"A eleição de Trump traz um cenário de incertezas e tensões no comércio mundial. Além de declarar que não apoiará as iniciativas relacionadas ao tema da transição energética em direção a fontes limpas, o presidente anunciou que pretende elevar as tarifas de importações em 60% para a China, de 10% até 20% para outros países e, dependendo de negociações sobre emigração, em 25% para o México. Efeitos inflacionários, aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e valorização do dólar são alguns dos possíveis efeitos dessa medida que irão repercutir no resto do mundo. No caso brasileiro, um dos impactos seria a menor margem de manobra para reduzir juros", enumerou a FGV, no relatório do Icomex.
O documento lembra que os Estados Unidos são o segundo destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, a participação da China nas exportações brasileiras foi de 29,3%, e a dos Estados Unidos, 11,6%. A FGV lembra ainda que Trump, em seu primeiro mandato, impôs restrições a vários produtos siderúrgicos e de alumínio, incluindo os produzidos no Brasil.
"No campo do comércio, medidas unilaterais de proteção poderão ensejar um acirramento do protecionismo no mundo, o que reduzirá o crescimento do comércio mundial. Ainda há dúvidas se Trump irá impor esse aumento generalizado para todos os parceiros, fora a China, ou usará essa ameaça como arma para extrair vantagens como acesso a mercados ou alianças contra China", apontou a FGV.
No acumulado de janeiro a outubro de 2024, ante o mesmo período de 2023, o volume exportado pelo Brasil para os Estados Unidos cresceu 11,5%. As remessas para a China aumentaram 3,9%, e para a Argentina recuaram 24,1%. Na comparação mensal, em outubro de 2024 ante outubro de 2023, o volume exportado pelo Brasil para a China recuou em 10,2%, mas cresceu em 7,7% para os Estados Unidos, e aumentou 28,6% para a Argentina, graças às vendas de automóveis.
Considerando as exportações por atividades econômicas, o volume exportado pela indústria de transformação aumentou 7,9% em outubro de 2024 ante outubro de 2023.
"Esse resultado é influenciado pelo desempenho positivo das exportações para os Estados Unidos, concentradas na indústria de transformação. A participação da indústria nas exportações mundiais brasileiras caiu de 81,6% em 2001 para 54,3% em 2022 e a participação dessa indústria nas exportações para os Estados Unidos recuaram de 95,9% para 78,8%. Logo, os Estados Unidos seriam um fator que atenuaria a 'primarização da pauta de exportações do Brasil'", alertou a FGV.
O Icomex ressalta ainda que a pauta de exportações brasileiras para os Estados Unidos é mais diversificada do que para a China. De janeiro a outubro, os cinco principais produtos exportados para os Estados Unidos explicam 34% das exportações. Essa fatia sobe a 53% somando os 15 principais produtos exportados. No caso das exportações para a China, apenas três produtos - soja em grão, petróleo e minério de ferro - responderam por 77% das exportações brasileiras no acumulado de janeiro a outubro.
"O efeito das tarifas irá depender do nível inicial da tarifa, da dependência do mercado dos Estados Unidos e da possibilidade de desviar para outros mercados", disse a FGV, acrescentando que entre os 15 principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, há três da categoria siderúrgica cujas vendas ao exterior são majoritariamente para o mercado americano e menos do que 30 mercados alternativos, no momento.
"A venda de aviões se concentra nos Estados Unidos, mas é pouco provável que sofram elevadas taxações, além disso a Embraer tem uma fábrica nos Estados Unidos. Isso vale para os siderúrgicos, existência de fábrica, mas não impediu a taxação no primeiro mandato de Trump", lembrou a FGV.
O relatório do Icomex acrescenta que o impacto do futuro governo Trump sobre a balança comercial brasileira dependerá de quais tarifas sejam efetivamente aplicadas, mas também da possibilidade de o Brasil desviar suas exportações para outros mercados. Nos itens que o Brasil possui vantagens competitivas, como café, carne, celulose, petróleo e açúcar, as exportações brasileiras podem ser vendidas a outros mercados, como na Ásia.
"Em um mundo onde todos comecem a intensificar o uso de medidas protecionistas, desviar o comércio não será fácil. Ademais, como mostrou recentemente os acordos fechados com a China, aumento de acesso a mercados, como o caso das carnes, nem sempre é disponível", ponderou a FGV. "Por último é sempre lembrado o ganho brasileiro com a soja em função da retaliação chinesa em relação à soja americana. Como o Brasil compete com os Estados Unidos no setor da agropecuária, pode ser que ganhos adicionais ocorram. No entanto, aberturas preferenciais para os Estados Unidos podem também ser motivo de negociações com a China."
Em outubro, a balança comercial registrou um superávit de US$ 4,3 bilhões. No acumulado do ano, o Brasil alcançou um superávit de US$ 63,0 bilhões.
(Com Agência Estado)
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