Várzea Grande, neste 15 de maio completa 153 anos. Registra-se como data oficial da sua fundação, 15 de maio de 1867. Para formação do município, além das terras do antigo 3º distrito cuiabano, antes Porto, foi incorporada uma área de Nossa Senhora do Livramento, pelo presidente da província de Mato Grosso, o Brigadeiro José Vieira Couto de Magalhães. Também, foi presidente das províncias de Goiás, de 8 de janeiro de 1863 a 5 de abril de 1864, Pará, de 29 de julho de 1864 a 8 de maio de 1866, Mato Grosso, de 2 de fevereiro de 1867 a 13 de abril de 1868, e São Paulo, de 10 de junho a 16 de novembro de 1889, presidência que ocupava quando foi proclamada a República
A origem de Várzea Grande está ligada à doação de uma sesmaria por parte do Governo Imperial, em 1832, aos Índios Guaná, considerados mansos pelos portugueses e hábeis canoeiros e pescadores, com a denominação de Várzea Grande dos Guaná.
Foi também caminho obrigatório das boiadas que vinham de Rosário Acima (atual Rosário Oeste) em direção a Cuiabá. Àquela época, Várzea Grande era um ponto estratégico: fazia divisa com Cuiabá pela margem esquerda do Rio Cuiabá e pela barra do Rio Coxipó e Livramento, somando cerca de 600 km². Cinco anos depois foi anexada à área, o distrito da Passagem da Conceição, totalizando 682 km². Os 81 anos em que Várzea Grande foi distrito cuiabano proporcionou que fossem estabelecidas relações que tiveram profundo impacto na forma como foi e é tratada a história de várzea-grande.
Em 1886, Várzea Grande torna-se distrito de Cuiabá, após a promulgação da Lei provincial nº 145, de 6 de abril de 1886 que regulamentava como novo nome, Paróquia de Várzea Grande.
Em 1867, o presidente da Província de Mato Grosso, José Vieira do Couto Magalhães, durante a Guerra com o Paraguai, com o objetivo de isolar os prisioneiros paraguaios, acometidos pela epidemia de varíola, edificou um campo de concentração na área onde hoje se encontra o Ginásio de Esportes “Fiotão” e o Terminal de Transporte Urbano, antiga Praça Aquidabã, em Várzea Grande.
Terminada a guerra, alguns paraguaios retornaram ao seu país. Outros foram trabalhar nas fazendas de Nossa Senhora do Livramento e de Poconé como vaqueiros e como artesãos, utilizando o couro do gado para fabricação de apetrechos de montaria e de laços para gado. Outros, porém, permaneceram em Várzea Grande, constituindo famílias. Naquela época, a população remanescente de Várzea Grande era formada por paraguaios, portugueses, negros e índios, conforme a historiadora Maria Adenir Peraro.
No local onde hoje está a Cohab Nossa Senhora da Guia existia uma tribo de índios Guaná, os quais mais tarde, migraram para a localidade de Limpo Grande, em Várzea Grande. Creditam-se a esses indígenas a herança da tecelagem da rede e da palha, artesanatos que ainda são encontrados na terra de Couto Magalhães.
Os Guaná dormiam em redes tecidas por eles mesmos ou no chão, sobre tiras de vegetal conhecidas por taquaras, cobertas com panos. Cantavam ao nascer do sol, em ritmo de chocalho feito de cabaça, ornamentada com sementes conhecidas por contas, e um tambor. Durante as festas, geralmente religiosas, serviam uma bebida feita de milho socado em pilão.
A documentação oficial afirma que o aldeamento desapareceu por volta de 1869, cujos índios contaminados morreram ou mudaram -se para outros lugares. Embora o discurso oficial considere o desaparecimento da Aldeia dos Guaná devido à redução de seus habitantes, o etnólogo alemão Max Schmidt, entre os anos de 1900 e 1901, encontra os Guaná ainda na margem direita do rio Cuiabá, colheu seu vocabulário e fez as seguintes considerações: Do porto de Cuiabá, capital do Mato Grosso, se avista na margem oposta um pouco abaixo algumas pequenas cabanas sobressaindo do verde da margem, que estão habitadas por índios Guaná. Em cerca de 20 minutos a pequena povoação pode ser alcançada com uma canoa. O material linguístico da língua Guaná a seguir é resultado de uma visita, que eu fiz nos últimos dias de agosto do ano de 1901 a estes índios de Cuiabá. No que diz respeito aos modos de vida dos moradores desta pequena povoação, eles se tornaram plenamente brasileiros. Meu informante Joaquim em cuja casa eu fiz anotações, era filho do único Principal que de acordo com a informação de Joaquim há cerca de 50 anos foi fundador deste povoado. Ele como seu irmão aprenderam marcenaria e eram tratados na redondeza como marceneiros. Como as poucas famílias entre si falassem português, somente os adultos dominam a língua Guaná e mesmo eles tiveram que se auxiliar mutuamente no levantamento linguístico quando se tratava de palavras de animais e plantas individualmente. Mesmo que esses poucos e morando tão longe dos demais membros da tribo perderão sua língua em breve, mantém de acordo com a afirmação de Joaquim sua pureza de sangue. De grande valia para a anotação linguística foi que eu encontrei em Joaquim um mediador inteligente e de boa vontade, assim que em poucas horas de permanência pude anotar um relativamente rico vocabulário, pequenas frases e expressões, assim como alguns dados gramaticais, de acordo com a historiadora Verone Cristina da Silva.
Max Schmidt, identifica, ainda no ano de 1901, a presença de famílias Guaná habitando a margem direita do rio Cuiabá e falando a língua nativa. Embora entre os jovens predominasse a língua portuguesa, seus descendentes provavelmente adquiriram alguns termos e variações.
Boamorte Manoel de Campos, entrevistado por Verone da Silva, morador da Alameda Júlio Müller, em Várzea Grande e descendente de Guaná, afirmou que o lugar onde atualmente está edificada a empresa da Sadia Oeste S.A., foi um antigo “isolamento” dos índios Guaná, contaminados com a varíola. Recordou que muitos Guaná contaminados foram isolados em barracões destinados à reclusão dos doentes com varíola. Lembrou de ter encontrado, quando criança, crânios humanos numa área alagada próxima a sua casa, conhecida por pirizeiro, e que estes crânios poderiam ser dos índios mortos com aquela doença.
Contudo, segundo a história tradicional, a fundação de Várzea Grande está intimamente ligada ao acampamento militar construído durante a guerra com o Paraguai, supostamente nas imediações do atual centro da cidade. No entanto, este acampamento militar que dava suporte à capital do estado durante a guerra, e que foi estabelecido em 15 de maio de 1867, pelo General José Vieira Couto de Magalhães, se localizava na margem esquerda do Rio Cuiabá, ou seja, do lado da cidade de Cuiabá, próximo da barra do rio Coxipó.
Com o tempo, pela habilidade dos paraguaios no corte e secagem de carne e no curtume de couro, no pequeno povoado de Várzea Grande foram instalando-se matadouros de bois, transformando-o em fornecedor de mercadorias para a capital. Firmou-se, posteriormente, a agricultura nos pequenos capões, unindo brasileiros e paraguaios, muitos remanescentes da guerra, no mesmo trabalho. Nas primeiras décadas, o povoado várzea-grandense cresceu lentamente, sobrevivendo em função da lavoura, abate de reses e fabricação de lenha, além de uma incipiente indústria manual, mantendo comércio em Cuiabá onde a travessia era realizada por canoas e barcas.
A Igreja Nossa Senhora da Guia em Várzea Grande, foi a primeira construída no município, no período de 1890 a 1892. O pedreiro responsável pela construção foi Benedito Regala, sendo inaugurada em 1892. Possuía a sua pequena torre campanário em cruz de ferro. Um largo que não chegava a 1.000 metros de extensão por 50 de largura, e acolhedor da boa convivência de seus participantes mais tradicionais, muitos ainda capazes de lembranças carregadas de saudades e emoções
Quanto ao abastecimento público de água, Várzea Grande possuía três poços de água marcavam a grande várzea: o poço do gato, situado na conjunção com a Avenida Principal que servia água salobra.
O segundo, o poço do meio, situado no atual cruzamento da Avenida Filinto Muller com a Presidente Castelo Branco, feito de pedra cristal e a sua proteção superior, onde a boca do poço foi construída de pedra ganga onde, as carroças, em um grande número na cidade e as poucas charretes em manobras perfeitas de seus condutores estacionavam de ré, disputavam quem enchia primeiro o tambor de 200 litros de água. (...). Neste poço Neuza Pompeu de Campos caiu quando empinava pipa. Foi socorrida pelo irmão de criação, Nelson, onde Maria Mussa, madrinha de Neuza, também, tentava organizar um salvamento.
O terceiro poço chamado de poço da várzea, era localizado, onde se encontra o prédio da Exatoria da Secretaria de Fazenda, do Estado de Mato Grosso, em Várzea Grande. “O terceiro poço é que tinha a melhor água para beber. Pura, potável, gostosa, doce”, lembrava Sarita Baracat.
Em 1942, foi inaugurada a primeira ponte de concreto sobre o rio Cuiabá pelo então interventor Júlio Strubing Muller, ligando Cuiabá a Várzea Grande, importante para o acesso da parte norte e oeste de Mato-Grosso e, aumentando significativamente o comércio de carne, suínos, galináceos, leite e derivados, lenha, carvão, chinelos, material de construção e cereais, além de peixe com a capital., impulsionado com a instalação da luz elétrica, em 1945. “ Antes, quando não tinha ainda, essa ponte, papai fazia a travessia de canoa ou de barca para vender ovos no mercado do Porto, para ajudar os meus tios Affif Baracat Bussiki e Dergan Bussiki”, lembrava Sarita.
Várzea Grande foi o 3º Distrito de Cuiabá até 13 de setembro de 1948, ano em que foi assinada a Lei nº 123 que dava à vila a condição oficial de município no governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo (1947-1950), sendo nomeado o várzea-grandense major Gonçalo Romão de Figueiredo (1949) para exercer o cargo de prefeito, até a realização da eleição. No governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo (08/04/1947-01/07/1950), o município foi emancipado sendo nomeado o várzea-grandense, major Gonçalo Romão de Figueiredo (23/09/1948 a 26/07/1949) para exercer o cargo de prefeito, até a realização das eleições. Com as eleições de 1949, foi eleito Miguel Leite da Costa (PSD) - 27/07/1949 a 31/10/1949. “ Este prefeito não foi eleito. Na verdade, ocupou o cargo por alguns dias, antes de ser aberta a urna do povoado de Souza Lima, no Distrito de Bom Sucesso, que havia sido impugnada. Após a abertura da urna constatou-se que o prefeito eleito e escolhido foi Gonçalo. Só depois, foi dada a posse a Gonçalo Botelho de Campos – (UDN (06/11/1949 a 01/01/1951). No intervalo dos procedimentos eleitorais, ocupou a vaga de prefeito, Benedito Gomes da Silva – UDN (31/10/1949 a 05/11/1949), presidente da Câmara Municipal, à época, asseverou Sarita.
Várzea Grande, a cidade amada e ao mesmo tempo, orgulho de Sarita Baracat possui as localidades de: Bom Sucesso, situado numa faixa de terra na barranca do Rio Cuiabá. É um lugarejo formado por casas humildes e ruas estreitas, que preservam a memória de um tempo em que a lavoura de cana-de-açúcar, o fabrico da rapadura, a pesca, os engenhos e alambiques, o plantio do fumo e das hortaliças na terra fertilizada pela proximidade do rio, representavam todo a economia do lugar.
Passagem da Conceição, um do mais antigo distrito, foi transferido do município de Cuiabá para o de Várzea Grande, em 1954.
Em 1948, já existia a comunidade do Sovaco, atual Souza Lima. Praia Grande cresceu ao longo da estrada que leva até Nossa Senhora do Livramento (MT) e a ponte sobre o Ribeirão Cocais.
Pai André, situado entre Praia Grande e Bom Sucesso, na margem direita do Rio Cuiabá, de frente para o Morrinho, localizado na outra margem do Rio e, Limpo Grande, no alto de uma pequena colina, são bairros que compõem hoje, os municípios de Várzea Grande e, a cidade amada de Sarita vai se tornando maior. O seu urbanismo vai tomando conta de lugares antes, pequenos povoados, vilas.
Em 1956, a pista de decolagem de aeronaves foi transferida da Vila Militar, em Cuiabá, para o bairro Jardim Aeroporto, em Várzea Grande e, em 1964 foi inaugurado o terminal do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, oficialmente, o aeroporto internacional da capital Cuiabá. Em 1957 apresentou o projeto em favor da Paróquia Nossa Senhora da Guia. Em 1959 aparecem nas atas da câmara municipal de Várzea Grande o início da construção do Clube Náutico e a construção da barca para a travessia do rio Cuiabá – Porto a Passagem da Conceição. Esse povoado, ao iniciar o século XX (anos 1900), contava com oito choupanas distribuídas pela barranqueira do rio Cuiabá, cuja população vivia do plantio de hortas e da cana de açúcar, apanhando o peixe para complementar a alimentação. Depois passaram ao fabrico de rapadura e um dos proprietários de terras do lugar plantou várias seringueiras numa área mais baixa e que lá estão, ainda (1986), formando verdadeiro bosque à beira do rio. Com o tempo, Guarita foi crescendo, arruando-se novos moradores foram fixar-se ali como os Viana, o Luiz Gonzaga, o Albertino Sérgio, os Borges e outros. Em 1919, foi criada uma escola mista na povoação. Atualmente existem cerca de cinco mil moradias nesta localidade, além do Centro Oficial de Treinamento (COT) Barra do Pari. Possui diversos empreendimentos habitacionais, industriais e comerciais, e será o endereço do maior polo de desenvolvimento da cidade com a implantação do Parque Tecnológico e de instituições de ensino, como a Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT e Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
Foi criado o distrito de Capão Grande e, anexado, ao município de Várzea Grande lei estadual nº 3701, de 14-05-1976. No distrito, a Igreja do Senhor Bom Jesus de Capão Grande realiza os festejos religiosos em devoção ao Santo, com a oração do Santo Terço, levantamento do Mastro, baile, procissão e em seguida celebração da Santa Missa, sorteio dos novos festeiros, sempre no mês de setembro.
O Engordado, povoado antigo, pacífico, situado a margem direita do rio Cuiabá e muito próximo do centro de Várzea Grande. Abriga a tradicionais Festas de São Benedito e Nossa Senhora Aparecida, as quais atraem milhares de pessoas nos 3 dias de celebração, acompanhados de bailes todos os dias, que hoje pode ser considerada uma das maiores da região. Teve início no ano de 1983.
Na década 1960, Várzea Grande, na ausência de infraestrutura básica como água e esgoto, era abastecida por diversos poços. Além dos acima citados, houve a perfuração de um poço semi-artesiano localizado quase em frente à igreja de Nossa Senhora da Guia, atual centro de Várzea Grande, onde a missa, ainda, era celebrada em latim, hoje entre o restaurante e a biblioteca do município.
Este local abrigava um reservatório de uns cinco metros de profundidade e revestimento de concreto armado com raio de uns quatro metros. Anos mais tarde se fez chegar o progresso para dar suporte ao crescimento da cidade e fazer chegar em cada residência a sonhada água encanada. Construiu-se uma caixa d`água no centro da cidade, próximo ao poço Rafael e investiu-se na perfuração do primeiro poço artesiano.
Em 1964, durante os governos, em Mato Grosso, de Fernando Corrêa da Costa (31/01/1961-31/01/1966), foi inaugurada a ponte que teve sua construção iniciada no governo de Ponce de Arruda, que durante as primeiras tentativas de construção, por problemas técnicos, veio a desabar. A sua inauguração contou com a presença do ditador militar Humberto Castelo Branco.
De 1967 a 1970, Várzea Grande foi administrada pela prefeita Sarita Baracat, a qual saudou o seu centenário com benfeitorias, incluindo, o clube Operário de Várzea Grande, como campeão, no futebol. Após, vários administradores passaram por lá. E só após 50 anos, o município recebeu a segunda mulher prefeita, Lucimar Campos, que vem administrando o município de o ano de 2017.
(*) NEILA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotícias. E-mail: [email protected]
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