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Assim como certos excessos machistas costumam ocultar tendências sexuais nada machistas, determinados discursos fortemente moralistas, no campo da política e da ética, também podem esconder práticas no sentido contrário.
A propósito disso: a história atual, recente ou remota, está repleta dessas contradições, apontando fossos abismais entre o verbo e a ação, remetendo à experiência dos mais antigos quando afirmavam que quanto maior o discurso, maior a corrupção que procura ocultar.
Não se pode generalizar - alguém pode lembrar -, colocando todos na mesma vala da incoerência, embora esta seja a vontade de muitos quando se trata de avaliar a classe política. A sucessão infindável de escândalos, a falta de pudor que permeia, também lembra a paródia do “sujo falando do mal lavado”, aliás, comparação inevitável, por exemplo, quando nos deparamos com Anthoni Garotinho, ex-PMDB e hoje no PR, ex-governador do Rio de Janeiro e atual deputado federal, descendo a borduna no governador peemedebista Sérgio Cabral, seu desafeto político.
Nesse aspecto, Garotinho é apenas um caso e os leitores disto são testemunhas, pois que devem conhecer muitos outros exemplos de hipocrisia.
O marido de Rosinha ataca o governador carioca em função das notórias ligações deste com o dono da empreiteira Delta, envolvida como se sabe, no mais novo escândalo brasileiro. Porém, falta a Garotinho requisitos para atacar Cabral, e o fato causa tanta indignação quanto constatar o governador carioca envolvido até o gorgomilho com um empreiteiro que passou dos limites toleráveis nas práticas de corrupção, mais ou menos comuns a um segmento, o das construtoras de obras públicas, que, em absoluto, não prima pela decência nos negócios, sobretudo com as esferas governamentais, país afora.
Falando na Delta, forçoso é lembrar de Demóstenes Torres, senador por Goiás, até há poucos dias tido e havido, endeusado até, como paladino da moralidade no Congresso Nacional. Falar do seu envolvimento em falcatruas tendo como comparsa nos crimes o bicheiro Carlinhos Cachoeira, espécie de sócio informal da empreiteira, soa como “chover no molhado” – repercutir o que a Imprensa brasileira em geral, repete a todo instante, através da sua multiplicidade de meios. Além de que não é nosso propósito entrar nessa será, o foco que pretendemos dar é outro.
Por oportuno, esclarecemos que não estamos aqui para condenar Demóstenes, se antes não escrevemos uma linha sequer para aplaudi-lo por seus supostos dotes de “santidade” política. Considerando ainda que. com todas nossas imperfeições, estamos longe – e disto temos consciência – de se arvorar em palmatória do mundo e sair por ai tascando reprimenda, à esquerda e à direita.
Existe gente de sobra fazendo isso. Entre os quais, inclusive aqueles que mais endeusavam o senador ora caído em desgraça e hoje, ao invés de manterem um recatado distanciamento (sem tripudiar sobre ele, já que não é lícito defendê-lo), são os que se apressaram em atirar a famosa “primeira pedra”...
Quanto a esse episódio, lamentamos que o senador não seja o que parecia ser, deixando de servir de exemplo de ética na atividade pública, o que representa uma perda para os verdadeiros e justos anseios de moralização que o Brasil tanta precisa.
(*) MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA é jornalista. www.paginaunica.com.br E-mail: [email protected]
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