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Artigos Sexta-feira, 25 de Setembro de 2020, 08:32 - A | A

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Sexta-feira, 25 de Setembro de 2020, 08h:32 - A | A

NEILA BARRETO

Maria Benedita Deschamps Rodrigues- Dunga Rodrigues

NEILA BARRETO

ARQUIVO PESSOAL

NEILA BARRETO

Maria Benedita Deschamps Rodrigues (Dunga Rodrigues) nasceu em Cuiabá-MT, aos 15 de julho de 1908, filha de Firmo José Rodrigues e Maria Rita Deschamps Rodrigues, neta de Bento José Ribeiro. Os primeiros estudos foram cursados junto ao tradicional Asilo Santa Rita, como aluna externa, e em seguida na Escola Modelo Barão de Melgaço. O ensino médio foi realizado no tradicional Liceu Cuiabano.  Diplomou-se em piano e harmonia pelo Conservatório Musical de Mato Grosso e pelo Conservatório Brasileiro de Música (RJ), com certificado registrado junto ao Instituto Villa Lobos. Formada contadora pela Escola Técnica de Comércio de Cuiabá, compositora, professora, educadora, pesquisadora, escritora, poetisa, além de exímia pianista.

Em uma Cuiabá antiga, com as suas ruas de chão batido, encobertas pelo mato agreste como tapete, a população cortava longas distâncias e as crianças se divertiam de todas as formas, num imenso jardim de sonhos. Era uma cidade pacata e sem o barulho dos carros e motores. Por ali circulavam carroças, carros-de-bois, carrinheiros, cavalos, vacas, bodes, cabras e outros animais domésticos. Nela, Dunga Rodrigues desfilava com maestria, participando de inúmeros eventos promovidos pelas mais variadas camadas sociais.

Visitava as amigas, participava das festas de pobres e ricos, desde que houvesse convite, e ali presenciava fatos ou ouvia relatos sobre eles, os quais tornavam vidas em suas mãos, na forma de música, crônicas, romances, contos envoltos em críticas recheadas de humor, pois, afinal, sempre foi uma criança curiosa, inteligente e vaidosa.

Dunga era fascinada por Cuiabá. Nela andava e passeava com um olhar colado no seu reino encantado, como as calçadas altas, bicas, fontes, os poços, os bancos do Jardim, coretos, o gasômetro, as escadarias, os armadores rangentes das redes, os portões, as cercas de arame farpado cobertas por melões de São Caetano, os trilhos do bonde, enfim, tudo povoava sua imaginação.  

Assim brotavam tantas produções, inclusive, as cantigas de roda, a exemplo desta, que ela descreveu assim: “Bom dia/Vossa senhoria/Manda/Lero, lero, lira. Bom dia/Manda/Liro, liro lá. /Que deseja/ Vossa Senhoria/Manda/Lero, lero liro/Que deseja/vossa senhoria/marmota [...].

As biqueiras dos calçados das crianças ficavam escalavradas de tanto jogar, de tanto brincar, de tanto liro, liro, lá! Mas também amarelinha, pulação de corda, malhação de Judas com limões, a subição em árvores, porque no fundo das casas cuiabanas sempre existiam imensos pomares. Em épocas de touradas, a criançada improvisava os brinquedos e se tornavam exímios toureiros. Quanta brincadeira Dunga testemunhou! Descobriu! Encantou! Lembranças da sua infância! Linda memória. Quantas recordações! Quantas saudades ali registradas. Quantos ensinamentos! Obrigada, Dunga. 

Além das cantigas de roda, participou e observou as brincadeiras de “cabra-cega”, o footing ao redor do coreto dos jardins e, consequentemente, “tirrim/fechou balaio”, dos quais muitos outros lugares que foram demolidos para dar lugar à “modernização” das cidades brasileiras.  Dunga ainda testemunhou inúmeros espaços das crianças que ficaram praticamente invisíveis em nossa cidade nos tempos atuais! No entanto, procurou reconta-los para as crianças que o mundo trouxe em seu processo de renovação da espécie.

Nossas crianças! Ah! Hoje, estão carentes das memórias de Dunga Rodrigues. Mudas, lentas, olhares perdidos, encabuladas, nervosas, apáticas, não brincam mais e não cantam “Fui no tororo/ beber água não achei”; Ciranda/cirandinha/ vamos todos cirandar...”, podemos até encontrar algumas acompanhadas dos seus avós reproduzindo as mesmas cantigas em diferentes regiões de Mato Grosso, mas não como antes. 

As cantigas de roda têm um grande papel para o desenvolvimento cultural e intelectual das crianças, uma vez que, além de transmitir, por meio de brincadeiras, costumes, folclore e crenças da sua cidade, inclusive, exploram o cotidiano, as vivências, as festas, a culinária e outros. 

E Dunga sabia muito bem disso! E contribuiu com isso, além de doar as suas habilidosas mãos fazendo-as produzir melodias, proporcionar prazer, bem-estar e, porque não dizer, saúde às pessoas que a cercavam. Logo foi sendo conhecida pelos seus belos dotes intelectuais e musicais. Quanta beleza você nos proporcionou, Dunga! 

Foi ela, assim, não apenas uma mulher, mas múltiplas mulheres com capacidade de transformar e amoldar o espaço onde viveu, deixando seus traços e marcas ao longo da história. Dunga também se engajou na fundação do Clube Feminino, do Mixto Esporte Clube (primeiro time de futebol profissional de Cuiabá), e foi colaboradora da revista A Violeta.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT, desde 4 de junho de 1977, ela integrou a Academia Mato-Grossense de Letras, tomando posse no dia 19 de setembro de 1984, ocupando a Cadeira nº 39, tendo, na ocasião, sido recepcionada pelo Acadêmico Antônio de Arruda, cujo discurso foi intitulado Dunga Plural, visto seus múltiplos talentos.  Faleceu no dia 8 de janeiro de 2001, aos 93 anos de idade, na cidade litorânea de Santos-SP, lúcida, comunicativa, saudável, bem-humorada, bonita e cheia de vida, um exemplo para os contemporâneos.

João Carlos Vicente Ferreira, na Enciclopédia Ilustrada de Mato Grosso, elenca os livros publicados por Dunga Rodrigues: Reminiscência de Cuiabá (1969); Lendas de Mato Grosso (1977); Os Vizinhos (1977); Marphysa (1981); Cuiabá: Roteiro de Lendas (1984); Uma aventura em Mato Grosso (1984); Memória Musical de Cuiabá (1985); Cuiabá ao longo de cem anos (1994); Movimento musical em Cuiabá (2000); Colcha de Retalhos (2000).

No último 23/09/2020, o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso lançou “Dunga Rodrigues”, uma homenagem aos 112 anos do seu nascimento sob a organização da professora Elizabeth Madureira Siqueira – Presidente do IHGMT.

 

(*) NEILA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]

 

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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