Nos últimos meses temos vivenciado uma gama de discussões no Brasil, nas principais redes sociais de acesso, sobre a etimologia das palavras negra e preta. A questão gira em torno do uso desses termos como forma de tratamento social. Neste sentido, o questionamento é direcionado ao uso do termo negro pela representatividade considerada negativa do ponto de vista étnico e cultural.
Esse debate vem de tempos longínquos, no entanto, ganhou expressivo destaque após um participante de um programa de televisão em nível nacional, lançar afirmações discursivas sobre a etimologia da palavra ser tratada como cor no Brasil e destacar a forma correta como preta justificada por interpretações de cunho cultural e social referenciada por outros países como Estados Unidos, Inglaterra entre outros.
Ao utilizar a noção de Formula, da Análise do Discurso francesa, compreende-se mecanismos importantes na formação discursiva. De acordo com a pesquisadora Alice Krieg-Planque a Fórmula define o caráter da palavra empregada e suas variantes advindas de uma mesma raiz. Pois bem, a Fórmula negro aparece em diferentes edições de dicionários de língua portuguesa como originária do latim niger (adjetivo que significa negro, preto ou escuro), nigrescere e nigrare (verbos que têm o sentido de tornar negro ou escurecer), nigricolor, nigritia e nigritudo).
Essas palavras sofreram diversas variantes e significados em diferentes países, cada qual com sua construção ideológica, cultural e sócio/econômica. Já a Fórmula preta é classificada nos diversos dicionários como cor (de cor preta, negror e negritude).
No Brasil, essa questão ganha vulto a partir das lutas do Movimento Negro com expressiva visibilidade nas grandes mídias na qual essa definição parte a priori do conceito de mestiçagem.
A palavra ‘mestiço’ é de origem portuguesa e significa sangue misturado, pessoas descendentes de raças diferentes; pode-se dizer “mistura racial entre índio, africano e europeu” que consiste em implicações étnicas interpretadas como definições de fenótipos raciais com ideias de branqueamento, processo socioeconômico e cultural que, no Brasil, destaca-se por seu cunho biológico e ideológico.
Esse processo de hibridação desencadeou uma diversidade de tonalidades de cor de pele no Brasil exigindo um estudo mais aprofundado nessas categorias de cor, pois o IBGE trabalha com cinco classificações por autodeclaração. Essas classificações são: branca, parda, preta, amarela e indígena que também é referenciada como vermelha.
Faz-se importante tomar conhecimento da complexidade que envolve esse processo na construção da identidade do cidadão brasileiro, pois, expressivas situações direcionadas aos de cor de pele preta e parda vem marcadas por uma sociedade que, para discriminar utiliza-se tanto da desvalorização da cultura de matriz africana como dos aspectos físicos herdados pelos descendentes de africanos especialmente a cor.
Por esse e outros motivos, a Fórmula negra no Brasil ganha uma conotação resignificada pelo Movimento Negro começando por Abdias do Nascimento, contextualizando um sentido político e positivo na luta contra o racismo estrutural e a busca de reconhecimento como cidadão brasileiro, portanto com direitos a serem reivindicados no contexto socioeconômico e cultural.
No Brasil, identificar-se como negro está para além da cor da pele, pois é um posicionamento político e social de luta de representação no campo discursivo que envolve também o campo imagético. Os desdobramentos que resultam desta luta, são imprescindíveis para uma estética essencialmente e brasileira no cenário socioeconômico e cultural.
É de suma importância que essa questão seja cristalizada, debatida e contextualizada no campo da Educação e outras esferas sociais que organizam e movimentam a legitimação da representatividade nos espaços instituídos em seu campo de luta, considerando essa construção no coletivo.
Considerando o atual cenário sociopolítico que vivenciamos no país faz-se necessário cristalizar os sentidos da questão pontuada como forma de contribuir com esse debate, na qualidade de pesquisadores de um Instituto de Educação de uma universidade pública comprometida com a pesquisa na área da Educação e outras esferas civis a compreensão de fenômenos sociais que permeiam as relações de formação profissional e cidadã no campo das Ciências Sociais.
As relações raciais no Brasil sempre tiveram a cor da luta incansável e da conquista dolorosa da mais ampla plenitude em que a cosmovisão africana resignifica o projeto da cor para a perene ética da diversidade. Este é o tempo e a oportunidade da prática emancipatória com o colorido solidário do respeito e da coletividade.
Simbora pra luta?
Vamos redescobrir o Brasil!
(*) MORY MARCIA é Pedagoga e Mestra em Educação pelo PPGE/ UFMT. Doutoranda em Educação pelo PPGE/UFMT - Grupo de pesquisa: Laboratório de Estudos das Tecnologias e Comunicação na Educação. E CRISTIANO MACIEL - Doutor em Computação. Atua a cerca de 10 anos como Professor Adjunto no Instituto de Computação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.
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