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Cidades Domingo, 11 de Fevereiro de 2018, 14:50 - A | A

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Domingo, 11 de Fevereiro de 2018, 14h:50 - A | A

PROBLEMA CRÔNICO

"Não tenho força de vontade para largar as drogas", diz um dos inúmeros usuários do centro de Cuiabá

JESSICA BACHEGA

“Eu não tenho força de vontade, nem atitude para largas as drogas. Elas me tiram da minha realidade triste”. Esse é o depoimento forte de um dependente químico que é confesso ao dizer que não consegue largar o vício das drogas.

 

 

Alan Cosme/HiperNoticias

drogados/usuarios/centro

 

O homem é um, dos inúmeros usuários de entorpecentes que são figuras onipresentes no centro de Cuiabá. Mendigando alguns trocados ou praticando furtos e roubos, eles sobrevivem e sustentam o vício que consome a integridade física, psicológica e a dignidade.

 

A constante presença de usuários nas ruas da cidade é um problema crônico que se agravou nos últimos anos, como afirmam alguns comerciantes da região.

 

Ex-conviventes do Largo do Rosário, popularmente conhecida como Ilha da Banana, os moradores de rua se mudaram para casas improvisadas no alto do Morro da Luz. Os que não se enquadram na “tribo” do Morro estão espalhados pelo centro, abordando pedestres, pedindo dinheiro a motoristas em troca de “cuidar” dos veículos ou invadindo estabelecimentos.

 

Enquanto a reportagem do HiperNotícias buscava personagem para uma matéria do Centro Histórico de Cuiabá, um dos cuidadores de carros chegou próximo ao repórter-fotográfico Alan Cosme e pediu para ser fotografado. Ele logo puxou conversa e entre os devaneios, contou que é muito triste lembrar da casa que tinha, do carro bom e agora vê tudo como passado, pois mora na rua e luta diariamente para sobreviver.

 

O homem, que preferiu não se identificar, conta que foi parar na atual situação por causa de uma desilusão amorosa. Que havia encontrado uma mulher e se casado com ela. Porém, logo a companheira foi embora. Inconsolável, foi tratar o desatino usando crack. O entorpecente começou a ser o companheiro diário e o seu pilar de esteio.

 

“Eu não consigo controlar minhas emoções. Eu vou atrás dela todo dia, mas ela não me quer mais. Eu fico aqui ganhando meu dinheiro para comprar a droga e sair dessa realidade que vivo”, diz o homem, segurando um pequeno estojo vermelho, onde guarda um cachimbo e uma pedra da droga devassadora.

 

Questionado se algum dia, alguma assistente social da Prefeitura, Estado ou comunidade terapêutica o havia convidado para sair da rua e tentar a reabilitação, ele é irônico ao responder que não.

 

“Esse povo não investe nem em posto de saúde, vai cuidar de drogado? Só querem saber de roubar”, afirma.

 

O rapaz disse que de dia pede dinheiro para cuidar dos carros e a noite tem uma estratégia para dormir: ele entra em uma agência bancária de Várzea Grande, pouco antes das 22h quando as portas se fecham e permanece no interior até o dia amanhecer. “Lá tem ar condicionado. É muito mais confortável do que dormir na rua”, conta com sorriso no rosto e ar de esperteza.

 

“Eu uso isso aqui para preencher o vazio no coração”, conta o homem que disse ter 25 passagens criminais por roubo. “Eu tenho amor pela vida das pessoas. Não ando armado nem roubo ninguém. Sou Robin Hood. Só roubo loja, mercado, esse povo que tem dinheiro”, se explica. 

 

Logo ao lado do dependente, outra história se aproxima. Marcelo Santos hoje está em tratamento na Limiar Comunidade Terapêutica e passa o dia vendendo sacos de lixo. A noite, volta para a comunidade.

 

Ele se aproxima para oferecer o produto e conta que está na casa há cerca de quatro meses e que já passou por várias clinicas para se livrar da dependência das drogas e do álcool.

 

Marcelo tem 37 anos e diz que começou a ter contato com a droga quando acendia cigarros para os tios. Depois passou a usar entorpecentes e passou por todos eles até buscar recuperação.

 

O rapaz conta que passou a frequentar a igreja evangélica e que foi morar junto com uma das irmãs. Eles viviam bem até que a mulher quis se separar e passou a se relacionar com outro homem. 

 

“Eu tinha ajudado ela   a construir a casa e sai de lá. Não dava mais certo. Quando eu soube que ela estava com outro me deu vontade de dar uns socos nela, mas não fiz nada”, após a separação ele vive de clínica em clínica tentando se livrar do vício. “Não é fácil”, diz o homem que declama partes da bíblia que decorou a todos que aborda.

 

Beco do Candeeiro

Uma das ruelas mais conhecidas da Cuiabá de antigamente se transformou em “ponto de encontro” para consumo de entorpecentes e prostituição na Capital. É de conhecimento de grande maioria das pessoas que transitam pelo centro da cidade, a “fama” do local que há muito tempo está esquecido e se tornou uma mancha no centro histórico da cidade.

 

Dia e noite é possível avistar pessoas consumindo drogas no local, sem o menor pudor. Comerciantes da região dizem que muitas das pessoas invadem os estabelecimentos e furtam produtos. “De vez em quando a gente tem que correr atrás de um deles, porque eles pegam alguma coisa na loja”, diz a atendente de um dos comércios. 

 

Uma das últimas polêmicas envolvendo o beco foi a permanência de uma estátua em lembrança a chacina registrada no local, em 1998. Três adolescentes, usuários de drogas, foram mortos a tiros por policiais no beco. Algumas pessoas consideram o monumento, instalado na praça em frente ao beco, apologia à criminalidade. Já outros defendem que a obra é lembrança para que tal atentado contra a vida não se repita e cobra providências quanto às pessoas que usam drogas no local.

 

Bem próximo ao beco há uma base da Polícia Militar, porém a presença policial não inibe as ações criminosas na região em a presença dos usuários.

 

Tratamento

A prefeitura de Cuiabá informa que, apesar das constantes reclamações, o que pode fazer é convidar essas pessoas para abrigos onde receberão acompanhamento de uma assistente social. Porém, se eles não quiserem não há que o poder público possa fazer.

 

Quando a Ilha da Banana foi demolida, os dependentes químicos que estavam lá foram levados para casas de apoio. Porém logo voltaram para as ruas.

 

Conforme a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Betsey Miranda, é possível a internação compulsória. A medida é adotada quando a pessoa não tem mais condições de decidir sobre o que é melhor para si.

 

“Não como forçar a pessoa a sair do local. Se tirar ele de um espaço, vai para outro. Raramente busca ajuda sozinho. É preciso investir em segurança e acabar com a droga”, diz a advogada.

 

 

Os dependentes químicos que querem se afastar do vício recebem apoio nas comunidades terapêuticas existentes na Capital. Nos espaços eles recebem acompanhamento psicológico e desenvolvem atividades que contribuem para mantê-los longe das ruas e das drogas. 

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