Os bolsonaristas gostam de se referir a Lula como "condenado", "descondenado" e "ex-presidiário". De fato, Lula é ou já foi tudo isso. Sergio Moro, futuro ministro de Bolsonaro, condenou-o a 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro referente a um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia. No dia 5 de abril de 2018, Lula se entregou à Polícia Federal no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo. O país testemunhou pela TV sua serena e digna caminhada até a aeronave que o levaria à carceragem da PF em Curitiba, onde passou 580 dias preso. Em 2021, o STF anulou suas condenações, considerando que tinham sido decididas por um tribunal sem competência jurisdicional.
Os seguidores de Bolsonaro não deveriam ser tão rigorosos com Lula. Afinal, o próprio Bolsonaro está às vésperas de se tornar também um presidiário. Só não se sabe se reagirá como um homem quando lhe baterem à porta. Mais provável é que tenha de ser levado à força, pedalando o ar e chorando, como o covarde que sempre foi —isso se já não tiver se escondido numa embaixada. De qualquer forma, será também um condenado. E o potentado estrangeiro que, para eles, intervirá no Brasil para descondená-lo, também tem a cueca suja: Donald Trump, presidente dos EUA, condenado em 34 acusações relacionadas a comprar o silêncio de uma atriz pornô com quem teve relações, fraudando a eleição de 2016 e a vencendo.
Se ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro estigmatiza uma pessoa, os bolsonaristas deveriam envergonhar-se de ver Bolsonaro íntimo do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL e condenado em 2012 a sete anos e dez meses pelos mesmos motivos.
Como se não bastasse, o núcleo duro da quadrilha bolsonarista conta com uma chusma de generais, coronéis, majores, brigadeiros e policiais já presos preventivamente pelo crime mais grave numa democracia: atentar contra ela.
Como, para júbilo nacional, Bolsonaro não demorará a ir lhes fazer companhia, teremos um novo presidiário ilustre.
(*) RUY CASTRO é Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, membro da Academia Brasileira de Letras. Artigo publicado originalmente em sua coluna no Jornal Folha de S Paulo do dia 12.03.2024.
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