção, na concentração. Aí já tem problemas na escola, se estiver em alfabetização, o excesso de telas pode demorar um pouquinho mais pra criança conseguir ser alfabetizada”, diz.
A neuropsicóloga comenta que a falta de memória hoje em dia pode ter influência de vídeos curtos. “É tudo muito curtinho, muito rápido ‘ai não gostei, eu passo. Gostei, eu assisto ali de novo´. E isso afeta a memória. Por ser curtinho, o que assistir? O que decorar?”.
A Sociedade Brasileira de Pediatria indica que crianças menores de 2 anos não tenham nenhum contato com telas ou videogames. Já dos 2 aos 5 anos, a orientação é até uma hora por dia. Dos 6 aos 10 anos, a orientação é ficar de entre uma e duas horas por dia. Dos 11 aos 18 anos, entre duas e três horas por dia.
“Porém, a gente sabe que não é muito a realidade. Primeiro, porque a tecnologia hoje está em todos os lugares. Segundo, porque tem muitos pais que trabalham. Tem pais que não têm rede de apoio, não tem uma babá, não tem ninguém pra ficar ali com a criança, então, o que eles conseguem fazer pra criança ficar quietinha pra eles conseguirem trabalhar são as telas”, analisa ela.
Para famílias que não têm uma rede de apoio, a psicóloga sugere que a família aproveite o tempo com os filhos para brincar de cartas. Quando os responsáveis estiverem muito ocupados e os filhos precisam de algo para se distrair, Dara indica colocar em uma caixa de sapato coisas que a filha pode utilizar sozinha, como bolinha de sabão, canetinha, papel, livrinhos. “E também vai ensinando autonomia pra eles, né. Não ficar dependente dos pais sempre”, discorre.
A psicóloga ainda alerta para a questão do sedentarismo, já que as telas chamam mais atenção do que exercícios físicos, como exemplifica ela. Diz também que as telas podem causar anorexia, já que as crianças deixam de comer, por estarem vendo um filme ou jogando. “‘É online, não posso parar’. É um atrás do outro, então, deixa de comer, deixa até de fazer as necessidades fisiológicas”.
PERIGO
A psicóloga infanto-juvenil ainda alerta sobre o consumo de pornografia. Ela cita o exemplo que apareceu recentemente na novela ‘Travessia’, onde um pedófilo usou de inteligência artificial para chantagear uma adolescente com imagens íntimas e enganar uma criança. “Os pais não estão ali vendo o que o filho está assistindo. Mesmo com a proteção de idade nos sites, ainda pode aparecer um conteúdo, não é 100% fiel. Eu sempre recomendo: ‘coloque’, mas não é 100% certeza de que não vai aparecer alguma coisa. Eles conseguem burlar lá o sistema, parecer que é um conteúdo infantil, porém é um conteúdo adulto”, pondera, ao indicar que os pais fiquem sempre na retaguarda e olhem o histórico de pesquisa dos filhos.
Dara aconselha a conversar e orientar as crianças e adolescentes sobre o que pode e o que não pode ser acessado. “A conversa também é boa prevenção”.
Os responsáveis podem usar a internet para acessar conteúdos educativos, por exemplo. Dara ainda pondera que a tecnologia não é uma vilã, mas sim o tempo de uso. “Porque tem criança que fica o dia inteiro na tela. E isso afeta, porque a tela acaba prejudicando a produção de alguns hormônios que a gente precisa, como a melatonina, cortisol, GH, leptina. E isso aí que atrapalha nossa memória, nossa concentração, até o crescimento da criança”, informa ela.
Já que a tecnologia ainda é uma aliada em outras questões, é importante ponderar o uso equilibrado pelo lado positivo. Como alguns adolescentes usam muito a internet para estudar, Dara orienta os responsáveis a separarem os horários de estudo e lazer. “Ok, vai poder estudar usando as telas. Mas é para estudar, não é para intercalar o estudo, mexendo no WhatsApp, no TikTok e tudo mais”.
COMO TIRAR AS TELAS?
A psicóloga explica que quando uma criança ou adolescente já está acostumado a ficar nas telas é mais difícil tirar o item deles. A profissional aconselha a fazer um ‘horário para as telas’. Primeiro, deixar um tempo maior do que deveria e tirar aos poucos, ao mesmo tempo em que insere outras atividades prazerosas para a criança ou adolescente em outros horários. Se o item for retirado bruscamente, a criança tende a ficar mais nervosa e não colaborar em nada com o processo, como explica Dara.
Se a criança não for tão acostumada, a psicóloga indica a fazer brincadeiras. “Coisas de criança mesmo. Não precisa ser uma coisa muito elaborada. A criança gosta de, por exemplo, desenhar, ter papel sulfite, lápis de cor, canetinha, a criança perde horas. Recorte, joguinho de carta que dá pra jogar com os pais. Tabuleiro, se tiver irmão, melhor ainda. Livrinho interativo e imagem. Música, aqueles violõezinhos, pianinhos, bota lá pra ele ficar tocando. Dá pra usar o telefone de forma melhor: ligar para o avô, para o tio, para um outro coleguinha. Inserir o filho na rotina. ‘Ah filho, arruma seu quarto. Me ajuda a lavar a louça. Vamo cozinhar, vem cá, me ajuda a misturar os ingredientes’. Coisas poucas”, sugere.
Dara também incentiva o uso de cartelas, ficha de ‘recompensa’, ‘check’ e ‘to do list’, que são coisas mais visuais. “Isso acaba que a criança começa, com o tempo, a respeitar mais as regras, porque ela quer mais tempo pro celular. No começo vai ser só por causa do celular mesmo, só que depois, a criança vai crescendo e entende que é importante cumprir aquelas regras né”, desenvolve.
Dara ainda aponta que é importante inserir as crianças e adolescentes em atividades físicas, fazendo uma rotina de lazer, atividades físicas e estudos. “Porque se a criança não tem nenhuma atividade extracurricular, ela fica muito solta em casa. E aí esse ócio que faz clicar na tela, que é uma coisa muito mais prazerosa. Não precisa pagar um vôlei, um futebol, um judô extra. Atividade física pode ser um ‘filho vai lá pro quintal e corre’. Ou, se não, criança menor: pega barbante, que é uma coisa barata, amarra entre cadeiras, entre os cômodos da casa e a criança vai ter que pular ou se arrastar por debaixo do barbante, essas coisas”, finaliza.
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.